TEMA: "A SUPEREXPOSIÇÃO DA IMAGEM INFANTIL NAS REDES SOCIAIS"
Na série “Lúcifer”, disponível na plataforma de “streaming” Netflix, um policial corrupto sequestra Trixie, a filha de uma detetive, após analisar as publicações que mostravam a localidade exata da criança. Fora das telas, a superexposição da imagem infantil nas redes sociais é um entrave para a sociedade brasileira. Esse grave problema social está ligado, principalmente, à alienação parental e aos atuais contatos sócio-digitais.
Sob tal ótica, é importante destacar que a interferência, promovida por pais ou responsáveis, na formação psicológica da criança colabora com a manutenção da problemática. Isto é, a imposição de estereótipos comportamentais ao menor como única forma de agir e socializar impulsiona a deturpação do estado psíquico infantil, na medida em que os indivíduos não desenvolvem autonomia crítica. Nesse sentido, a ampla divulgação do cotidiano infantil em mídias digitais é um fator negativo, posto que, majoritariamente, os pais têm uma necessidade de promoção de suas plataformas e acabam invadindo a privacidade dos seres juvenis. Desse modo, uma pesquisa realizada pela empresa de comunicação Google atesta esse panorama nacional, já que foi possível identificar que os usuários com faixa etária entre 4 e 16 anos tendem ao desenvolvimento de uma consciência elitista e consumista, uma vez que perdem boa parte da infância frente ao universo digital.
Ademais, vale ainda salientar que os hodiernos fluxos comunicativos potencializam a exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais. Nessa perspectiva, a constante busca pela criação da imagem de uma vida perfeita no âmbito virtual insere os menores em tal cenário ilusório. Entretanto, essa dinâmica cotidiana está restrita ao enredo do “mundo online”, visto que existe uma pluralidade de ações e expressões, as quais possibilitam amplas relações sociais. Essa dinâmica pode ser ratificada na teoria “Sociedade do Espetáculo”, do escritor francês Guy Debord, que apresenta que as comunidades contemporâneas desenvolveram mecanismos de convivência completamente utópicos e baseados em falsas aparências, assim como em um espetáculo teatral. Dessa forma, fica evidente que a formação de uma imagem pública precoce pode inserir o público infanto juvenil em uma esfera manipuladora e invasiva.
Portanto, medidas são necessárias para reduzir a exposição da imagem infantil no meio digital. Para tanto, é fundamental que o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), em parceria com o Ministério da Educação, órgão responsável pela promoção de atividades educativas, crie um projeto audiovisual sobre os impactos negativos da invasão do espaço individual na infância, por meio da divulgação em escolas e plataformas digitais, com o fito de desconstruir sistemas manipulativos e formar cidadãos autônomos. Só assim, divergente da realidade experienciada por Trixie, a comunidade juvenil brasileira caminhará, a médio prazo, em direção de um futuro seguro.