Um artigo definitivo sobre a competência 1 do Enem – essa era nossa ideia para esta semana no blog. E não é que saiu melhor que o esperado?! Veja com seus próprios olhos!
Será que você domina os principais assuntos para obter a nota máxima na competência 1?! Será?
Gramática e linguagem são seu forte?
A competência 1 do Enem envolve gramática e linguagem. Redação com nota máxima na competência 1 (200 pontos) não pode ter mais de 1 desvio de gramática ou linguagem, já fica avisado.
Depois de passar pelos testes abaixo, já vai dar para saber se você conseguiria a nota máxima na competência 1 do Enem.
Modalidade escrita formal do Português usada na competência 1
A escrita formal da Língua Portuguesa é aquela que você usaria para falar com um professor que não é seu conhecido (é mais fácil entender dessa forma!).
O contrário da escrita formal é a escrita em forma de colóquio. Colóquio significa um bate-papo informal. A escrita em forma de colóquio se chama coloquial, e a redação do Enem não é hora de usar esse tipo de escrita.
Vamos testar isso… o que é coloquial no trecho abaixo?
- O mundo tá muito violento, tem gente que se irrita por nada.
“tá” é coloquial – na escrita formal use “está”.
“tem gente” é coloquial – na escrita formal use “há gente”.
Outro teste? Descubra o que é coloquial abaixo:
- Deve ser feita uma força-tarefa para não só libertar os trabalhadores em situação análoga à escravidão, mas também pegar os responsáveis
A expressão coloquial é “pegar os responsáveis”!
“Pegar os responsáveis” é agarrá-los (talvez pelo pescoço!) – não é assim que a gente fala quando está meio irritado?
“Pegar” não é a palavra ideal ali: o sentido que o candidato queria dar é “punir”, “descobrir” ou “deter”.
O quanto você domina a Língua Portuguesa em sua modalidade formal tem a ver com léxico e a gramática, claro. Léxico é o conjunto de palavras que você tem no seu cérebro, que carregam sentidos.
Mas não é só isso: a fluidez do seu texto também entra nesta competência e aí entra a estrutura sintática.
Estrutura sintática
O que é fluidez da sua redação?
Sabe quando você lê um texto e precisa voltar para reler, porque parece que você “tropeçou” em alguma ideia? Ou simplesmente não entendeu o que estava escrito?
Esse é um texto nada fluido…
Quando um texto é fluido, é fácil lê-lo. Nele uma coisa leva à outra suavemente. Texto fluido tem uma estrutura sintática ótima.
Uma redação mediana na competência 1 tem características de alunos com pouco treino, que só sabe escrever com uma estrutura.
Compare os dois trechos abaixo e decida qual tem a melhor estrutura sintática:
- A manipulação na internet é feita principalmente através das fake news. Segundo Max Weber, a dominação carismática se dá por meio de discursos e promessas utópicos. Estes garantem o apoio das massas sociais. As notícias falsas são utilizadas com a mesma finalidade no contexto político. É assim que o comportamento das pessoas se torna manipulável.
- Grande parte dos usuários da internet não tem orientação acerca de um uso consciente desse meio, daí acessarem dados sem transparência, o que interfere diretamente na formação do indivíduo como cidadão pensante. Assim é que temos a falta de orientação acerca da importância da informação verdadeira como resultado da falta de instrução geral e a utilização do meio cibernético.
Ambos os trechos estavam suficientemente claros, não estavam?
Mas um deles foi mais agradável de ler, mais fluente.
Foi o trecho 2!
O trecho 1 tinha uma sequência de frases bem simples, uma colada após a outra, sem subordinação entre elas.
Já o trecho 2 tem ideias subordinadas entre si, e não frases truncadas.
A leitura como hábito é o segredo de quem consegue essa fluência. É pela leitura que o cérebro absorve todo tipo de formas de escrita. Assim sua redação não fica pobre e limitada.
