Como a sua redação não é Grey’s Anatomy ou Supernatural, que parecem que não acabam nunca, você precisa dar um fim pra ela. A gente sabe que encerrar coisas nem sempre é fácil, mas vamos te ensinar a passar por esse momento difícil com tranquilidade. Tá bom, chega de repetir a fala dos nossos terapeutas e vamos falar do que interessa: conclusão.
Tão comum quanto ouvirmos “eu não sei como começar” é ouvirmos “eu não sei como terminar”. Por isso, mais uma vez, a gente tá aqui pra te mostrar que, assim como no planejamento, na introdução e no desenvolvimento, é tudo uma questão de técnica.
Tá, ok, apenas dizer que ‘é questão de técnica” não te tranquiliza muito, né? Mas, como aqui, no Redação Online, a gente mata a cobra e mostra o pau (desculpem, às vezes baixa o tiozão do pavê na gente), vamos provar pra você que é bem desse jeitinho, mesmo. Se liga:
1) Saiba com o que você está lidando
Tá aí um conselho que serve pra tudo na vida, mas vamos focar na redação. Você toma remédio pra dor de barriga na esperança de se curar de um resfriado? Não dá, bebê. Então, fique ligado: para fazer uma boa conclusão, é preciso saber de que tipo de dissertação e de que tipo de tema estamos falando.
Podemos imaginar a sua carinha lendo isso:
O que acontece é o seguinte: há bancas que constroem propostas de redações pautadas em temas bem objetivos e geralmente de cunho social, como a banca do ENEM, por exemplo. No entanto, também podemos encontrar bancas que fazem propostas compostas por temas subjetivos, como a banca da UFRGS, que já propôs redação sobre a importância da amizade.
E que diferença isso faz na hora de construir a conclusão? Toda. Afinal, conclusões de redações de temas objetivos requerem soluções para um determinado problema, enquanto, nas redações de temas subjetivos, dificilmente vai ser possível fazer isso. Ou até rola fazer, mas de um jeito bem mais raso. E tá tudo bem, certo? Se você, de antemão, conhecer o perfil da banca e estudar as provas anteriores, não tem crise, afinal, já vai saber o que te espera e vai se preparar adequadamente.
Além disso, a gente não pode se esquecer de um detalhe: a redação do ENEM tem aquela conclusão diferentona, com a tal proposta de intervenção. Tá bom, a gente sabe que ela não precisa estar necessariamente na conclusão, mas, para uma melhor organização textual, a gente te indica que a coloque lá. Mais do que isso: a gente te ensina a fazer uma boa proposta.
2) A famigerada proposta de intervenção do ENEM
Não adianta fazer cara feia pra proposta de intervenção. O jeito é arregaçar as mangas e entender como funciona a danadinha. Mas, para acalmar o seu coração, vamos te dizer uma coisa: seu desconforto com a competência 5 é natural, afinal, a matriz de referência não é lá muito clara sobre o que se espera, e, na escola, não foi assim que nos ensinaram a fazer conclusão. Mas bora lá desvendar os mistérios dessa competência com a gente.
Antes de mais nada, é preciso que se reconheça que o ENEM, desde sua criação, propõe temas socais para a sua redação, visando promover discussões e reflexões importantes acerca do país e do mundo. E a competência V nada mais é do que o ponto principal dessa característica particular do exame, visto que ela exige que o aluno reflita sobre o problema apontado e construa uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos e que promova uma mudança efetiva na realidade.
Resumidamente, a gente costuma dizer que, para entendê-la, imagine que seu chefe pediu a resolução de um problema e ela precisa estar prontinha para executar, sem faltar nenhum detalhe. Dessa forma, não basta apenas sugerir, na conclusão, que “precisamos mudar essa situação” (essa é clássica, não? Hehehe), uma vez que se trata de uma sugestão muito vaga. Vamos, então, para a pergunta que não quer calar: como faz?
3) Botando a mão na massa
Bem, vamos por partes:
- Em primeiro lugar, a gente não pode esquecer que, assim como as outras partes do texto, a conclusão também exige uma organização específica. Então, para que ela fique lindona, é importante sempre lembrar que ela deve ser construída em um parágrafo só e ter a seguinte estrutura:
conexão (escolha um conectivo conclusivo bacaninha)
+
reafirmação da tese (ó, ela aqui outra vez)
+
solução do problema relacionado à tese.
- Além disso, sendo no ENEM ou não, jamais cometa o erro de inserir informações novas na sua conclusão. Lembre-se que ela está ali para concluir o que já foi dito. Então, eu sei que você não aguenta mais ler a gente falando sobre planejamento de texto, mas olha ele aqui outra vez: planejar a redação evita que você cometa o erro acima, pois a construção do texto vai ser baseada em um roteiro que você já fez, e não no seu fluxo de ideias.
