Você já se perguntou se abordou todos os pontos necessários na sua redação do Enem de 2023? Para dissipar qualquer dúvida, vamos explorar as abordagens argumentativas mais pertinentes. Tradicionalmente, oferecemos repertórios inovadores e uma análise profunda do tema proposto pelo Enem 2023.
A proposta do Enem enfocava um questionamento específico: identificar os desafios enfrentados para superar a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres no Brasil. Esse tema se revela como o núcleo da discussão na redação.
Importante ressaltar, o Enem solicita uma reflexão crítica sobre o dilema do trabalho de cuidado feminino e sua subsequente falta de reconhecimento social.
Levanta-se, assim, uma questão crucial: por qual razão o trabalho de cuidado feminino se configura como um problema? Além disso, qual seria a forma ideal de reconhecimento? Estaríamos falando de uma remuneração justa ou de uma valorização da sua significância social?
Textos motivadores
Análise do tema do Enem 2023
Antes de mostrarmos os possíveis argumentos, temos de dizer que nada nos surpreendeu:
- os textos fornecidos eram considerados fáceis, basicamente informativos;
- o direcionamento se mantém “fechado”, quer dizer, a opinião de que um certo fato é um problema já está definida na proposta; todos os alunos teriam de concordar com ela.
Mesmo sendo uma proposta de direcionamento “fechado”, pré-definido, o candidato não deveria ignorar outros aspectos por trás da proposta:
- o trabalho de cuidado das mulheres pode se configurar um problema em certas situações, sim; mas seria bom que o candidato mostrasse quando é um problema e quando não é (há mulheres que gostam de várias atividades de cuidado);
- o trabalho de cuidado das mulheres ocorre por todo o Brasil; mas é bom considerar que ocorre por todo o mundo, desde países ricos a pobres;
- o trabalho de cuidado envolve tanto mulheres com nível superior de instrução quanto mulheres analfabetas; ele é uma demanda necessária, até o momento, para a vida.
Tese: Banalização da opressão feminina
Conceito da tese:
A tese da banalização da opressão feminina sugere, de forma crítica, que a sociedade vem, ao longo do tempo, normalizando e trivializando as injustiças enfrentadas pelas mulheres. Este processo, marcado por uma transição preocupante, manifesta-se na maneira como certas práticas e atitudes opressivas são frequentemente aceitas ou ignoradas.
Consequentemente, essa aceitação ou negligência contribui para a criação de um ambiente onde a desigualdade de gênero é perpetuada, reforçando assim a necessidade urgente de mudança e conscientização.
Explicação do repertório: a interseccionalidade é um conceito que examina a sobreposição de várias identidades sociais e como essas interseções contribuem para experiências únicas de discriminação e privilégio. Bell hooks, uma proeminente feminista, teórica da cultura e autora, desempenhou um papel fundamental na popularização desse conceito, embora não tenha sido a primeira a usá-lo. Kimberlé Crenshaw é frequentemente creditada por cunhar o termo “interseccionalidade”.
No entanto, Bell Hooks abordou o tema em muitos de seus trabalhos, enfatizando a necessidade de um feminismo que leve em consideração etnia, classe e outras identidades. Para bell hooks, a interseccionalidade é crucial para uma compreensão completa e verdadeira das opressões que as pessoas enfrentam. Sem reconhecer as complexas sobreposições de identidade, o feminismo e outras lutas pela justiça social serão sempre incompletos.
Possíveis repertórios
- Filmes: “Histórias Cruzadas” (2011) e “Que Horas Ela Volta?” (2015) retratam a vida de trabalhadoras domésticas e podem ilustrar a questão do trabalho de cuidado.
- Livros: “A Economia do Cuidado” de Lourdes Bandeira e “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir oferecem análises críticas sobre o papel da mulher na sociedade e podem servir de suporte teórico.
- Documentos Oficiais: Relatórios da OIT (Organização Internacional do Trabalho) sobre o trabalho de cuidado não remunerado.
Análise do tema do Enem 2023: o que se poderia escrever na argumentação?
Lembramos que não existe nenhum argumento que seria o ideal, ok? Argumentos dependem do que você quer enfatizar na redação – cada candidato tem o seu.
Mas existem argumentos frágeis e fortes. E é aí que os alunos mais treinados se aproximam da nota 1000 mais facilmente!
Será que você usou argumentos fortes?!
Primeiro, vamos dialogar com cada texto fornecido – é deles que virá a contextualização e todas as ideias para a redação.