Pontuação x estrutura sintática
Quase sempre a estrutura sintática com problemas de fluidez tem alguma falha na pontuação. Por isso vamos detalhar mais esse aspecto.
Veja o que não está bom na sintaxe do exemplo abaixo:
- É fundamental que o poder Legislativos ofereça outros tipos de pena para crimes considerados leves como ajuda comunitária para que iniba a superlotação dos presídios e deem oportunidade à reinserção social. Dessa forma, fazendo com que saiamos da inércia que foi proposta.
A frase “Dessa forma, fazendo com que a Nação brasileira saia da inércia que foi proposta e comece a fazer progresso.” não tem sentido nenhum. Se você duvida, tente falar essa frase para um colega e veja a cara dele…
Claramente ela faz parte de uma sequência, ela é subordinada a outra, não poderia estar assim isolada, truncada.
Uma vírgula antes dela resolveria o problema, assim:
“É fundamental que o poder Legislativo ofereça outros tipos de pena para crimes considerados leves como ajuda comunitária para que iniba a superlotação dos presídios e deem oportunidade à reinserção social, dessa forma, fazendo com que saiamos da inércia que foi proposta.”
Portanto, truncar períodos é uma falha comum que pode inutilizar pedaços inteiros de sua redação sem você perceber. E tem quase sempre relação com pontuação, mas afeta a sintaxe toda.
Agora a coisa muda um pouco na fluência, descubra o que está errado neste trecho:
- Hoje a internet é o maior meio de comunicação existente no mundo é de se esperar que a maioria dos jovens estejam sendo controlados por ela.
Pois é, também existe o oposto: períodos (ideias) que precisariam ser separados e ficam justapostos.
Basta ler em voz alta o trecho e vê-se como um ponto ia bem separando o trecho em duas partes, assim:
Hoje a internet é o maior meio de comunicação existente no mundo. É de se esperar que a maioria dos jovens estejam sendo controlados por ela.
É tudo uma questão de o candidato treinar (escrever redações semanalmente e ter um professor para corrigi-las).
Excessos
Vamos variar um pouco, mostrando o problema do excesso de palavras. Quer dizer, palavras que não servem para nada na frase, mas estão lá. Descubra onde isso acontece abaixo:
- Cabe também às empresas de terem em mente aquilo que deve ser eliminado da internet.
O candidato deveria ter escrito
“Cabe também às empresas terem em mente aquilo que deve ser eliminado da internet.”
Esse foi um erro de regência, e erros de regência estão se tornando comuns entre os alunos, não sabemos bem por quê (dificilmente alguém erra regência ao falar).
Então… como evitar erros de regência?
Perguntamos a nossos professores-corretores e eles dizem que, quando um aluno não tem treino de escrita, procura “enfeitar” a redação tentando compensar. Sendo assim, curto e grosso: não “enfeite” a redação, use o português que você usaria ao falar com um professor que você não conhece.
Excesso também pode ser aquela repetição de palavras que os alunos fazem sem querer, por falta de atenção.
Parece uma coisinha de nada mas lá se vão pontinhos embora…
Acentuação
Começamos já com um teste: encontre abaixo uma acentuação que simplesmente não existe no nosso idioma:
- Jovens acabam desenvolvendo doenças físicas e psicológicas, como por exemplo o complexo de inferioridade e á anorexia, que muitas vezes são causados pelo fato de se sentirem diferentes dos colegas.
Não temos no português a palavra “á”.
Temos a palavra “a” (artigo).
Sim, temos a crase “à”, mas crase não é acento.
De qualquer forma, neste exemplo não deveria haver crase também, visto que não há nenhuma palavra anterior que exija uma preposição “a”. Tratava-se de uma lista com dois itens: “o complexo” e “a anorexia”.
E tem erros clássicos de acentuação – onde está o erro abaixo?