- Para ganhar aqueles 200 pontos marotos na competência V, você precisa trazer, na sua conclusão, 5 elementos:
Ação (o que faz?), agente (quem faz?), modo/meio (como faz?),
efeito ou objetivo pretendido (para quê?)
e detalhamento de um dos elementos acima
- Viu como tem que ser algo bem completinho? A falta de um desses elementos faz com que você não atinja a pontuação máxima, então, a gente tá aqui pra evitar que isso aconteça e te mostrar uns exemplos lindões. Espia:
“Portanto, indubitavelmente, medidas são necessárias para resolver esse problema. Cabe ao Ministério da Educação criar um projeto para ser desenvolvido nas escolas o qual promova palestras, apresentações artísticas e atividades lúdicas a respeito do cotidiano e dos direitos dos surdos, – uma vez que ações culturais coletivas têm imenso poder transformador – a fim de que a comunidade escolar e a sociedade no geral – por conseguinte – conscientizem-se. Desse modo, a realidade distanciar-se-á do mito grego e os Sísifos brasileiros vencerão o desafio de Zeus.”
Quem é quem:
Conexão/ conectivo conclusivo: “Portanto”.
Reafirmação da tese: “medidas são necessárias para resolver esse problema”. O “esse” retoma a tese, que delimitou um problema específico.
Agente: Ministério da Educação.
Ação: “criar um projeto para ser desenvolvido nas escolas”.
Modo/meio pelo qual será feita a ação: “palestras, apresentações artísticas e atividades lúdicas a respeito do cotidiano e dos direitos dos surdos”
Detalhamento (nesse caso, detalhou-se o modo/meio, que são ações culturais): “uma vez que ações culturais coletivas têm imenso poder transformador”
Efeito/objetivo: “a fim de que a comunidade escolar e a sociedade no geral – por conseguinte – conscientizem-se”
Viu como não é nada impossível? No fim, a candidata, que tirou nota mil na redação, ainda trouxe um bônus para o seu corretor. Ela retomou uma referência usada na introdução, o que deixou o seu texto ainda mais redondinho. Então, fica a dica, bebê. Aqui você consegue ver o texto na íntegra: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2017.ghtml
Mais um exemplo:
“É evidente, portanto, que há entraves para que os deficientes auditivos tenham pleno acesso à educação no Brasil. Dessa maneira, é preciso que o Estado brasileiro promova melhorias no sistema público de ensino do país, por meio de sua adaptação às necessidades dos surdos, como oferta do ensino de libras, com profissionais especializados para que esse grupo tenha seus direitos respeitados. É imprescindível, também, que as escolas garantam a inclusão desses indivíduos, por intermédio de projetos e atividades lúdicas, com a participação de familiares, a fim de que os surdos tenham sua dignidade humana preservada.”
Quem é quem:
Conexão/ conectivo conclusivo: “portanto”
Reafirmação da tese: “há entraves para que os deficientes auditivos tenham pleno acesso à educação no Brasil”.
Agente: “Estado brasileiro”.
Ação: “promova melhorias no sistema público de ensino do país”.
Modo/meio pelo qual será feita a ação: “por meio de sua adaptação às necessidades dos surdos”.
Detalhamento (nesse caso, detalhou-se o modo/meio, que é a adaptação às necessidades dos surdos): “uma vez que ações culturais coletivas têm imenso poder transformador”.
Efeito/objetivo: “como oferta do ensino de libras, com profissionais especializados”.
Proposta simples, objetiva e completa. Uma lindeza. Notem que há uma segunda proposta, que também tá uma belezinha, mas é desnecessária. Pode fazer uma só, beleza?
4) Dicas finais:
Fique muito ligado nos Direitos Humanos. Se você feri-los, vai zerar a sua proposta de intervenção e começar o jogo com 200 pontos a menos. Outra coisa muito importante é ficar atento aos agentes escolhidos para executar a ação. É preciso determinar claramente um agente. Mesmo que você seja muito fã do James Bond, seu agente não pode ser secreto.
O que isso significa? Nada de usar agentes indeterminados, como “nós”, e verbos no imperativo, como “deve-se”. Quem é nós? Quem deve? Não fica claro.
Fuja, também, das ações subjetivas, como “conscientizar”, ok? O mesmo vale para orações condicionais. Exemplo: “se fizermos tal coisa, o país vai melhorar”. O lance é ser objetivo e claro, combinado?
Para finalizar, convém lembrá-los de uma última coisa: a proposta de intervenção é uma competência que pode ser feita em um simples parágrafo e que, sozinha, vale 200 pontos. Por isso, continuaremos sendo chatos e pegando no seu pé para que você não desperdice pontos. Não é pessoal, não. O Redação Online só quer o seu bem.
Aqui terminamos de textos da série Redação por Partes. Se você não leu os últimos textos e não sabe fazer aquela redação no capricho, ou quer dar uma relembrada, deixamos aqui pra vocês os outros textos. E isso é tudo, pessoal. Agora é só enviar a redação pra gente corrigir 🙂