Júlia Pimentel e a redação em primeira pessoa que gerou polêmica no vestibular de Medicina

Julia Pimentel Redação

Recentemente, a influenciadora Júlia Pimentel, de apenas 16 anos, viralizou ao divulgar a redação que escreveu no vestibular online para o curso de Medicina no Idomed. O tema proposto — “Qual marca da sua personalidade ninguém rouba de você e por quê?” — gerou debate público por induzir a respostas subjetivas, mais próximas de confissões pessoais do que de um texto dissertativo-argumentativo.

Nesse contexto, sua aprovação levantou duas questões fundamentais: a validade de provas de vestibular online, especialmente em cursos de alta exigência como Medicina, e a adequação do gênero textual exigido. A seguir, analisamos o caso com profundidade, mostramos o texto motivador, a redação da Júlia, seus pontos positivos e negativos, e como esse tema poderia ser estruturado dentro do padrão acadêmico.

Quem é Júlia Pimentel e o caso da redação?

Recentemente, o nome de Júlia Pimentel, influenciadora digital de apenas 16 anos e com milhões de seguidores no TikTok, ganhou destaque após sua aprovação em Medicina pelo vestibular on-line do Instituto de Educação Médica (Idomed), uma faculdade privada do Rio de Janeiro cuja mensalidade ultrapassa R$ 16 mil.

Na ocasião, Júlia publicou em suas redes sociais a redação que havia feito para o processo seletivo. O texto rapidamente viralizou, não apenas pela conquista em tão tenra idade, mas também pelas críticas que surgiram nos comentários. Muitos usuários debocharam do estilo do texto, comparando-o a uma “legenda de Instagram” ou a um “querido diário”, já que foi escrito em primeira pessoa.

Entretanto, o debate não se restringiu ao desempenho individual da candidata. Ele abriu espaço para discussões mais amplas:

  • O formato da prova on-line, que, mesmo com o uso de inteligência artificial antifraude e monitoramento por webcam, ainda gera desconfiança.
  • O tema proposto, considerado por especialistas como excessivamente subjetivo para um vestibular de alta concorrência, especialmente em Medicina.

O problema: subjetividade x dissertação argumentativa

Além da polêmica em torno da publicação, a escolha do tema da redação gerou um impasse acadêmico. O enunciado pedia claramente a produção de um texto dissertativo-argumentativo, mas a formulação do tema induzia a uma resposta confessional:

“Qual marca da sua personalidade ninguém roubará de você? Por quê?”

Em outras palavras, havia uma contradição evidente:

  • O gênero exigido pressupõe tese, argumentação e repertório sociocultural legitimado.
  • O enunciado, por sua vez, incentivava relatos pessoais e opiniões em primeira pessoa.

Essa inconsistência expôs fragilidades:

  • Critério de avaliação pouco claro: como mensurar argumentos quando o candidato fala apenas sobre si?
  • Subjetividade excessiva: cada resposta poderia ser válida, mas sem atender ao modelo exigido.
  • Consequência: abriu-se espaço para textos que, mesmo fugindo ao padrão acadêmico, poderiam alcançar boa nota.

Por outro lado, a polêmica mostrou a importância de se respeitar o gênero textual exigido em provas seletivas. Muitos vestibulares utilizam temas abertos, mas ainda assim esperam uma abordagem crítica, filosófica ou sociológica  e não apenas confessional.

Texto motivador da prova

A proposta de redação disponibilizada pela instituição trouxe, como texto motivador, uma tirinha da personagem Anésia (#787), do site Willtirando:

“A Gertrudes postou uma foto do almoço dela! Totalmente desnecessário.”
“Quem quer saber que ela almoçou estrogonofe?”
“Estrogonofe de quê?”

A partir dessa tirinha, o comando dizia:

“Talvez a necessidade de gerar e criar conexões com a nossa rede nos faça seguir ações em massa para sermos aceitos, mesmo que a gente insista em dizer que estamos sendo nós mesmos.
Com base nos textos dessa avaliação e nas suas experiências, produza uma DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA, entre 230 e 350 palavras, utilizando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o seguinte tema:
QUAL MARCA DA SUA PERSONALIDADE NINGUÉM ROUBARÁ DE VOCÊ? POR QUÊ?

Esse texto motivador, apesar de relacionar a questão da identidade pessoal ao uso das redes sociais, reforçou ainda mais a contradição do vestibular: de um lado, cobra-se uma dissertação; de outro, a formulação aproxima-se de uma carta de apresentação pessoal, sem trazer uma problemática social, econômica ou filosófica que sustentasse a argumentação.

