A xenofobia digital: o discurso de ódio contra imigrantes nas redes sociais brasileiras | Tema de redação

Xenofobia Digital

Em um cenário global cada vez mais conectado, a internet se tornou espaço de expressão, mas também de intolerância. Entre os discursos de ódio que mais cresceram nos últimos anos, a xenofobia digital chama atenção por atingir imigrantes e até brasileiros vistos como “estrangeiros” dentro do próprio país.
Dados da Safernet revelam que as denúncias de xenofobia na internet aumentaram 874% em apenas um ano, superando os registros de racismo e intolerância religiosa. O fenômeno, amplificado pelas redes sociais, expõe o uso irresponsável da liberdade de expressão e revela a urgência de políticas públicas, educação midiática e responsabilização jurídica.

Neste post, você vai compreender as causas e consequências da xenofobia digital, analisar casos reais, como o da atriz Gaby Spanic, denunciando xenofobia em rede nacional  e conhecer repertórios, legislações e referências culturais que podem ser utilizados em redações do ENEM e vestibulares.

TEXTO I

Você já parou para pensar em como o discurso de ódio se espalha contra imigrantes e nordestinos nas redes sociais?
A chamada xenofobia digital vem se tornando um fenômeno preocupante no Brasil, à medida que o ambiente virtual amplia o alcance e a intensidade das manifestações de intolerância.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a xenofobia consiste em atitudes e comportamentos que rejeitam ou difamam pessoas por serem consideradas estrangeiras ou diferentes. No contexto digital, essas manifestações se intensificam com o anonimato e a velocidade das plataformas.

Casos recentes envolvendo refugiados venezuelanos, haitianos e sírios têm se tornado frequentes, especialmente em períodos de crise econômica e polarização política. Além disso, manifestações discriminatórias também são dirigidas a nordestinos, que muitas vezes são alvo de ataques durante períodos eleitorais, reforçando a desigualdade regional e o preconceito histórico.

Segundo levantamento da Secretaria de Direitos Humanos, as denúncias de xenofobia no Brasil cresceram mais de 600% em um ano, e parte expressiva desses casos tem origem em comentários e postagens online. As redes sociais se tornaram, assim, um espelho das desigualdades e da intolerância que atravessam a sociedade brasileira.

Em um país que se orgulha da diversidade cultural e da hospitalidade, o aumento da xenofobia digital evidencia um desafio urgente: como promover uma convivência mais empática e ética no espaço virtual?

Fonte: Adaptado Politize.

TEXTO II – Xenofobia: o ódio que divide o tecido social e incita violações de direitos contra povos e culturas

Em um país historicamente construído pela diversidade, a xenofobia ainda se manifesta como uma das formas mais agressivas de exclusão.
Segundo dados do Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH), a internet é o principal ambiente de disseminação de crimes de ódio no Brasil, com mais de 26 mil denúncias de xenofobia virtual registradas entre 2017 e 2022.

Entre 2021 e 2022, as denúncias cresceram 874%, superando os casos de racismo, intolerância religiosa e LGBTfobia. Esses dados mostram que o discurso de ódio digital tem se tornado um grave problema social, capaz de gerar violências simbólicas e físicas contra grupos vulneráveis.

Para a coordenadora-geral de Promoção dos Direitos das Pessoas Migrantes e Refugiadas do Ministério dos Direitos Humanos, Ana Maria Gomes Raietparvar, é fundamental compreender que migrantes e refugiados fazem parte da sociedade brasileira e possuem os mesmos direitos. Ela ressalta a necessidade de políticas públicas que aliem educação, empatia e regulação das plataformas digitais para conter o avanço da intolerância.

O historiador Gabriel da Fonseca Onofre (UFF) observa que as mídias sociais, apesar de promoverem a democratização da comunicação, tornaram-se “lócus privilegiado para a propagação de discursos xenofóbicos”, dada a dificuldade de responsabilizar autores e filtrar desinformações.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) tem articulado iniciativas como o Fórum de Lideranças Migrantes, Refugiadas e Apátridas (FOMIGRA) e o Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Discurso de Ódio e ao Extremismo, que propõem a criação de um marco regulatório para as plataformas digitais e para o uso ético da inteligência artificial.

Essas ações mostram que combater a xenofobia digital exige mais do que punir: é necessário promover educação cidadã, inclusão digital ética e empatia social.