Análise do tema do Enem 2023: Contextualização do trabalho de cuidado da mulher
A convivência familiar constantemente atribui o trabalho de cuidado à mulher, desde civilizações antigas até a nossa.
Tanto em lares indígenas quanto em lares modernos, o trabalho de cuidado é predominantemente feminino.
Você pode estar se perguntando “como é isso em outros países?”
Pois é, em países ricos também existe o trabalho de cuidado, e naqueles onde há igualdade de gênero as mulheres ainda são a maioria nessa hora.
Os psicólogos são um ótimo repertório neste caso: segundo eles é necessário que haja essa participação de todos em casa, inclusive das meninas. Arrumar a casa, lavar a louça, limpar armários são atividades benéficas de colaboração.
E nesse caso, nem era de se esperar uma remuneração, não é mesmo?!
O problema do trabalho de cuidado das mulheres reside em situações onde a pobreza se instalou:
- onde as meninas são responsáveis por cuidar de irmãozinhos menores, limpar, fazer comida, lavar… até buscar água para uso doméstico!
- onde as mulheres adultas ficam tão ocupadas no trabalho de cuidado que mal cuidam de suas próprias necessidades e chegam a não ter instrução formal!
É um trabalho invisível para a sociedade, embora seja fundamental (e dificilmente realizado por robôs), e sequer recebe um “muito obrigada” em troca.
Vamos examinar quais argumentos poderiam ser utilizados na redação.
Argumentos a partir do texto 1
Esse texto afirma que as mulheres assumem a maior parte do trabalho de cuidado, enumerando alguns desses trabalhos. Ele também destaca que pessoas pobres, incluindo meninas, realizam esse trabalho, que frequentemente não é remunerado ou, quando é, recebe baixa remuneração.
Já temos aqui o reforço da causa “pobreza”.
Já aparecem várias possibilidades de argumentos. Vamos a eles.
Argumento 1
Se o reconhecimento do trabalho de cuidado da mulher significa remuneração, então não podemos esquecer que mesmo em lares ricos tem ocorrido a sua invisibilidade. O trabalho de cuidado mal pago, das empregadas domésticas, pode ocorrer nessa circunstância.
E se você está bem informado, viu o trabalho de cuidado, descaradamente, sendo explorado de forma análoga à escravidão na mídia! É um repertório indiscutível – uma evidência!
Argumento 2
Este texto mencionou crianças, permitindo que você mencione especificamente as meninas. Você sabe que a Constituição proíbe o trabalho para menores de 16 anos, mas, estando bem informado, é preciso estar ciente de que um Projeto de Lei no Senado busca intensificar a punição para quem desobedece a essa lei.
Este é um repertório que também pode ser evidência do seguinte argumento: mesmo com a lei, o trabalho de cuidado do menor tem mais chances de ser invisível!
Outros exemplos que vemos na mídia poderiam enriquecer a argumentação: muitas meninas ainda “trabalham” como domésticas em regiões mais pobres do Brasil; e o caso da pequena Ludmila, que viralizou no trabalho de cuidado (será que é um trabalho benéfico?!).
Argumento 3
Por outro lado, aí está outro aspecto problemático que daria para se usar relacionado ao argumento anterior: como diferenciar o trabalho de cuidado que explora o menor do trabalho de cuidado, necessário para seu crescimento e amadurecimento?
Sem dúvida, crianças jamais poderiam ocupar seu tempo de brincadeiras ou estudo fazendo esse trabalho de cuidado, aliás, muitas vezes pesado.
Nesse sentido, com relação ao trabalho de cuidado para mulheres maiores de idade, pode-se discutir o tipo e a exigência do trabalho, já que cuidar da casa e dos filhos dificilmente seria remunerado…
Argumentos a partir do texto 2
Era um gráfico que mostrava que mais da metade do dia de uma mulher está sendo ocupada por esses trabalhos de cuidado.
Isso não deveria ser assim, já que todo ser humano precisa dedicar seu tempo de vida também a crescimento pessoal (por estudo, principalmente), e a descanso e lazer, além da alimentação. Além disso, sem mencionar que se trata de trabalho sem remuneração ou com remuneração muito baixa – faz lembrar o trabalho análogo à escravidão
Um exemplo bastante comum que poderia ser citado é o de, em locais mais pobres no Brasil, a filha mais velha cuidar dos irmãos menores (conheça a síndrome das filhas mais velhas – um belo repertório!). Isso ocupa praticamente todo o dia dessa menina – como ela fará a lição de casa da escola?!
Um bom repertório de premissa para esse argumento é a persistência do trabalho infantil.
