Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher? | Tema de redação

Briga de marido e mulher tema de redação

A expressão popular “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher” reflete uma herança cultural marcada pela naturalização da violência doméstica e pela crença de que conflitos familiares devem permanecer restritos ao espaço privado. No entanto, diante do aumento dos casos de agressão e feminicídio no Brasil, essa lógica vem sendo amplamente questionada.

Em 2025, debates públicos, campanhas institucionais e reportagens jornalísticas evidenciam que a omissão social diante da violência de gênero contribui diretamente para sua perpetuação. Quando vizinhos, familiares ou conhecidos silenciam diante de agressões, reforça-se um ciclo de violência que pode resultar em danos físicos, psicológicos e até na morte das vítimas.Nesse contexto, surge uma indagação central para vestibulares e concursos: até que ponto a sociedade deve intervir em situações de violência doméstica? Discutir esse tema exige compreender que a violência contra a mulher não é apenas um problema individual, mas uma questão social, cultural e legal que demanda posicionamento coletivo.

Textos motivadores sobre a omissão diante da violência doméstica no Brasil

Os textos a seguir apresentam diferentes perspectivas sobre a responsabilidade social diante da violência doméstica e auxiliam na problematização do tema proposto.

Texto I – Em briga de marido e mulher, a sociedade pode se omitir diante da violência?

Durante a campanha Agosto Lilás, uma roda de conversa realizada em Itabira (MG) reforçou que a violência doméstica não deve ser tratada como um assunto privado. O encontro reuniu representantes da Polícia Civil, Polícia Militar, Ministério Público e profissionais da psicologia para discutir os impactos da omissão social nos casos de agressão contra mulheres.

Segundo os debatedores, a reprodução de ditados populares que incentivam o silêncio contribui para a escalada da violência, que frequentemente se inicia com agressões psicológicas e evolui para formas mais graves, como a violência física e o feminicídio. Autoridades destacaram que a legislação brasileira prevê mecanismos de denúncia acessíveis a qualquer cidadão, rompendo com a ideia de que apenas a vítima pode ou deve agir.

Além disso, especialistas apontaram que a violência de gênero atravessa classes sociais, níveis de escolaridade e contextos culturais, o que evidencia seu caráter estrutural. Dessa forma, a omissão coletiva não apenas falha em proteger a vítima, como também fortalece padrões culturais machistas que sustentam a agressão.

Fonte adaptada: Vila de Utopia

Texto II – Quando a violência acontece diante de todos, por que a sociedade ainda se omite?

Dados recentes do DataSenado revelam que a violência doméstica segue sendo um problema estrutural no Brasil, marcado não apenas pela agressão em si, mas pela omissão coletiva. Em 2025, 3,7 milhões de mulheres brasileiras sofreram algum tipo de violência doméstica ou familiar, segundo a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada com mais de 21 mil entrevistadas em todo o país.

Um dos dados mais alarmantes do levantamento é que 71% das agressões ocorreram na presença de outras pessoas, incluindo vizinhos, familiares e, principalmente, crianças. Em grande parte desses casos, ninguém interveio: o DataSenado identificou que, em 40% das situações, nenhuma testemunha ofereceu qualquer tipo de ajuda à vítima, o que evidencia a naturalização da violência e o medo de “se envolver”.

Além disso, a pesquisa aponta que a violência costuma ser recorrente. Quase 60% das vítimas relataram agressões ocorrendo há menos de seis meses, enquanto uma parcela significativa convive com a violência há mais de um ano. Ainda assim, a maioria das mulheres não busca ajuda formal. Apenas 28% registraram denúncia em delegacias, e somente 11% acionaram o Ligue 180, canal oficial de atendimento à mulher.

Entre os principais motivos para não denunciar estão o medo de prejudicar os filhos, a descrença na punição do agressor e a esperança de que a agressão não se repita. Esses fatores reforçam que a omissão não é apenas individual, mas também institucional e cultural, sustentada por uma sociedade que ainda trata a violência doméstica como um problema privado.

Outro aspecto preocupante revelado pelo estudo é que 79% das brasileiras acreditam que a violência contra a mulher aumentou, e 71% consideram o Brasil um país muito machista. Embora a maioria conheça a existência da Lei Maria da Penha, apenas uma parcela reduzida afirma compreendê-la plenamente, o que dificulta o acesso aos mecanismos de proteção e denúncia.