- “Ter um bom ambiente de trabalho é fundamental para que todos dêem seu melhor e produzam mais”.
Não se acentua “deem”.
Essa confusão é compreensível: até 2009 essa palavra era acentuada; por isso ainda há por aí livros e revistas daquela época, onde essa palavra tinha acento.
Vamos ajudar você:
“deem” e “veem” não têm acento
“vêm” e “têm” têm acento se o sujeito for plural, assim:
“os responsáveis vêm a público para justificar a decisão”.
“o responsável vem a público para justificar a decisão”.
(Tem um tempinho para lembrar as regras de acentuação? )
Ortografia
Seguimos para alguns testes que verificarão como vai sua atenção com a ortografia.
- Há muitos influenciadores no youtube, um site aonde há vários vídeos com conteúdos diferentes.
Todo aluno tem essa dúvida: “é aonde ou onde?”
Depende, porque os dois existem.
No caso deste exemplo é “onde” a forma correta.
“onde” é o mesmo que “no qual”, indica um lugar estático.
“Aonde” indica movimento para algum lugar. Nós podemos perguntar a você “Aonde você vai?”
Depois dessa não tem como esquecer mais.
Para o corretor, trata-se, portanto, de erro de ortografia, e leva a perda de pontos na competência 1, sim.
Novo teste:
- Nossa iguinorancia e a pressa são a maior parte desse plobrema.
As palavras “iguinorancia“ e “plobrema” deveriam ser escritas “ignorância” e “problema”.
Bem, são erros típicos de quem não tem hábito de leitura, e não tinha a imagem dessas palavras memorizada.
Último teste sobre ortografia – o que está errado abaixo?
- Segundo o escritor George Orwell, “a massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa. Isso pode ser visível no mundo virtual onde redes sociais usam dados de clientes para direcionar anúncios.
Observe que há aspas que indicam o início da frase exatamente como George Orwell teria dito. Mas não há aspas depois da frase. Onde termina a frase de Orwell?!
E lá se vão alguns pontinhos…
(Não sabe quando se usa aspas? A gente explica)
Uso de verbos
Nova bateria de testes – onde está a falha no uso de verbos, neste trecho abaixo?
- As pessoas e crianças, principalmente, precisam aprender de alguma forma, pois devem perceberem que a vida é construída de momentos bons e ruins.
Não se diz “devem perceberem” e sim “devem perceber”.
Quando houver dois verbos dando um sentido só (tempos compostos ou locuções verbais) apenas um deles é flexionado.
Flexionar um verbo é concordar o verbo com o sujeito.
E qual o problema no trecho abaixo?
- Faz-se necessário a divulgação de campanhas de conscientização da população sobre a importância de analisar diferentes meios de comunicação e não somente a internet.
Pura falha de concordância verbal: o candidato deveria ter escrito
“a divulgação faz-se necessária”!
A divulgação é o sujeito e ela recebe a qualificação de necessária, no feminino.
Pontuação
Nós já vimos anteriormente que falhas de pontuação podem prejudicar a fluidez de um texto. Contudo há outros tipos de falhas de pontuação que não têm esse efeito – mas são falhas.
Um erro bem comum que não parece erro está no trecho abaixo – localize se for capaz:
- Aplicativos, sejam de vídeos, músicas ou redes sociais, a partir do rastreamento de dados, criam uma lista de relevância individual e os conteúdos são apresentados a partir dela.
Viu ali o “e” iniciando uma oração?
Ele está adicionando algo ao que foi dito antes. (É uma coordenada aditiva, veja isso na sua gramática).
Muito bem: quando o “e” começar uma oração em que o sujeito não é mais o anterior, ponha uma vírgula antes do “e”.
Não é difícil lembrar disso – Mudou o sujeito? Ponha vírgula!
Mais um trecho com falha de pontuação – encontre-a:
- É importante ressaltar que, a decisão de acompanhar conteúdos na internet é do internauta.
