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Gêneros textuais: Narração

A narração é um dos gêneros textuais com que temos maior intimidade, pois todo mundo, com certeza, já escreveu a redação sobre “Minhas férias” em algum momento lá no Ensino Fundamental I. Escrever histórias (reais ou fictícias) é uma atividade que faz parte de nossas vidas e por isso não sentimos tanta dificuldade quando tratamos da narração.

Mas quando falamos da redação de vestibulares ou concursos, além de usarmos nossa habilidade quase natural de escrever histórias, precisamos prestar atenção na estrutura e nas características próprias desse gênero, já que algumas provas têm optado pelo texto narrativo enquanto tipo textual de sua redação, como a UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), a UFPR (Universidade Federal do Paraná), a UEL (Universidade Estadual de Londrina), a UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) e a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Hoje, vamos ver um pouco mais a fundo como funciona tecnicamente a narração.

Vamos lá. Basicamente, a principal função de um texto narrativo é a de contar uma história. Mas não é simplesmente só contar, você precisa contar a história de forma que o leitor se sinta dentro dela, consiga produzir imagens mentais a respeito do cenário, das personagens, das situações vividas etc.

Existem vários tipos de texto narrativo, como o conto, a crônica, a fábula, a lenda, o romance, entre outros. Cada um possui características peculiares que fazem com que uma narração seja diferente da outra, mas, independentemente desse fator, todo texto que pertence ao gênero narrativo tem elementos essenciais e comuns. Vamos vê-los? 

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Partes do enredo

O enredo é a história em si e ele também é dividido em parágrafos (a quantidade de parágrafos fica a critério do escritor ou já é preestabelecida pela banca corretora, no caso de vestibulares e concursos), cada parágrafo corresponde a uma parte da história.

O primeiro parágrafo ganha o nome de situação inicial (ou apresentação/introdução) e é aqui que vamos apresentar as personagens (ao menos o/a protagonista), o cenário (onde a história se passa), o tempo (mesmo que não haja uma data definida, precisamos dar uma referência se o enredo irá se passar no passado, presente ou futuro) e principiar os fatos da história em si. Às vezes, podemos utilizar mais de um parágrafo para desenvolvermos essas informações fundamentais.

Como exemplo, vamos observar os dois primeiros parágrafos do texto O Homem Nu, de Fernando Sabino.

“Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa.  Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.”

Fonte: www.releituras.com/ Acesso em 14/01/2020.

Note que em quatro linhas conseguimos perceber quando a história acontece (pela manhã, tempo: presente), quem são as personagens principais (marido e mulher) e qual é o fato principal da história (o homem precisa pagar a prestação da televisão, mas não tem dinheiro em casa para isso).

Após a situação inicial, temos a complicação (ou conflito) e na complicação é justamente isto que ocorre: a situação fica complicada, ou seja, tudo estava na mais santa paz, até que algo ocorre e perturba esse estado de paz, gerando um problema. O problema precisa estar intimamente relacionado ao assunto do enredo, caso contrário, a história será incoerente.

Vamos continuar aprendendo com o texto de Fernando Sabino, vendo em que parte se dá a complicação de O Homem Nu.

“Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.”

O problema da narrativa acima começa no momento em que o homem, estando nu por conta do banho que ia tomar, fica preso para o lado de fora de seu apartamento.

Depois da complicação, temos o momento de maior tensão do enredo, aquele que prende nossa atenção (e a parte em que os capítulos das novelas costumam acabar, gerando mistério). A essa parte damos o nome de clímax. Em textos narrativos mais longos, como romances, podemos ter mais de um clímax, já no caso das crônicas, nem sempre há a presença do clímax.

Vamos dar uma olhadinha no clímax de Um Homem Nu.

“— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.

Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso.  — Imagine que eu…

A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

— Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

— Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

— É um tarado!

— Olha, que horror!

— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!”

O protagonista passa a andar pelo prédio totalmente despido, estando protegido apenas por um pão para cobrir suas partes íntimas. Os vizinhos começam a vê-lo caminhando nu pelos corredores e uma das senhoras resolve chamar a polícia.