Dessa forma, os dados do DataSenado evidenciam que o silêncio social diante da violência doméstica contribui para a continuidade do ciclo de agressões. Quando a sociedade escolhe “não meter a colher”, ela não permanece neutra: torna-se parte do problema.

Fonte adaptada: Agência Senado – DataSenado

Texto III – Quando a linguagem silencia a violência, quem está sendo protegido?

A naturalização da violência doméstica também se constrói por meio da linguagem. É o que demonstra o artigo “Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”: um olhar dialógico para webnotícias sobre violência contra a mulher, publicado em 2024 na revista Diálogo das Letras, pelas pesquisadoras Maria Lígia Freire Guilherme e Rodrigo Acosta Pereira.

A partir da análise de 15 webnotícias veiculadas em grandes portais do jornalismo brasileiro, como Globo.com, UOL e Metrópoles, os autores investigam como a violência contra a mulher é discursivizada pela mídia hegemônica, especialmente em torno do Dia Internacional da Mulher (8 de março). O estudo parte da Análise Dialógica do Discurso, fundamentada nos escritos de Mikhail Bakhtin, para compreender como os sentidos sociais são produzidos, reforçados ou silenciados nos textos jornalísticos.

Os resultados revelam que a violência contra a mulher é frequentemente apresentada de forma descontextualizada, individualizada ou suavizada, o que contribui para sua invisibilização enquanto problema estrutural. Segundo os autores, esse tipo de abordagem discursiva reforça uma cultura machista ao tratar a violência como um evento isolado, e não como resultado de relações históricas de desigualdade de gênero.

Nesse contexto, o ditado popular “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher” aparece como um enunciado ideológico, que legitima a omissão social e desloca a violência do campo público para o privado. A pesquisa mostra que, ao repetir ou naturalizar esse tipo de discurso, a mídia contribui para a manutenção do silêncio, da passividade e da culpabilização indireta das vítimas.

Assim, o estudo evidencia que não apenas a agressão física, mas também a forma como a violência é narrada e interpretada socialmente, impacta a disposição coletiva para intervir, denunciar e proteger. Quando a linguagem silencia, relativiza ou normaliza a violência, ela também participa da sua reprodução.

Dessa forma, compreender a violência doméstica exige ir além dos números e dos casos isolados, reconhecendo o papel central dos discursos sociais na construção da omissão, da indiferença e da falsa neutralidade diante da agressão contra mulheres.

Fonte adaptada:
GUILHERME, Maria Lígia Freire; ACOSTA PEREIRA, Rodrigo. “Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”: um olhar dialógico para webnotícias sobre violência contra a mulher.
Revista Diálogo das Letras, v. 13, 2024.
 https://periodicos.apps.uern.br/index.php/DDL/article/view/6126/4323

Texto IV – Quando a mídia repete o ditado, ela reforça o silêncio?

O livro Em briga de marido e mulher não se mete a colher?, de Geysa Fernandes Ribeiro, analisa como a violência de gênero é retratada em jornais do Maranhão e como discursos aparentemente neutros acabam naturalizando a omissão diante da agressão contra mulheres.

A obra investiga matérias jornalísticas que utilizam, direta ou indiretamente, o imaginário social expresso no ditado “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Segundo a autora, esse tipo de enunciado não funciona apenas como expressão popular, mas como um marcador ideológico, que desloca a violência do campo público para o privado, desencorajando a intervenção social.

Ao analisar o tratamento dado pelos jornais aos casos de violência doméstica, Ribeiro evidencia que muitas notícias priorizam a espetacularização do crime, a culpabilização implícita da vítima ou a ausência de contextualização estrutural. Com isso, a violência aparece como um fato isolado, e não como resultado de relações históricas de desigualdade de gênero.

A autora argumenta que esse tipo de abordagem midiática contribui para o apagamento da responsabilidade coletiva, reforçando a ideia de que a agressão conjugal é um problema íntimo, no qual terceiros não devem interferir. Assim, a mídia não apenas informa, mas também educa socialmente  e, nesse caso, educa para o silêncio.

Dessa forma, o livro demonstra que a repetição de discursos como o ditado analisado atua como mecanismo simbólico de manutenção da violência, pois legitima a passividade social e enfraquece a percepção de que denunciar, intervir e proteger são deveres da sociedade.

