O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma etapa crucial para quem busca uma vaga no Ensino Superior. Dessa forma, uma das partes mais desafiadoras e decisivas do exame é a redação, isto é, que pode determinar a aprovação ou não do candidato, por isso, compartilharemos redações nota mil do Enem 2023.
Nesse sentido, em 2023, o tema da redação foi “Os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, ou seja, trazendo à tona discussões importantes sobre a sociedade.
Desse modo, neste post, compartilhamos redações nota máxima. Então, esses exemplos servem de inspiração e guia para quem está se preparando para futuras edições do Enem ou outros vestibulares.
Conheça os exemplos de redações nota 1000
📝 Amanda Zampiris
Na obra intitulada “Brasil, País do Futuro”, Stefan Zweig, autor austríaco, em sua visita ao Brasil, defende a ideia de que o país estava destinado a ser um dos mais importantes países do mundo no futuro. No entanto, 30 anos depois, as previsões do autor ainda não se concretizaram e os desafios para o trabalho de cuidado – realizado por mulheres – são entraves para isso. Observa-se, assim, que isso ocorre porque a negligência governamental e a permanência histórica impedem essa evolução.
Sob esse viés, é preciso atentar para a omissão estatal presente nessa problemática. Nessa perspectiva, o pensador Thomas Hobbes afirmou que o Estado é responsável por garantir o bem-estar da população. Entretanto, isso não ocorre no Brasil, pois a falta de atuação das autoridades corrobora a permanência do trabalho não remunerado, principalmente, por mulheres – que inclui cuidar de crianças e idosos, bem como os afazeres domésticos. Visto que o Governo não tem cumprido seu papel no sentido de assegurar os direitos básicos a esse grupo social, como o direito a um salário digno. Assim, as funções sociais e estatais são descumpridas, agravando o problema.
Outrossim, a permanência histórica é fator importante como constituinte desse imbróglio. Nesse sentido, consoante o pensamento do antropólogo Claude Lévi-Strauss, só é possível compreender adequadamente as ações coletivas por meio do entendimento dos eventos históricos. Desse modo, a questão da invisibilidade do trabalho de cuidado feito por mulheres majoritariamente pobres e vítimas de discriminação de gênero, mesmo que fortemente presente no século XXI, apresenta raízes indissociáveis à história brasileira – que foi marcada pelo machismo e pelo patriarcado -, uma vez que as atividades domésticas não pagas ainda são delegadas às pessoas do sexo feminino de forma quase que exclusiva.
Faz-se necessário, portanto, que meios sejam criados para intervir nesse óbice. Logo, o Governo Federal – órgão responsável pela administração federal em todo território nacional – deve estabelecer políticas públicas que garantam a remuneração e a valorização do trabalho de cuidado, por meio da utilização de verbas governamentais para o pagamento de salários. Tal ação deve ser realizada com a finalidade de mitigar a invisibilidade dos afazeres domésticos realizados pela maioria da sociedade brasileira e, consequentemente, combater as raízes históricas presentes nessa questão. Dessarte, o Brasil poderá se
tornar um “País do Futuro”, como defendido por Stefan Zweig.
📝 Maria Laura
O livro quarto de despejo diário de um favelado, escrito por Carolina Maria de Jesus na década de 1950, nas vivências da autora na favela do Canindé e suas dificuldades para obter sozinha o sustento de seus três filhos. De maneira análoga, cerca de 70 anos após a publicação do diário, a realidade enfrentada por por Canindé permanece no Brasil contemporâneo, visto que o trabalho de cuidado realizado por mulheres, apesar de extremamente importante para a sociedade racional, continua invisibilizado. Diante disso cabe refletir cerca do legado histórico patriarcal e da intensificação das desigualdades para compreender os desafios que impedem a valorização do serviço feminino de existência.
Nesse contexto, é válido considerar a existência de permanências históricas como o principal fator causador da invisibilidade do trabalho de cuidado exercido por mulheres. Isso ocorre, pois, desde os primórdios do Brasil colônia, a população feminina tem recebido o status de sexo frágil e, por supostamente não possuírem aptidões para o sustento, tornaram-se encarregados apenas das tarefas domésticas. Sob essa ótica, é nítido que, duzentos anos depois da superação da condição de colônias, as raízes patriarcais continuam sendo refletidas nas relações modernas brasileiras, uma vez que as mulheres permanecem. Responsáveis por serviços não remunerados associadas à assistência de idosos da família, o que resulta na manutenção de estereótipos de gênero e na redução do tempo disponível para a inserção feminina no mercado de trabalho, posto que os trabalhos assistencialistas são – geralmente – exercidos de forma integral. Assim, tornam-se evidente que o legado histórico desvaloriza o papel da mulher no cuidado familiar, além de corroborar seu estado de vulnerabilidade devido à falta de remuneração e à dependência financeira de seus maridos.
Ademais, é relevante considerar s ampliação de disparidades sociais como uma consequência direta da problemática do cuidado invisibilizado. De acordo com o escritor brasileiro Ariano Suassuna, o Brasil é uma nação dividisse em dois fragmentos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos, sendo a estrutura nacional criada para suprir apenas às necessidades dos primeiros. A partir disso, percebe-se que, em famílias cuja a renda não é suficiente para contratar profissionais especializados na assistência de diversos setores sociais, tal tarefa recai sobre as mulheres que ué compõe o âmbito familiar, o que os condiciona a permanecer na miséria por impossibilitar seu acesso a meios de mudança de vida, como a educação e o emprego remunerado. Logo, é notório que a desvalorização do trabalho de cuidado reforça o pensamento de suassuna, intensificando a marginalização feminina e a separação dos privilégiados e dos despossuídos.