Aquela vírgula não deveria existir… ela separou o pronome relativo “que” da frase que ele mesmo inicia! Como se não bastasse, o verbo “ressaltar” tem um objeto direto, e verbos não podem ficar separados de objetos.
Se você não localizou o objeto direto, aqui está ele:
“que a decisão de acompanhar conteúdos na internet é do internauta”.
Paralelismo
Alguns tópicos gramaticais cobrados na Competência 1 do Enem não são suficientemente ensinados em escolas, e um deles é o paralelismo.
Vamos direto para o teste: o que não vai bem no trecho abaixo?
- A busca por conhecimento e aperfeiçoar-se num mundo que transforma-se a todo o tempo é um desafio.
O trecho
“A busca por conhecimento e aperfeiçoar-se”
tem uma quebra de paralelismo, e o correto seria
“A busca por conhecimento e aperfeiçoamento”
Não soa melhor agora?
Só mais um teste – qual a falha de paralelismo desta frase abaixo?
- Há uma diferença grande entre os alunos e os computadores nas escolas.
Não conseguiu achar?
Pense: é impossível comparar alunos com computadores, concorda? São coisas bem diferentes…
O candidato que escreveu essa frase queria comparar o número de alunos com o número de computadores – aí sim!
Então ele deveria escrever assim:
“Há uma diferença grande entre o número de alunos e o de computadores nas escolas.”
Paralelismo é parte da coesão, e está relacionado a sequência, geralmente quando você enumera itens. Como isso é bem comum na redação, fique atento.
Pronomes
Dentro do capítulo “pronomes” temos duas falhas que você precisa aprender a evitar.
Uma delas é a de colocação pronominal. Sim, você pode perder pontos por colocar o pronome no lugar errado.
Descubra onde está essa falha neste trecho:
- A sociedade deve criar uma autonomia crítica, não deixando-se influenciar pela Indústria Cultural, moldando seu próprio pensamento.
Se você não sabe ou não lembra, os pronomes oblíquos ficam próximos de palavras negativas.
“não” é uma palavra negativa, certo? Portanto o correto aqui seria “não o deixando”.
Há palavras que atraem o pronome oblíquo. As negativas são um tipo delas, mas vale a pena pesquisar e ver quais são as outras, ainda dá tempo.
Na frase abaixo temos uma falha em que o candidato escolheu o pronome errado – descubra:
- O governo não tem conseguido os dar toda a infraestrutura necessária.
Até soou estranho, não?
O correto é
“O governo não tem conseguido lhes dar toda a infraestrutura necessária.”
E quando você deve usar “lhes”?
Sempre que no lugar dele for possível escrever “a eles” ou “a elas”. O pronome “lhes” é um objeto indireto disfarçado… (bela dica, ein?!)
Crase
Podemos já começar com um teste logo “de cara”? Onde vai crase neste trecho?
- Cabe a ele, junto as mídias digitais, campanhas de conscientização, a serem feitas com vídeos, sobre o rastreamento de dados.
A crase vai em “junto às mídias”!
Observe que a crase, como dissemos, não é um acento, ela é uma indicação de que ali se uniram dois A:
Junto A + As mídias
Último teste de hoje – qual o problema com crase no trecho abaixo?
- Foi quando os envolvidos começaram à fazer acusações entre si.
Se você sabe que a crase são dois A que se encontram, não usaria crase antes de verbo! O correto acima seria
“Foi quando os envolvidos começaram a fazer acusações entre si.”
Aqui não houve encontro de dois A: “começaram A” + “fazer”.
É bem simples, e agora que você já entendeu como usar crase, não vai mais perder nota nesse quesito.
Conclusão
Enfim, graças a este artigo, você já domina os principais assuntos para obter a nota máxima na competência 1. Podemos dar um conselho? Estude novamente os testes que você acabou de fazer. Nossos corretores garantem que são as falhas mais comuns que aparecem por aqui.