O Brasil está dentre os países de maior concentração de renda do mundo. As desigualdades sociais apresentam-se como problemas estruturais e iminentes do país – estes que, por sua vez, decorrem de fatores históricos e desmentem qualquer possibilidade da meritocracia na sociedade brasileira.
O esforço pessoal e as condições do meio não se anulam: a educação é um dos caminhos mais seguros para a ascensão social, mas até mesmo ela enfrenta grandes obstáculos no cenário brasileiro. A diferença entre a qualidade de ensino nos níveis fundamental e médio dos setores públicos e dos setores privados é gritante. De acordo com os dados do Sistema de Avaliação de Ensino Básico (Saeb), em 2019, apenas 5% dos alunos da rede pública terminam o Ensino Médio com os conhecimentos adequados de Matemática. Quando ampliado para todos os outros campos do saber, percebe-se claramente que as desigualdades sociais têm um grande impacto até mesmo na educação.
Além disso, a meritocracia, quando analisada sob a ótica do mercado de trabalho brasileiro, mostra-se invisível: a concentração de riqueza no Brasil traça paralelos com a herança familiar. O acúmulo intergeracional de riqueza é tão grande que levaria mais de dois séculos para um brasileiro em condição socioeconômica vulnerável atingir a renda média do país, segundo os estudos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Em vista das desigualdades sociais serem evidentes e a meritocracia não deixar de ser um mito no âmbito brasileiro, mais investimentos no ensino básico nas escolas públicas por parte do governo, de forma a preparar o estudante em condição de vulnerabilidade social com o repertório adequado, são de suma importância para que tenha mais oportunidades e melhores empregos, contribuindo para que a sociedade brasileira se torne menos injusta. Assim sendo, o indivíduo será capaz de compreender as nuances do Brasil, assim como as suas complexidades, e não reproduzirá o mito da meritocracia irrefletidamente.