A conclusão de um texto narrativo leva o nome de desfecho. No desfecho, as situações são finalizadas e resolvidas, de forma positiva ou negativa. No caso específico de redações de vestibulares, é muito importante que você não deixe sua narração sem desfecho, como pode acontecer em algumas situações em que haverá a “parte II”. Lembre-se: você não terá oportunidade de conseguir finalizar seu enredo num outro momento e o leitor (aqui, avaliador) precisa entender como sua história termina.

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Em O Homem Nu, o enredo finaliza da seguinte forma:

“Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão.” 

Depois de muito correr e tentar se esconder por conta de sua nudez, o protagonista consegue entrar novamente em seu apartamento, mas é surpreendido pelo cobrador da televisão.

  • Narrador e foco narrativo

Uma das grandes características do gênero da narração é a presença de um narrador. Existe mais de uma forma de se construir o narrador. As mais usuais são:

  • Narrador-personagem

O narrador participa da história e a conta com base em seu ponto de vista, por conta disso, o enredo pode ser tendencioso. É possível que o narrador- personagem seja o próprio protagonista.

Com narradores-personagens, o enredo é escrito em primeira pessoa do singular.

  • Narrador onisciente

O narrador onisciente é aquele que sabe o que todas as outras personagens estão fazendo e, inclusive, o que pensam. Podemos ter também um narrador onisciente e onipresente (que está em todos os lugares ao mesmo tempo) e o texto admite a forma tanto da primeira quanto da terceira pessoa do singular.

  • Narrador observador

Por narrador observador, entendemos que ele não participa da história e é imparcial. Desconhece o íntimo das personagens e sua forma é apenas na terceira pessoa do singular.

  • Personagens

Os personagens dividem-se entre personagens principais, incluindo o protagonista (em torno de quem o enredo gira) e o antagonista (personagem que se opõe às ações do protagonista e cria problemas a ele) e secundários, importantes para auxiliar na construção das situações da narrativa.

Quando os personagens são seres humanos, precisamos incluir em suas características uma esfera física (altura, cor da pele, dos cabelos, dos olhos, peso etc.) e emocional (personalidade, intenções, caráter etc.).

  • Tempo

O tempo em que um texto do gênero narrativo se passa pode ser cronológico, obedecendo à ordem natural em que os fatos ocorrem ao longo dos dias, meses e anos, ou psicológico, baseado nas lembranças do protagonista, sem precisar seguir a organização estabelecida pelos dias, semanas etc.

  • Espaço 

Da mesma forma que o tempo, o espaço também tem duas divisões. Ele pode ser físico ou psicológico, quando faz referência às memórias das personagens.

Para que seu texto narrativo seja coerente e interessante, um recurso bastante útil é a descrição. É por meio dela que você vai conseguir fazer com que o leitor se sinta dentro da história e possa criar mentalmente o cenário, as personagens e as situações da maneira como você idealizou. É quase como construir uma novela dentro da cabeça do leitor usando os detalhes fornecidos pela descrição.

Como queremos que você tire aquele notão maravilhoso, vamos incluir uma listinha de dicas para você mandar muito bem no texto narrativo.

  • Planeje seu texto: não importa qual é o tipo de texto, o planejamento é sempre uma etapa fundamental para o sucesso dele.
  • Seja coerente: analise se realmente você está contando a mesma história do início até o final do texto, pois é comum nos perdermos em estruturas narrativas.
  • Tenha atenção na construção das ações e pensamentos das personagens: não se esqueça de que tudo aquilo que a personagem faz e pensa precisa ter sentido e combinar com seu perfil, com suas características físicas e psicológicas.
  • Não exagere nos detalhes: uma descrição bem-feita é essencial para sua história, mas detalhes em excesso podem cansar o leitor e dar a impressão de “encheção de linguiça”.
  • Revise a narração criticamente: olhe para sua história com “olhos de leitor” e analise se, de fato, sua redação está clara, coerente e interessante.

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Pronto (a) para arrasar na contação de histórias? Bora lá pensar em várias narrações incríveis de encher os olhos e a mente dos avaliadores.

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