O estudo dialoga diretamente com debates contemporâneos sobre violência de gênero, papel da imprensa e responsabilidade social, sendo um repertório altamente produtivo para sustentar argumentos que defendem que meter a colher não é invasão, mas ação cidadã diante da violação de direitos humanos.

Fonte adaptada:
RIBEIRO, Geysa Fernandes. Em briga de marido e mulher não se mete a colher? Um estudo sobre violência de gênero em jornais do Maranhão.
Editora Dialética.

Texto V – A violência doméstica é um problema privado ou uma violação de direitos humanos?

A Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, estabelece que a violência doméstica e familiar contra a mulher não é uma questão íntima, mas uma grave violação dos direitos humanos. Logo em seus primeiros artigos, a legislação afirma que toda mulher tem direito a viver sem violência, independentemente de classe social, raça, orientação sexual ou nível educacional.

Segundo o artigo 5º da lei, configura violência doméstica qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico, moral ou patrimonial à mulher, seja no âmbito da família, da unidade doméstica ou de qualquer relação íntima de afeto. Isso significa que o silêncio, a negligência e a passividade também contribuem para a manutenção da violência.

Além disso, o artigo 6º define explicitamente que a violência doméstica constitui violação dos direitos humanos, rompendo com a ideia cultural de que conflitos conjugais devem ser resolvidos apenas entre o casal. A própria lei atribui responsabilidade à família, à sociedade e ao poder público na proteção da mulher em situação de violência, reforçando que “meter a colher” não é intromissão, mas dever social.

Outro ponto relevante é que a legislação prevê ações integradas de prevenção, como campanhas educativas, atuação da mídia sem reforço de estereótipos machistas e divulgação dos mecanismos de denúncia, como delegacias especializadas e medidas protetivas de urgência. Assim, a Lei Maria da Penha reconhece que a violência doméstica é um problema estrutural, sustentado por padrões culturais que naturalizam a agressão e desencorajam a denúncia.

Dessa forma, ao transformar a violência doméstica em matéria de interesse público, a lei desmonta o ditado popular “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher” e o substitui por uma lógica jurídica e social clara: quando há violência, é preciso intervir, denunciar e proteger.

Fonte integral:
Presidência da República – Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha)

Texto VI — Quando a intervenção de terceiros pode salvar vidas em casos de violência doméstica?

Um episódio recente ocorrido em um condomínio residencial em Natal reacendeu o debate sobre a importância da intervenção diante da violência contra a mulher. Em dezembro de 2025, uma tentativa brutal de feminicídio foi interrompida graças à ação imediata de um porteiro que, ao perceber a agressão pelas câmeras de segurança, acionou a polícia.

A violência ocorreu dentro de um elevador, onde a vítima foi agredida por cerca de 34 segundos, recebendo dezenas de socos na cabeça e no rosto. Segundo informações divulgadas, a agressão poderia ter resultado em morte caso não houvesse intervenção rápida. O agressor teve a prisão convertida em preventiva e responderá por tentativa de feminicídio.

O porteiro responsável pela ação relatou que apenas “fez o que tinha que ser feito”, reforçando a ideia de que agir diante da violência não é interferência indevida, mas um dever social. A vítima, que precisou passar por cirurgia de reconstrução facial, reconheceu publicamente que a atitude do funcionário foi decisiva para que ela não se tornasse mais uma estatística de feminicídio no país.

O caso evidencia que a violência doméstica não se limita ao espaço privado do lar e que a omissão de terceiros pode ser fatal. A presença de testemunhas e a rápida comunicação às autoridades mostraram-se fundamentais para interromper o ciclo de violência e preservar a vida da vítima, reforçando a necessidade de romper com a lógica cultural do silêncio.

Fonte adaptada: G1 — Globo Repórter

Quais repertórios comprovam temas sobre omissão diante da violência doméstica?

Quais filmes comprovam temas sobre violência doméstica e omissão social?

Dormindo com o Inimigo

Como o filme comprova o tema?
O enredo evidencia que a violência doméstica se sustenta pelo silêncio social e pela ideia de que conflitos conjugais pertencem apenas ao casal, reforçando a omissão coletiva.

Preciosa

Como o filme comprova o tema?
A narrativa expõe agressões recorrentes ocorridas dentro do ambiente familiar, ignoradas por vizinhos, escola e Estado, mostrando como a negligência institucional perpetua a violência.

