No livro 1984, de George Orwell, o autor descreve uma realidade distópica, na qual as pessoas desconhecem as intenções do governo vigente, porque elas foram ensinadas, desde a infância, a não analisar a conjuntura em que vivem. Semelhante à obra, observa-se, no cenário brasileiro, a significante ignorância política, geradora de várias mazelas sociais, da sociedade. Dessa forma, é importante destacar que esse quadro é decorrente tanto da inoperância governamental, em assegurar direitos constitucionais, quanto da existência de uma cultura da desinformação.
Nesse viés, o governo brasileiro falha em garantir criticidade à população. Isso é confirmado pelo “índice de ignorância”, termo utilizado no livro “Os perigos da percepção”, de Bobby Duffy, o qual mede a percepção equivocada da realidade dos habitantes de um país, e o Brasil é um dos primeiros. Nesse sentido, tal problema é ocasionado pela negligência, por falta de investimentos do Estado, de matérias escolares que auxiliam na formação do senso crítico dos jovens – Ciências Humanas, em geral –, o que vai de encontro com a Constituição Federal, visto que ela atribui à escola a função de formar pessoas que saibam exercer sua cidadania – opinar e intervir na situação política do país, nesse caso. Assim, o aluno termina o Ensino Médio com uma capacidade de análise do mundo debilitada, resultando na ignorância política.
Ademais, o deficiente senso crítico supracitado induz um comportamento social: o de não buscar informações confiáveis. De acordo com o sociólogo Émile Durkheim, o corpo social pode entrar em um estado de anomia, gerando um efeito primário, mais evidente, e outro secundário, a longo prazo. Análogo ao pensamento de Durkheim, a cultura da desinformação, proveniente de uma educação familiar deficitária, é passada de uma geração para outra, deixando a sociedade em uma situação de anormalidade. Isso acontece porque os adultos da família, que influenciam os mais jovens, são, muitas vezes, manipulados por notícias falsas, já que não procuram por conhecimentos fundamentados, o que favorece uma noção equivocada do universo político nacional – efeito primário. Logo, as consequências disso são as crises e a eleição de líderes com ideais corruptos, por exemplo, o que colabora para a introdução de um contexto distópico – efeito secundário –, semelhante ao dissertado por Orwell.
Portanto, é perceptível que a ignorância política é um problema social latente e que necessita de medidas atenuativas. Para tanto, o governo federal deve, por meio de um maior direcionamento de verbas para o Ministério da Educação, investir na área de Ciências Humanas – nas matérias de Filosofia e Sociologia, principalmente – e na capacitação de professores. Isso será feito a fim de que a criticidade dos alunos seja fomentada para que, futuramente, possam exercer sua cidadania. Além disso, cabe aos membros mais velhos da família orientar os mais novos a se informarem corretamente e incentivar, juntamente com as instituições de ensino, o senso crítico das crianças e dos adolescentes com o intuito de aguçar a noção política dos brasileiros. Dessa maneira, o Brasil poderá modificar a lamentável posição que ocupa no “índice de ignorância”, extraído do livro de Bobby Duffy.