Você já ouviu falar sobre “jeitinho brasileiro” e corrupção? O termo é o nosso tema da semana!
Leia os textos motivadores a seguir e, com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema “Jeitinho Brasileiro” e a corrupção.
Após ler a proposta, confira uma lista de repertórios socioculturais que preparamos sobre o tema!
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Texto 1- Jeitinho brasileiro: da criatividade à corrupção
No livro “O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros”, Livia Barbosa mostra a ambiguidade do conceito:
“ […] o jeitinho é sempre uma forma “especial” de se resolver algum problema ou situação difícil ou proibida; ou uma solução criativa para alguma emergência, seja sob a forma de conciliação, esperteza ou habilidade. Portanto, para que uma determinada situação seja considerada jeito, necessita-se de um acontecimento imprevisto e adverso aos objetivos do indivíduo. Para resolvê-la, é necessária uma maneira especial, isto é, eficiente e rápida, para tratar do ‘problema’.”
Neste mesmo livro, Barbosa traz outro ponto interessante. O jeitinho brasileiro pode ser visto tanto como um favor, quanto como uma forma de corrupção. Segundo a autora, ele estaria localizado entre esses dois polos, onde o primeiro é positivo e o outro é negativo, podendo pender mais para um lado ou para o outro. O que caracterizaria o jeito como algo positivo ou negativo depende da situação em que ele ocorre e a relação que existe entre as pessoas envolvidas.
Digamos, por exemplo, que você pediu para que uma pessoa fizesse um favor para você. Até aí não vemos nenhum problema. Podemos pensar que essa pessoa é sua amiga, tornando a situação mais comum ainda. Mas vamos supor que esse seu amigo seja um funcionário do DETRAN e você irá perder sua CNH por dirigir em alta velocidade. Ou seja, o que era um simples favor começa a se caracterizar como algo ilegal. Isso demonstra os dois pontos: como o favor começa a pender para o polo negativo, a depender da situação, e como a relação entre os indivíduos envolvidos é um fator que contribui para o jeitinho.
Fonte: MUGNATTO, Gabriel Carvalho. Jeitinho brasileiro: da criatividade à corrupção. Politize!, 2017. Disponível em: politize Acesso em: 28 abr. 2022.
Texto 2 – O que há de corrupção no jeitinho brasileiro?
A crise fez muitos brasileiros questionarem o que há de corrupção em seu próprio dia a dia – se políticos e empresários envolvidos em escândalos estariam apenas repetindo, em maior escala, aquilo que já seria parte do cotidiano. Em discussão, o chamado “jeitinho”, termo amplo que pode ser entendido positiva ou negativamente, e que, para alguns, é terreno fértil para a corrupção sistêmica.
Mas, para pesquisadores ouvidos pela DW Brasil, esta correlação precisa ser analisada com cautela, e é difícil determinar uma relação de causa e efeito. Enquanto para uns o jeitinho pode estar intimamente ligado à corrupção em larga escala, outros contestam o termo até como algo exclusivamente brasileiro.
“Centro da corrupção sistêmica”
O historiador Sidney Chalhoub, da Universidade de Harvard, destaca a origem histórica do jeitinho, ligada à formação escravista da sociedade brasileira, numa época em que a única maneira de se conseguir algo era pedindo favores aos senhores de terra e escravos. Essa prática, em vez de desaparecer, perdurou e combinou-se com outras lógicas.
“O jeitinho e o favor estão no centro de como a corrupção se tornou sistêmica no país”, avalia Chalhoub. O historiador pondera, porém, a existência de leis e regulamentos impossíveis de serem cumpridos no Brasil. Nestes casos, o jeitinho seria uma questão de sobrevivência, por exemplo, para a grande parte da parcela da população que trabalha no mercado informal.
“Pessoas em situações de subordinação e dependência não têm alternativa para lidar às vezes com regras absurdas, por isso, tendo a reservar uma tolerância ao jeitinho para os oprimidos, que não criaram o sistema que os submete à necessidade de sobreviver nessa condição. Para empreiteiros, governos e juízes, o jeitinho não tem desculpa”, opina.
[…]
“Presente em qualquer lugar”
Já o sociólogo Sérgio Costa contesta o jeitinho como característica própria da sociedade brasileira. Para o pesquisador do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim, a interpretação e negociação de normas existentes ocorre em qualquer sociedade moderna, inclusive na Alemanha.
“As normas – sejam aquelas inscritas nos códigos sociais, sejam as definidas no corpo legal vigente – servem de orientação geral, mas só ganham concretude e efetividade quando são interpretadas e negociadas nas relações concretas”, argumenta.
Costa ressalta que a corrupção é diferente do jeitinho ao visar troca de vantagens e facilidades para a obtenção de benefícios próprios. Se por um lado a negociação de normas fortalece a coesão e solidariedade, avalia, a corrupção é nociva aos laços sociais por representar uma quebra de confiança.
“Não me parece que o jeitinho seja o pai da corrupção sistêmica. Enquanto o primeiro faz parte das relações interpessoais cotidianas e torna as normas algo experenciado e vivido, a corrupção tem lugar na interface entre política e economia e visa não negociar, mas violar as normas para distribuir recursos públicos, indevidamente, a atores privados”, conclui Costa.
