Na triologia "Jogos Vorazes" é retratada a desigualdade social existente entre os distritos e a capital do país, de forma a mostrar a situação de miséria que a protagonista dos livros e os personagens ao seu entorno vivem. De maneira análoga, fora do meio fictício, a sociedade brasileira vive um cenário de segregação socioeconômica crescente, a qual promove inúmeros riscos aos cidadãos. Diante disso, é imperioso que se analisem o individualismo da coletividade e a negligência do governo, como intensificadores dessa conjuntura. Em primeira análise, é válido ressaltar que a postura individualista do corpo social age de forma a aumentar as problemáticas relacionadas à desigualdade social brasileira. Segundo as ideias do psicanalista Lacan, os comportamentos dos indivíduos são diretamente influenciados pelas morais da coletividade. À luz do exposto, uma sociedade que banaliza a segregação existente entre os diversos setores da população, promove a indiferença dos cidadãos, no que se refere à equidade. Por conseguinte, as diferenças existentes no acesso aos serviços básicos, como a educação, entre as camadas mais ricas e humildes crescem, o que é demonstrado, por exemplo, na diferença do ensino oferecido pelas escolas públicas, as quais não possuem uma infraestrutura que atenda plenamente os alunos, e particulares do país. Dessa forma, a banalização individual contribui com esse contexto desigual. Ademais, é importante salientar que a inobservância estatal colabora com o aumento dos problemas advindos da segregação socioeconômica do país. De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948, é direito de todos o acesso à saúde e ao bem-estar social. Entretanto, a ausência de políticas públicas eficientes, as quais ajudam a promover a equidade entre os setores da sociedade, dificulta o alcance de todos aos seus direitos inerentes. Em consequência disso, os serviços públicos de saúde são negligenciados e as filas enfrentadas para fazer exames e cirurgias, por exemplo, são imensas, quando comparadas ao serviço particular, o que demonstra a falha do Estado na promoção da igualdade no país. Logo, a inatenção governamental corrobora esse quadro nacional. Destarte, a banalização da sociedade e do Poder Público ajuda a perpetuar as consequências da desigualdade social no Brasil. Assim, é necessário que a mídia, na qualidade de difusora de informações, promova, por intermédio de documentários, o diálogo e a manifestação dos cidadãos contra a segregação existente entre os setores de cunho público e particular do país, com o intuito de mitigá-la. Além disso, urge que o governo, como gestor dos interesses coletivos, garanta, por meio de políticas públicas eficientes, a equidade no acesso aos serviços básicos de saúde e educação, por exemplo, a fim de atenuar o desequilíbrio social no território brasileiro. Dessa maneira, cenários, como o descrito na triologia "Jogos Vorazes", não serão vistos com recorrência fora do meio fictício.