Redação da Júlia Pimentel

Tema: “Qual marca da sua personalidade ninguém roubará de você? Por quê?”

A identidade de cada indivíduo é formada por experiências, valores e sentimentos que, ao longo do tempo, moldam sua maneira de agir no mundo. Em uma sociedade na qual muitas vezes somos pressionados a seguir padrões, preservar uma característica própria é essencial para garantir a autenticidade.

Nesse sentido, a marca da minha personalidade que ninguém poderá roubar de mim é a determinação.

Desde situações do dia a dia até desafios maiores, a determinação sempre esteve presente em minhas escolhas. Ela me impulsiona a continuar tentando, mesmo quando as circunstâncias parecem desfavoráveis. Por exemplo, ao enfrentar dificuldades nos estudos, é essa característica que me motiva a buscar novas estratégias de aprendizado, em vez de desistir. Assim, minha perseverança não depende apenas de fatores externos, mas de uma força interna que se renova diante de cada obstáculo.

Além disso, a determinação contribui para a construção de objetivos futuros. Pessoas determinadas tendem a transformar sonhos em metas concretas, agindo com disciplina e paciência.

Isso significa que, mesmo em meio às adversidades, a essência dessa característica não pode ser roubada, pois está ligada à forma como cada indivíduo enxerga e reage à vida. Em um mundo em que nem sempre controlamos as situações, manter a capacidade de insistir é uma marca de autonomia e resistência.

Portanto, a determinação representa a parte mais sólida da minha identidade. Ela não se perde com o tempo nem se deixa apagar pela opinião dos outros. É essa marca que me guia, fortalece minhas escolhas e assegura que eu permaneça fiel.

Fonte: internet

Análise crítica da redação da Júlia Pimentel

Antes de tudo, é importante destacar que a polêmica não deve ser colocada apenas sobre a candidata. O problema também está no próprio tema proposto pelo vestibular e na forma como foi aplicado. O enunciado exigia um texto dissertativo-argumentativo, mas ofereceu uma questão de cunho confessional e subjetivo, que naturalmente induz ao uso da primeira pessoa.

Pontos positivos da redação

Coerência interna: Júlia escolheu a determinação como marca da sua personalidade e manteve essa ideia central em todo o texto.
Clareza linguística: As frases são diretas, bem organizadas e fáceis de compreender, sem desvios gramaticais graves.
Conexão emocional: O texto transmite autenticidade e propósito, algo que pode ter sensibilizado avaliadores.

Pontos negativos da redação

Uso da 1ª pessoa do singular: Embora coerente com o tema, destoa do gênero exigido (dissertação argumentativa), aproximando-se mais de um relato pessoal.
Ausência de repertório sociocultural: Não há referências a filósofos, dados científicos, livros ou leis que legitimassem os argumentos.
Limitação na problematização: O texto não desenvolve causas e consequências sociais, filosóficas ou históricas, ficando restrito ao campo individual.
Conclusão pouco analítica: Apenas reafirma a ideia de “determinação”, sem propor reflexões mais amplas ou articulação com a realidade.

Reflexão sobre a prova

Assim, não se trata apenas de criticar a candidata, mas também de questionar o vestibular:

  • Contradição do gênero: o tema induz ao subjetivo, mas a banca pede objetividade.
  • Fragilidade da avaliação: como medir critérios de argumentação e comprovação diante de um enunciado tão pessoal?
  • Consequência: abrem-se brechas para que textos mais confessionais recebam notas altas, enquanto candidatos que tentarem estruturar dissertações críticas fiquem em desvantagem.

👉 Nesse sentido, o caso expõe mais sobre os limites das provas on-line e da formulação de temas do que sobre a aluna em si.

Como escreveríamos essa redação dentro da estrutura dissertativa-argumentativa

Tema: Qual marca da sua personalidade ninguém rouba de você e por quê?

Introdução

Desde a Antiguidade, filósofos como Epicteto defendiam que a verdadeira liberdade humana reside em aspectos internos, que não podem ser controlados ou retirados por forças externas. Nesse sentido, a resiliência pode ser entendida como uma marca fundamental da personalidade, pois sustenta escolhas, possibilita a superação de adversidades e garante a autenticidade individual diante das pressões sociais.

Desenvolvimento 1 – A resiliência como resistência social

Diante desse cenário, a resiliência atua como uma barreira contra as imposições culturais que buscam uniformizar comportamentos. De acordo com Viktor Frankl, em Em Busca de Sentido, mesmo em contextos de dor e limitação, o ser humano é capaz de encontrar significados para continuar existindo. Assim, a resiliência protege a identidade e transforma dificuldades em oportunidades de aprendizado. Caso contrário, a ausência desse traço resultaria em alienação e perda de autonomia.