📺 Quais séries comprovam temas sobre violência doméstica e responsabilização coletiva?

Big Little Lies

Como a série comprova o tema?
A série demonstra que a violência doméstica pode permanecer invisível mesmo em contextos socialmente privilegiados, justamente porque a sociedade evita intervir em relações privadas.

Maid

Como a série comprova o tema?
Mostra que a violência doméstica não se limita à agressão física e que a falta de apoio social e institucional dificulta a ruptura do ciclo de violência.

Quais livros comprovam temas sobre violência de gênero e naturalização da omissão?

Em briga de marido e mulher não se mete a colher? – Geysa Fernandes Ribeiro

Como o livro comprova o tema?
A obra analisa discursos midiáticos que reforçam a ideia de que a violência contra a mulher deve ser silenciada, legitimando a omissão social.

O Segundo Sexo

Como o livro comprova o tema?
A autora demonstra que a desigualdade de gênero é uma construção social, o que explica a normalização histórica da violência doméstica.

🏛️ Quais fatos históricos comprovam temas sobre intervenção na violência doméstica?

Lei Maria da Penha (2006)

Como esse fato histórico comprova o tema?
A legislação rompe com a lógica de que a violência doméstica é assunto privado, estabelecendo a intervenção do Estado como dever legal.

Tipificação do feminicídio no Brasil (Lei nº 13.104/2015)

Como esse fato histórico comprova o tema?
O reconhecimento do feminicídio evidencia que a omissão diante da violência doméstica pode resultar na morte da vítima.

Quais argumentos comprovam o tema “Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher?”

Argumento 1 — A naturalização cultural da violência doméstica sustenta a omissão social?

Causa
A violência doméstica é historicamente tratada como um assunto privado no Brasil. Expressões populares e construções culturais reforçam a ideia de que conflitos conjugais não devem sofrer interferência externa, mesmo quando há agressões físicas ou psicológicas. Esse imaginário social normaliza o silêncio e transfere a responsabilidade exclusivamente para a vítima.

Consequência
Essa naturalização gera omissão coletiva. Dados recentes mostram que muitas agressões ocorrem na presença de terceiros, inclusive crianças, sem qualquer intervenção. Como resultado, a violência tende a se repetir, escalar e, em muitos casos, culminar em feminicídio, evidenciando que o silêncio social funciona como um mecanismo de perpetuação da violência de gênero.

Possível solução
É necessário desconstruir essa lógica cultural por meio de educação em direitos humanos, campanhas públicas permanentes e debates sociais que reforcem que a violência doméstica é crime e responsabilidade de toda a sociedade, não um problema restrito ao ambiente privado.

Argumento 2 — A fragilidade da denúncia e a baixa confiança nas instituições reforçam o ciclo da violência?

Causa
Mesmo com legislações avançadas, como a Lei Maria da Penha, muitas mulheres não denunciam por medo, dependência econômica, descrença na punição do agressor ou preocupação com os filhos. Além disso, testemunhas frequentemente não intervêm por desconhecimento ou receio de envolvimento jurídico.

Consequência
Essa fragilidade na rede de denúncia contribui para a subnotificação dos casos e para a continuidade da violência. A ausência de intervenção imediata faz com que agressões se tornem recorrentes, aumentando os danos físicos, psicológicos e sociais às vítimas e impactando diretamente crianças e adolescentes que convivem com esse ambiente de violência.

Possível solução
O fortalecimento das políticas públicas de proteção exige ampliar o acesso à informação, garantir atendimento humanizado, fortalecer canais de denúncia e investir em programas que incentivem a atuação responsável de familiares, vizinhos e da comunidade como rede de apoio ativa.

Conclusão: quando a sociedade deve “meter a colher”?

Diante dos dados e dos argumentos apresentados, fica evidente que a violência doméstica não pode ser tratada como uma questão privada. A omissão social, sustentada por padrões culturais e pela fragilidade da denúncia, contribui diretamente para a manutenção desse problema estrutural. Portanto, “meter a colher” diante da violência não é intromissão, mas um ato de responsabilidade social, proteção à vida e defesa dos direitos humanos.

Se esse tema cair na sua redação, você precisa estar preparado para argumentar com profundidade, dados, repertórios e soluções consistentes.

POSTS RELACIONADOS

Pop-up de vendas Ano Novo com 60% OFF