Fonte adaptada de: Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC)

TEXTO III – Xenofobia cresceu 874% na internet em 1 ano, diz Safernet

Os números mais recentes sobre crimes de ódio na internet revelam um cenário alarmante. De acordo com a Safernet Brasil, as denúncias de xenofobia na internet cresceram 874% em 2022, em comparação com o ano anterior — o maior aumento entre todos os tipos de discurso de ódio registrados no país.

A xenofobia, termo de origem grega formado por xeno (“estrangeiro”) e fobia (“aversão” ou “medo”), refere-se à discriminação contra pessoas de outras nacionalidades ou regiões.
O levantamento mostra que esse tipo de crime ultrapassou até mesmo as denúncias de racismo, misoginia e intolerância religiosa no ambiente digital.

Entre 2021 e 2022, o número de denúncias saltou de 1.097 para 10.686 casos, evidenciando o impacto das redes sociais na propagação de ódio e desinformação. O relatório também aponta que o ambiente online se tornou o espaço mais vulnerável para a disseminação de preconceitos, já que a ausência de regulação e o anonimato dificultam a responsabilização dos agressores.

Segundo Thiago Tavares, diretor-presidente da Safernet, parte das células organizadas que disseminavam conteúdo extremista migraram para grupos fechados e fóruns na deep web, o que torna o rastreamento mais complexo. Ele destaca que o enfrentamento à xenofobia digital depende de educação midiática, políticas públicas e cooperação entre Estado, sociedade civil e plataformas.

Fonte: Adaptado de G1

TEXTO IV – A responsabilização dos casos de xenofobia no ambiente cibernético e a validade das provas digitais

O termo xenofobia tem origem grega: xénos (“estrangeiro”) e phóbos (“medo”), e designa o ódio, rejeição ou violência contra estrangeiros ou pessoas de outras regiões. No Brasil, esse tipo de discriminação tem crescido, especialmente no meio digital, afetando tanto imigrantes quanto brasileiros que sofrem preconceito por origem regional, como os nordestinos.

Segundo a Agência Brasil (2021), o número de imigrantes no país aumentou 24,4% entre 2011 e 2020, chegando a 1,3 milhão de pessoas, especialmente do Haiti, Venezuela e Colômbia. A pandemia da COVID-19 agravou o problema, ao associar asiáticos à origem da doença e fortalecer o ódio virtual.

Do ponto de vista jurídico, a xenofobia passou a ter tratamento mais severo na legislação brasileira. Até 2023, era considerada injúria racial pelo art. 140 do Código Penal, com pena de até três anos. Com a Lei nº 14.532/2023, ela foi incorporada à Lei nº 7.716/1989 (Lei do Racismo), com pena de 2 a 5 anos de reclusão, reconhecendo o ato como crime de racismo, de natureza imprescritível e inafiançável.

Casos emblemáticos vêm reforçando essa mudança. Em 2022, o pastor Tupirani da Hora Lores, líder da Igreja Pentecostal Geração Jesus Cristo, foi condenado a 18 anos e 6 meses de prisão por disseminar discurso de ódio contra a comunidade judaica nas redes sociais.

Além do avanço jurídico, cresce a discussão sobre provas digitais. Prints de tela, isoladamente, não são aceitos como provas válidas pelo Judiciário por serem passíveis de manipulação. Nesse contexto, plataformas certificadas como a Verifact, reconhecida pelo Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), oferecem soluções para a coleta e autenticação de provas online com validade jurídica, já utilizadas por órgãos como o MPF, MPT e TSE.

Essas inovações mostram que o combate à xenofobia digital exige a união entre educação, tecnologia e justiça. Garantir a responsabilização dos agressores e fortalecer a cidadania digital são passos fundamentais para a construção de um espaço online mais ético e seguro.

Fonte: Adaptado de JusBrasil

TEXTO V – Caso Gaby Spanic: xenofobia e o papel da mídia na amplificação do discurso de ódio

O episódio envolvendo a atriz Gaby Spanic, participante do reality show A Fazenda 17, reacendeu o debate sobre a xenofobia e seus reflexos sociais e midiáticos no Brasil. Durante uma dinâmica do programa, o ator Fernando Sampaio afirmou que a artista venezuelana “deveria voltar para seu país”, gerando forte repercussão nas redes sociais e levando a equipe da atriz a denunciar o caso por xenofobia.