Argumento 1
O que leva a essa situação que o gráfico revela é que os pais costumam estar no trabalho o dia todo, tanto na cidade quanto no meio rural, e não só em lares pobres.
Sem dúvida, é um problema que torna mais óbvio que o trabalho de cuidado em si não é um problema! Por enquanto alguém precisa fazê-lo, é bom lembrar disso na argumentação e não demonizar o trabalho de cuidado.
E por trás dessas meninas que fazem o trabalho de cuidado vem a pobreza… novamente ela…
Alerta de argumento frágil: o argumento muito comum do machismo ou do patriarcalismo seria frágil nessa hora; não há evidências de que as mulheres fiquem mais envolvidas com trabalho de cuidado porque os homens a forcem a isso…
Pode ser que o Enem aceite esse argumento frágil, porque se trata de prova de ensino médio, mas perfeito ele não é, como você vê.
Isso porque o próprio gráfico mostra que homens também dedicam quase metade de seus dias nessa tarefa – não se pode considerar isso um patriarcalismo. E mais: como comentamos, quando as meninas cuidam desses trabalhos domésticos, as mulheres adultas estão trabalhando fora, assim como os homens.
Argumento 2
O que chama a atenção no gráfico é que, se uma pessoa dorme por 8 horas diárias, quanto tempo um homem ou uma mulher teriam para si?! Então, falando-se da mulher, como o Enem pede, ela estaria sendo impedida de se instruir e não está sequer recebendo um salário pelo seu trabalho. A mulher, nessa situação, não está sendo respeitada como ser humano e está longe da lei que decreta descanso semanal remunerado a todos os trabalhadores brasileiros!
Enquanto isso, o trabalho de cuidado doméstico em famílias onde a pobreza não chega é fator de união e colaboração.
Não seria fácil fugir desse argumento nesse tema do Enem.
Argumentos a partir do texto 3
Neste texto 3 ficamos sabendo do crescimento da exigência de cuidados com idosos. Você sabe que estamos vivendo cada vez por mais tempo, e isso traz, sem dúvida, a necessidade de se ter alguém que cuide desses mais velhos.
Ora, as mulheres adultas precisam trabalhar, em praticamente todas as classes sociais! É injusto, assim, ao nosso ver, que esse trabalho recaia sobre elas, e ainda sem uma remuneração. Mas… como fazer?!
Ademais, no Enem as propostas de intervenção fazem parte da argumentação, e nossos professores ficaram inspirados para elas com o texto 3, isto é, a partir de 2 repertórios que valem como exemplos:
- Em cidades grandes, existe assistência gratuita para idosos que não tenham quem possa cuidar deles, ou que exijam tratamento diferenciado. Afinal, eles são geridos pelas prefeituras ou por instituições religiosas ou não.
- Há também os centro-dia, que são pagos e funcionam como creches para idosos: os responsáveis deixam os idosos pela manhã e buscam à tarde, ou seja, quando voltam do trabalho.
Como a remuneração de um trabalho de cuidado só é viável em casos de empregados domésticos, vamos pensar em propostas de intervenção para mulheres que estarão sozinhas nessa (por exemplo, o filme “Um Amor Verdadeiro”, de 1998, é um bom repertório!).
Proposta de intervenção 1
Criação de serviços públicos domiciliares que possam amenizar essa carga de cuidados, isto é, pelo menos em algumas horas por dia, ou seja, aos cuidados de servidores do SUS.
Proposta de intervenção 2
Realização de publicidade, por parte do governo, pelas mídias em geral. Nesse sentido, o ministério da família seria o canal ideal para que isso fosse feito. Outrossim, as campanhas de publicidade em si poderiam mostrar os detalhes dos trabalhos de cuidado em si, já que conscientiza o público de sua importância.
Proposta de intervenção 3
Para mulheres que trabalham em cuidados pesados, um serviço público poderia ser criado para realizar essas funções, sob demanda. Logo, há locais onde não há homens na família que façam esse serviço.
Análise do tema do Enem 2023: Conclusão
O argumento central para o tema de redação do Enem 2023 é pobreza por trás do trabalho invisível de cuidado que a mulher realiza do Brasil.
Ademais, é importante aumentar a visibilidade, a importância desse trabalho, quando dentro da lei. Por isso, uma argumentação nota 1000, na opinião dos corretores mais exigentes, precisa, sobretudo, mostrar quando esse problema se instala e quando não é problema.
Por fim, esperamos que você tenha conseguido a nota que precisava e tenha gostado da análise do tema do Enem 2023, caso esteja treinando para o próximo enem nossa plataforma tem +400 esperando por você!