TEXTO I
O que é insegurança alimentar?
O termo é utilizado para especificar quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficientes para sua sobrevivência saudável. Ou seja, quando, por qualquer razão, não há condições de se manter ao menos três refeições diárias saudáveis e em quantidade suficiente para suprir as necessidades do corpo.
Não é só a falta de comida, mas também a substituição de alimentos ricos em nutrientes e vitaminas por alimentos mais baratos na tentativa de compensar o preço. Tais alimentos têm alto teor de farinhas e açúcares. Isso traz impactos para a saúde, como enfraquecimento do corpo, prejuízos no desenvolvimento físico e mental e aumento da probabilidade de doenças.
Tipos de insegurança alimentar
Para fins de estudos, a insegurança alimentar é classificada em três tipos:
- Leve: quando há preocupação ou incerteza se haverá alimentos em casa no dia ou na semana seguinte ou quando a qualidade dos alimentos é comprometida para manter a quantidade necessária para a família;
- Moderada: quando os adultos passam a comer menos ou pulam refeições para garantir a alimentação dos mais novos; […]
- Grave: quando falta alimentos entre todos os moradores, incluindo as crianças. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.
Insegurança alimentar: o que está acontecendo no Brasil?
“A produção de comida de verdade, como alimentos frescos (frutas, verduras, legumes e cereais), vem tendo cada vez mais um custo elevado por escolhas governamentais; especialmente nos últimos cinco anos, pelo desestímulo contínuo às políticas de crédito à agricultura familiar”, explica a nutricionista Melissa de Araújo, coordenadora da Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais. “É esse tipo de agriculturaque, de fato, é responsável pela produção de alimentos para suprir às necessidades da população.”
Ela aponta ainda que o acesso aos alimentos, sobretudo nas áreas urbanas, depende do acesso à renda. “Não podemos e não devemos ter uma visão simplista sobre a situação, acreditando que somente políticas assistencialistas de doação de cestas básicas serão capazes de resolver o problema”, enfatiza.
Paulo Petersen, membro do Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia, explica ainda que a maior parte da produção na agricultura brasileira está destinada à produção de ração, combustíveis e exportação. “Hoje o governo deixou de regular as políticas de segurança alimentar e há uma inflação muito alta junto de níveis de desemprego cada vez mais altos”, adiciona.
“Alimento não pode ser uma mercadoria como outra qualquer”, defende. “É necessário incentivar a agricultura familiar, que segue sendo a principal fonte dos alimentos consumidos, e políticas que favoreçam a distribuição local”, afirma, citando o Programa Nacional de Alimentação Escolar e o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, que estão sendo desmantelados.
EXEMPLO
Em uma das cenas do filme “O menino que descobriu o vento” é retratada a dramática situação de uma família obrigada a reduzir a dieta para uma refeição diária devido à escassez de comida. Não obstante da realidade, a insegurança alimentar e a fome também constituem problemáticas alarmantes para a atual sociedade brasileira. Tais problemas se originam não só no descaso estatal mas também na elevação do preço dos alimentos.
Em primeira análise, vale destacar que a negligência governamental contribui com a defasagem alimentar no Brasil. Dito isso, em consonância com a Constituição Federal de 1988, lei máxima no país, todo cidadão tem direito à alimentação de qualidade. Entretanto, tal direito se faz violado uma vez que, de acordo com o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 10,3 milhões de cidadãos vivem em situação de insegurança alimentar extrema. Dessa forma, analisando tais fatos, evidencia-se como a falta de intervenções estatais tornam a alimentação no país ainda mais precária.
Ademais, é importante salientar que a alta no valor dos produtos alimentícios também potencializa a permanência da fome e da inseguridade alimentar no Brasil. Sob tal perspectiva, o filme “O poço” retrata uma prisão vertical, na qual as refeições são servidas de cima para baixo e os reclusos do topo comem com mais fartura e qualidade que os demais. Fora da ficção, é possível estabelecer uma analogia com o atual cenário brasileiro onde os prisioneiros do topo seriam a classe alta, que se alimenta com abundância e qualidade devido ao grande poder aquisitivo, enquanto os encarcerados dos andares inferiores representariam a população mais humilde, limitada a consumir produtos mais baratos e consequentemente de qualidade inferior e muitas das vezes até duvidosa.
Torna-se evidente, portanto, que medidas se fazem necessárias para combater a insegurança alimentar e a fome no Brasil. Diante disso, cabe ao Governo Federal, órgão de poder máximo no país, por meio de uma maior destinação de verbas, a promoção de campanhas de apoio e incentivo à agricultura familiar, serviço esse responsável por produzir o alimento que abastece as dispensas de milhares de famílias brasileiras, com o intuito de reduzir os preços e tornar os produtos mais acessíveis para a parcela mais pobre da população, objetivando assim, mitigar ao máximo os problemas antes citados e garantir com veemência a segurança alimentar no Brasil.