Em nota publicada no Instagram, o advogado de Spanic, Diego Figueiredo Ferreira, classificou a declaração como “inaceitável” e reforçou que a atriz “veio ao Brasil de forma legal, contribuindo com o cenário cultural e econômico nacional”. A defesa também informou que todas as medidas legais estão sendo adotadas, tanto na esfera cível quanto criminal, e que o caso foi registrado na Delegacia da Diversidade de São Paulo (DECRADI).

O advogado destacou que a artista representa os mais de 350 mil imigrantes que vivem em São Paulo, e ressaltou que sua presença enriquece o país ao fortalecer a imagem de uma sociedade diversa, acolhedora e plural.

Embora o fato tenha ocorrido em um programa de televisão, sua repercussão nas redes sociais evidenciou como episódios midiáticos de xenofobia ganham escala no ambiente digital, alimentando discursos de ódio e polarizações. Especialistas apontam que a mídia, ao mesmo tempo em que expõe tais casos, também tem o papel de promover reflexões educativas e combate ao preconceito, especialmente quando esses episódios influenciam a opinião pública.

A situação reforça a importância de compreender que xenofobia é crime, previsto na Lei nº 7.716/1989 (Lei do Racismo), com pena de até cinco anos de reclusão. Casos como o de Gaby Spanic demonstram que o preconceito contra estrangeiros — mesmo em contextos de entretenimento — revela fragilidades culturais e educacionais que precisam ser enfrentadas com empatia, legislação firme e educação para a convivência.

Fonte: Adaptado de Metrópoles

Repertórios para usar no tema “A xenofobia digital: o discurso de ódio contra imigrantes nas redes sociais brasileiras”

A xenofobia digital é um problema que une preconceito, desinformação e ausência de empatia. Compreender seus impactos exige conhecer obras e fatos que abordam o medo do “outro”, a manipulação da informação e o papel da tecnologia na amplificação do ódio.

📖 Quais livros ajudam a entender a xenofobia e o preconceito contra estrangeiros?

  • 1. “O Estrangeiro”, de Albert Camus (1942)
    A obra apresenta a sensação de não pertencimento vivida pelo personagem Meursault, que reflete sobre como o “diferente” é marginalizado socialmente. Esse livro pode ser usado para discutir o isolamento e o julgamento moral que muitos imigrantes sofrem no ambiente digital.
  • 2. “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex (2013)
    A autora denuncia as violações de direitos humanos no Hospital Colônia de Barbacena, revelando como a exclusão e a desumanização social têm raízes históricas no Brasil. Pode ser relacionado à ideia de que o discurso de ódio é fruto de processos de desumanização semelhantes.
  • 3. “O Ódio que Você Semeia”, de Angie Thomas (2017)
    A narrativa sobre racismo e violência policial nos Estados Unidos ajuda a compreender como preconceitos estruturais ganham força nas redes sociais, transformando-se em ataques digitais.

🎬 Quais filmes e séries podem ser citados na redação sobre xenofobia digital?

  • 1. “O Terminal” (2004, dir. Steven Spielberg)
    A história de Viktor Navorski, um estrangeiro impedido de entrar nos Estados Unidos, evidencia o tratamento desigual dado a migrantes. Serve para relacionar o preconceito institucional com as barreiras simbólicas criadas no ambiente online.
  • 2. “Green Book – O Guia” (2018)
    O filme aborda o racismo e o desprezo social contra o “outro” e pode ser usado como analogia para o julgamento instantâneo e discriminatório nas redes sociais.
  • 3. Série “Black Mirror” (Netflix)
    Episódios como “Hated in the Nation” e “Nosedive” mostram como o ódio coletivo e a busca por aprovação nas redes geram exclusão, punição e desumanização.

⚖️ Quais legislações podem ser citadas no tema da xenofobia digital?