Desenvolvimento 2 – A resiliência como força para objetivos futuros

Além disso, a resiliência é essencial para a construção de projetos acadêmicos e profissionais. Segundo dados da UNESCO (2023), estudantes que enfrentam vulnerabilidades socioeconômicas tendem a permanecer nos estudos quando desenvolvem essa habilidade, pois ela amplia a capacidade de adaptação e foco. Desse modo, a resiliência não pode ser roubada, já que faz parte da estrutura interna de cada indivíduo, funcionando como motor de permanência e realização de sonhos.

Conclusão

Portanto, a resiliência constitui-se como marca inalienável da personalidade, capaz de orientar escolhas, sustentar objetivos e fortalecer a identidade em meio às adversidades. Logo, cabe à sociedade reconhecer e valorizar essa característica, incentivando indivíduos a cultivá-la como ferramenta de autenticidade e superação, indispensável para um futuro sólido e consciente.


👉 Essa redação está organizada em tese clara + dois argumentos com comprovação (filosofia + dados) + conclusão sintética e reflexiva, dentro do gênero dissertativo-argumentativo que o vestibular exigia.

Repertórios que poderiam ser usados nesse tema

📖 Epicteto – Filosofia Estoica
Defendia que a verdadeira liberdade está no controle interno do indivíduo. Isso se aplica porque a “marca da personalidade” é um aspecto que não depende de fatores externos.

📖 Viktor Frankl – Em Busca de Sentido
Mostra que o ser humano é capaz de encontrar significados mesmo em situações de extremo sofrimento. A resiliência, nesse caso, seria um traço que ninguém pode roubar.

📖 Aristóteles – Ética da Virtude
O filósofo explica que a virtude é adquirida pela prática constante. Logo, traços como determinação e resiliência são construídos e internalizados, tornando-se indestrutíveis.

📊 UNESCO (2023) – Dados sobre permanência escolar
Estudantes resilientes conseguem enfrentar desigualdades socioeconômicas e manter os estudos. Esses dados reforçam a importância desse traço como motor de superação.

🎬 Filme “A Vida é Bela” (1997)
A obra mostra como a resiliência permite enfrentar situações extremas (como a guerra) sem perder a essência. Pode ser usado como metáfora para o tema.

Pode escrever redação em primeira pessoa no vestibular?

Depende do gênero textual exigido. Se a proposta pedir carta pessoal, relato ou memorial, o uso da 1ª pessoa é aceitável. Entretanto, se o comando exigir um texto dissertativo-argumentativo (como foi no caso da Júlia), a 1ª pessoa deve ser evitada, pois esse gênero exige objetividade, impessoalidade e argumentação com base em repertórios.

Dá para passar em Medicina com uma redação em 1ª pessoa?

O caso da Júlia mostra que sim, é possível, pois ela foi aprovada. Contudo, isso revela fragilidades no processo seletivo, já que a redação dela não seguiu rigorosamente o gênero exigido. Em provas como ENEM, Fuvest ou Unicamp, provavelmente não receberia alta pontuação.

Qual o problema do gênero dissertativo-argumentativo nessa prova?

O enunciado pediu uma dissertação, mas o tema induzia a um relato confessional. Isso gerou contradição: como avaliar tese, argumentos e comprovações num texto em que o candidato fala apenas de si? Essa escolha enfraquece os critérios de correção e abre margem para subjetividade.

O que muda com a nova lei do EaD em cursos de Medicina?

O Decreto nº 12.456/2025 proibiu cursos 100% EaD no Brasil e restringiu totalmente a oferta de Medicina na modalidade online. Isso reforça a contradição: se até a formação deve ser integralmente presencial, um vestibular on-line com tema subjetivo e sem avaliação estruturada parece destoar das novas exigências.

Quais critérios avaliam uma redação de vestibular?

 Normalmente, são analisados:

  1. Tese clara (apresentar posicionamento desde a introdução).
  2. Argumentos consistentes (sustentados por repertórios legitimados).
  3. Coesão e coerência (uso de conectivos e progressão lógica).
  4. Conclusão reflexiva (síntese + possível intervenção).

Conclusão

Por fim, o caso da Júlia Pimentel evidencia como a escolha do tema e a condução do gênero textual podem gerar polêmicas e fragilizar a avaliação em vestibulares. Mais do que responder ao enunciado, é essencial dominar a estrutura dissertativo-argumentativa, organizar ideias de forma lógica, inserir repertórios socioculturais consistentes e usar a norma culta da língua portuguesa.É exatamente nesse ponto que a nossa plataforma se destaca:
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