Na obra modernista " Vidas Secas", de Graciliano Ramos, é retratada a história de retirantes nordestinos que fogem do castigo da seca. No enredo, Fabiano, chefe da família, sente-se como um "animal" por não ter o domínio da língua padrão. De maneira similar à realidade, constata-se que, no Brasil, o preconceito linguístico é persistente. Ora, isso ocorre devido, entre outros fatores, à negligência governamental e ao ideal segregacionista que envolve o corpo social brasileiro. Nesse sentido, hão de ser analisados tais fatores, a fim de que se possa saná-los de maneira eficaz. Essa problemática se deve, a princípio, à inação do poder administrativo, haja vista que as escolas não dispõem de recursos vitais para a mudança da coletividade. Nesse viés, conforme o filósofo Paulo Freire, " a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda". No entanto, o que deveria ser visto como fator primordial para modificação social é posto em segundo plano, já que o sistema educacional brasileiro omite as diversas variantes linguísticas existentes no país como, por exemplo, o ensino das regras sólidas da norma padrão. Isso porque a base educacional formou-se, infelizmente, através de um processo excludente, advindos desde o período colonial, no qual o Governo proibiu o uso de línguas nativas nas escolas e, assim sendo, na colônia. Logo, o desmazelo ao ensino é deplorável e dá-se em razão do Estado, que corrobora, demasiadamente, para a contínua desvalorização à diversidade linguística do país e a perpetuação da intolerância. Por conseguinte, é imperativo pontuar que a comunidade emerge como precursor para fomentar tal prática. Desse modo, sob a perspectiva da socióloga Marilena Chauí, " a democracia deve ser um sistema de direitos igualitários para todos, sem ações que prejudiquem um grupo em prol do outro". Não diferente dos dias atuais, a homogeneização da norma culta reflete a continuidade das hostilidades, já que as suas gradações foram ignoradas, assim, a formação de estereótipos pejorativos intensificou-se e, por muitas vezes, a variante padrão é usada como forma de exclusão social. Como consequência disso, nota-se, lamentavelmente, a segregação de indivíduos que são menosprezadas por se expressarem de uma forma diferente da exigida, por isso, o sentimento de igualdade se esvai. Depreende-se, portanto, a necessidade de medidas para que a desarmonia na coletividade seja minimizada. Para tanto, cabe ao Ministério da Educação, principal órgão responsável pela educação no país, promover, por intermédio de rodas de discussões na " semana da variante linguística" e com o auxílio de professores da disciplina de Língua Portuguesa, o debate de assuntos referentes as variabilidades existentes, com o objetivo de enfatizar a importância do diferente. Além disso, o Governo Federal deve criar campanhas que sejam vinculadas às mídias abordando o tema em questão, com o fito de desconstruir estereótipos propagados ao longo da história. Diante disso, será tangível, pelo saber, dissipar os pressupostos arraigados que segregam e rotulam inúmeros "Fabiano" na atualidade.