  • Lei nº 7.716/1989 (Lei do Racismo)
    Define crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A xenofobia se enquadra nesse dispositivo e prevê pena de até cinco anos de reclusão.
  • Lei nº 14.532/2023
    Inclui a injúria racial e a xenofobia na Lei do Racismo, ampliando a punição e reconhecendo essas práticas como crimes imprescritíveis e inafiançáveis.
  • Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014)
    Estabelece princípios para o uso responsável da internet, como o respeito à privacidade e aos direitos humanos, sendo essencial para discutir a responsabilização por discursos de ódio.
  • Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948)
    Em seu artigo 2º, assegura que ninguém deve ser discriminado por origem nacional, opinião ou religião. É uma base ética e filosófica que reforça a argumentação sobre cidadania digital e respeito à diversidade.

🕰️ Quais fatos históricos ajudam a compreender o tema da xenofobia digital?

  • 1. Crise migratória venezuelana (2015–atualidade)
    O fluxo de venezuelanos para o Brasil provocou episódios de preconceito e hostilidade, como os ataques em Pacaraima (RR). Esse fato revela como o medo do “outro” se mantém e é replicado nas redes.
  • 2. Pandemia de COVID-19 (2020)
    O aumento de ataques virtuais contra asiáticos mostra como o discurso de ódio se expande rapidamente em contextos de crise global.

Argumentos para o tema “A xenofobia digital: o discurso de ódio contra imigrantes nas redes sociais brasileiras”

Argumento 1 — A propagação do ódio nas redes sociais reforça a intolerância contra imigrantes no Brasil

Causa:
A ausência de regulação efetiva nas plataformas digitais e o uso indevido da liberdade de expressão favorecem a disseminação de discursos xenofóbicos, que se multiplicam em ambientes virtuais sem responsabilização.

Consequência:
Essa dinâmica cria um cenário de violência simbólica, que reforça preconceitos e estimula ataques verbais contra grupos migrantes, afetando sua integração social e o sentimento de pertencimento.

Exemplo de grupo atingido:
Migrantes venezuelanos e haitianos, que frequentemente são alvos de comentários de ódio e estigmatização nas redes, especialmente em períodos de crise econômica ou política.

Repertório aplicado:
O sociólogo Pierre Bourdieu, em suas análises sobre violência simbólica, explica que a linguagem pode ser usada como instrumento de dominação. Essa teoria se aplica aos ambientes digitais, onde discursos de ódio reproduzem hierarquias sociais e legitimam exclusões.

Argumento 2 — A falta de educação midiática e empatia social amplia o discurso de ódio online

Causa:
A ausência de uma formação digital crítica e humanizadora leva usuários a reproduzirem estereótipos e preconceitos, confundindo humor, opinião e discriminação.

Consequência:
O comportamento intolerante se naturaliza e a xenofobia passa a ser vista como algo banal, prejudicando o convívio plural e democrático nas redes e fora delas.

Exemplo de grupo atingido:
Imigrantes asiáticos, que durante a pandemia da Covid-19 foram vítimas de ataques digitais em razão da origem do vírus, além de nordestinos e refugiados, constantemente associados a estigmas sociais.

Repertório aplicado:
O filósofo Zygmunt Bauman, ao discutir a modernidade líquida, aponta que a fluidez das relações e a fragilidade dos laços sociais favorecem a desumanização do outro. No ambiente digital, essa liquidez intensifica a intolerância e o desprezo por identidades diversas.

Por fim, o crescimento da xenofobia digital revela que o avanço tecnológico não tem sido acompanhado por igual progresso ético e social. As redes sociais, que deveriam fortalecer a convivência e o diálogo entre culturas, acabam servindo como palco para o preconceito e o discurso de ódio. Para reverter esse cenário, é essencial unir esforços educativos, jurídicos e tecnológicos que promovam uma internet mais humanizada.

CONCLUSÃO

Por fim, é possível perceber que a xenofobia digital não se restringe a simples comentários de ódio nas redes sociais, mas reflete um problema estrutural que ameaça a convivência democrática e o respeito à diversidade no Brasil. A internet, embora seja um espaço de expressão e pluralidade, tem se transformado em terreno fértil para a disseminação de discursos intolerantes, que atingem sobretudo grupos vulneráveis, como imigrantes e refugiados.

Para enfrentar essa realidade, é essencial promover uma educação midiática crítica, que forme cidadãos capazes de identificar, denunciar e combater o discurso de ódio online, além de políticas públicas que fortaleçam a fiscalização das plataformas digitais. Também é necessário ampliar o diálogo social sobre empatia, respeito e diversidade, construindo uma cultura digital pautada na ética e nos direitos humanos.

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