TEMA DE REDAÇÃO – ENEM 2019 : Democratização do acesso ao cinema no Brasil

Democratização do acesso ao cinema no Brasil

No dia da primeira exibição pública de cinema – 28 de dezembro de 1895, em Paris -, um homem de teatro que trabalhava com mágicas, Georges Mélies, foi falar com Lumière, um dos inventores do cinema; queria adquirir um aparelho, e Lumière desencorajou-o, disse-lhe que o “Cinematógrapho” não tinha o menor futuro como espetáculo, era um instrumento científico para reproduzir o movimento e só poderia servir para pesquisas. Mesmo que o público, no início, se divertisse com ele, seria uma novidade de vida breve, logo cansaria. Lumière enganou-se. Como essa estranha máquina de austeros cientistas virou uma máquina de contar estórias para enormes plateias, de geração em geração, durante já quase um século?

BERNARDET, Jean-Claude. O que é Cinema. In BERNARDET, Jean- Claude; ROSSI, Clóvis.O que é Jornalismo, O que é Editora, O que é Cinema. São Paulo: Brasiliense, 1993. 

Exemplo

        Criticado por teóricos da Escola de Frankfurt como Adorno e Horkheimer por ser intrinsecamente ligado ao papel mercadológico da Indústria Cultural, o cinema é, notadamente, um dos elementos culturais mais ímpares do mundo contemporâneo. Entretanto, o Brasil enfrenta dificuldades em garantir a viabilização dessa prática de maneira universal devido, principalmente, a ineficácia governamental e o distanciamento entre ambiente escolar e a realidade.
        Em primeiro plano, é relevante abordar que, apesar do Brasil estar inserido em um mecanismo econômico capitalista com tendências a redução das responsabilidades estatais, a negligência governamental ainda assim não é justificável. Esse fato, quando analisado sob ótica econômica de liberais como Mises e Hayek, apresenta-se como crassa violação ao Princípio do Dano, que coloca como dever estatal atuar em áreas nas quais o mercado não pode. Dessa forma, a baixa taxa de existência de cinemas em regiões historicamente segregadas – como o Norte e o Nordeste – configura-se como uma supressão do direito à cultura garantido na Constituição Federal de 1988.
      Ademais, concomitantemente a essa dimensão política, quando o teórico da educação como processo cultural e social Lev Vygotsky afirma que a escola não pode se distanciar dos aspectos da vida cotidiana daqueles que a frequentam, corrobora-se a necessidade de inserir eixos temáticos relacionados a importância do cinema na abordagem do ensino básico. Apesar disso, a educação brasileira não o faz de maneira efetiva, tendo em vista que, quando o faz, se trata de um processo meramente passivo de transmissão de filmes restrita aos alunos sem a reflexão acerca do papel do cinema na formação cultural.
       Portanto, cabe ao Ministério da Educação, juntamente ao Ministério da Cidadania, fomentar a utilização de espaços escolares como salas, auditórios e quadras como cinemas comunitários, por meio do aproveitamento da existente estrutura de cadeiras e projetores. Essa ação deve ser feita almejando viabilizar a difusão desse tipo de ambiente em regiões de inviabilidade mercadológica e, assim, efetivar o promulgado na Constituição Federal e democratizar o cinema no Brasil.