“Correlação superficial e nociva”
O pesquisador Mads Damgaard, da Universidade de Copenhagen, também rejeita a relação entre jeitinho e corrupção. “Essa conexão é superficial e nociva, pois projeta uma imagem ou uma identidade de uma nação perpetuamente atolada na política de coronéis e no nepotismo. Essa percepção reprime mudanças sociais, induz a apatia e justifica casos de corrupção sistêmica e individual ao propor uma explicação cultural falha”, opina.
O especialista em estudos interculturais argumenta que o jeitinho categoriza várias situações diferentes, como flexibilidade de interpretação de normas sociais, transgressão de regras ou ainda a troca de favores pessoais e, por isso, não está convencido da utilidade de rotular ações com esse estereótipo, como percebe o termo.
“Estereótipos têm poderes enormes. No caso do jeitinho, ele funciona como desculpa, explicação e exceção, tudo ao mesmo tempo. Na minha opinião, questões de rede, laços fortes ou fracos, burocracia e discurso moral se confundem e se tornam confusas com essa rotulagem”, acrescenta Damgaard.
Fonte: NEHER, Clarissa. O que há de corrupção no jeitinho brasileiro? DW, 2017. Disponível em: dw.com. Acesso em: 28 abr. 2022.
Texto 3 – Corruptos e corruptos
Fonte: Charge de Baggi. Disponível em: antonio assiss. Acesso em: 28 abr. 2022.
Repertórios para o tema “Jeitinho Brasileiro” e a corrupção
E aí, o que achou do tema “Jeitinho Brasileiro” e a corrupção? Antes de praticar a redação, confira os repertórios socioculturais que listamos a seguir. Eles podem ajudar você a entender melhor sobre o tema e até mesmo fundamentar a sua redação. Boa leitura!
Livro | Macunaíma, de Mário de Andrade (1928)
“Macunaíma” é um livro escrito por Mário de Andrade, publicado em 1928, e é considerado um dos romances modernistas mais importantes da literatura brasileira. O livro aborda a formação do povo brasileiro e o seu personagem principal – o “herói sem nenhum caráter” que dá nome ao livro – representa muitas características do “jeitinho brasileiro”.
Vídeo | A corrupção e a sociedade brasileira
Neste vídeo, a professora de antropologia da USP Lilia Schwarcz e a professora de história da UFMG Heloisa Starling discutem sobre as raízes da corrupção no Brasil. Confira:
Série | Filhos da Pátria (2017)
A série brasileira de comédia “Filhos da Pátria”, criada por Bruno Mazzeo e Alexandre Machado, conta a história de Geraldo Bulhosa, um funcionário público do Paço Imperial que é influenciado a tomar atitudes desonestas no trabalho. A série critica o “jeitinho brasileiro” que teria se originado após a independência do Brasil. Disponível na Globo Play.
Filme | Três verões (2018)
O filme “Três verões” (2020), de Sandra Kogut, retrata o jeitinho brasileiro e a corrupção. A história gira em torno de uma família rica e da empregada Madalena, que sonha em comprar um terreno para abrir seu próprio negócio. Por conta disso, ela pede dinheiro emprestado do patrão para ser descontado todo mês do seu salário, mas acaba sendo envolvida em seus negócios. Assista ao trailer a seguir:
Personagem Walt Disney | Zé Carioca
Outro repertório possível para esse tema é o personagem da Walt Disney Zé Carioca. Lembra dele? O personagem, criado no começo da década de 1940, reforça o estereótipo nacional por ser retratado como um papagaio malandro e cordial, que sempre escapa dos problemas com o “jeitinho brasileiro”. Vale a pena procurar sobre a sua história!
Gostou da proposta de redação da semana? Queremos muito saber o seu ponto de vista sobre o tema! Escreva a sua redação sobre “Jeitinho Brasileiro” e a corrupção e envie em nossa plataforma que corrigimos em até 3 dias úteis!
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Perguntas frequentes
É comum associar o “jeitinho brasileiro” a corrupção, mas nem sempre se trata disso. A expressão se refere ao jeito improvisado que os brasileiros possuem de fazer determinadas coisas. Entretanto, a associação à corrupção não é necessariamente incorreta, uma vez que, esse improviso acontece, em muitos casos, para resolver questões legais e até mesmo quebrar as regras do ordenamento brasileiro.
Ao falar sobre o “jeitinho brasileiro” em uma redação, é importante ter em mente o que é positivo e o que é negativo desta atitude. Vale começar falando que não necessariamente esse modo de agir estará ligado a corrupção, mas trazer o ponto de que muitas vezes está. Ou então, pode começar dando exemplos de uso o “jeitinho brasileiro”, ou ainda, trazer um conceito histórico para este comportamento.
Não existem comprovações sobre as causas do “jeitinho brasileiro”, mas cientistas políticos, historiadores e outros pesquisadores das áreas humanas apontam como alguns dos fatores a fragilidade econômica do país, o fato de o país ter nascido a partir da exploração, a natureza humana que é corrupta ou ainda a formação cultural do povo.
Os pontos positivos do “jeitinho brasileiro” estão na criatividade, a maneira como é possível resolver as coisas com facilidade e até mesmo, o improviso em momentos difíceis. O ponto negativo é que este jeito de ser é comumente utilizado para a corrupção.