Portanto, tornam-se claros os desafios enfrentados pela invisibilidade dos serviços de cuidado e a necessidade de combatê-lo. Dessa maneira, é imperativo que o governo federal atue na criação de subsídios destinados a mulheres que exercem o trabalho assistencialistas em tempo integral. Isso deve ocorrer por meios de alteração na lei de diretrizes orçamentárias – redirecionando verbas de forma igualitária para famílias vulneráveis em todo o país -, a fim de reduzir as disparidades sociais e, consequentemente, superar o legado histórico patriarcal que atingiu Carolina Maria de Jesus e outros expoentes da população feminina brasileira.📝 Indira Morgana de Araújo Silva
A Constituição Cidadã traz, entre suas diretrizes legais, a igualdade entre homens e mulheres, nas diversas áreas, o que inclui a esfera laboral. No entanto, na prática, a realidade brasileira tem sido diferente do que propõe a lei, sobretudo, no que se refere aos desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado, em grande parte, realizado pelas mulheres. Logo, debater sobre os principais fatores relacionados à problemática — raiz cultural e negligência estatal — é indispensável para a reversão do atual quadro no Brasil.
De início, é válido salientar que os impasses relativos à ausente visibilidade do trabalho feminino de cuidados decorre de padrões culturais construídos ao longo dos séculos. Nesse sentido, a sociedade brasileira naturalizou as atribuições de zelo como o outro de trabalho doméstico, fundamentalmente, às mulheres, como se tais atividades estivessem associadas às suas características biológicas. Entretanto, segundo o que afirma a socióloga Simone de Beauvoir, em seu livro “O Segundo Sexo”: “Não se nasce mulher, torna-se”. Sob a ótica “beauvoiana”, percebe-se, então, que aquilo que vem a ser tido do escopo feminino, por exemplo, os cuidados com o próximo e com o lar às mulheres e não aos homens. Em consequência do exposto, dificulta-se a valorização desse tipo de labor em termos legais e remunerativos, pois, já que é “natural”, em consequência, para o senso comum, não haveria motivos para reconhecimentos formais. Portanto, corrigir as visões deturpadas não apenas de contradizer a Constituição de 88, como também é essencial para o enfrentamento do problema no país.
Ademais, é imprescindível destacar o falho papel do Estado quanto ao endosso da invisibilidade do mundo laboral das cuidadoras da nação, principalmente, a partir de um olhar socioeconômico. Isso acontece, porque, conforme apontava o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes, desde o final da escravatura, no Brasil, pouco foi feito pelo governo no que diz respeito à inserção do negro na sociedade; sendo, naquele contexto, os meninos pretos destinados aos trabalhos nas feiras e as meninas pretas, para o serviço doméstico. Assim, como de outrora até os dias atuais, pouco foi feito pelo poder público, para modificar tal padrão, é esta última a maioria a qual permanece como empregadas domésticas ainda pouco valorizadas, cuidadoras mal remuneradas e donas de casa com pouca qualificação educacional e profissional. Dessarte, gerar mais benefícios legais a esse público é medida incontroversa para reverter o cunho de desigualdade de etnia e de classe relacionadas à questão.
Destarte, para enfrentar a invisibilidade do trabalho feminino de cuidado, algumas ações devem ser adotadas. Dessa forma, o Poder Legislativo, na figura das deputadas (estaduais e federais) e das senadoras, dada a sua representatividade do coletivo feminino, deve difundir informações e ampliar direitos às cuidadoras de pessoas e de lares. Isso pode ser feito através do desenvolvimento de projetos de lei responsáveis por criar campanhas modificadoras das construções sociais de gênero e por meio da elaboração de emendas constitucionais (inclusive para a PEC das domésticas). Com tais atitudes, objetiva-se corrigir desproporcionalidade de gênero no desempenho das referidas atividades, bem como, aumentar a visibilidade e as benesses legais às mulheres pretas cuidadoras, reduzindo-se, consequentemente, as desigualdades ligadas ao tema.
📝 Matheus Almeida
Por meio do seu livro “Brasil, país do futuro” – publicado no último século – o escritor austríaco Stefan Zweig expressou a sua confiança de que a nação cresceria e se desenvolveria exponencialmente. Para além disso, nos dias atuais, a sociedade brasileira vivencia uma situação inversa, uma vez que a constante invisibilidade feminina relacionada ao trabalho de cuidado e seus impactos negativos na contemporaneidade não são características de um “país do futuro”. Desse modo, algumas negligências governamentais impulsionam a desvalorização trabalhista de cuidado desempenhado pela mulher brasileira e promovem o desenvolvimento de diversas desigualdades econômicas. Logo, tanto a inefetividade das leis direcionadas ao público feminino quanto a escassez de investimentos na educação capacitiva são suscitadores da problemática.
Em primeiro plano, é imprescindível destacar a baixa eficiência das leis relacionadas ao trabalho da mulher como um fato que potencializa a invisibilidade do esforço doméstico e de cuidados desse grupo. Nesse sentido, o escritor brasileiro Gilberto Dimenstein defende que a legislação brasileira funciona somente no papel e, na prática, é ineficiente. A partir disso, tal tese pode ser comprovada por meio da má aplicação das leis trabalhistas femininas, uma vez que tais documentos não garantem, efetivamente, os direitos fundamentais da mulher, especialmente no âmbito do trabalho, e geram uma dependência dessa parcela ao cuidado doméstico, que é amplamente desvalorizado e, muitas vezes, não remunerado. Logo, tal insuficiência do sistema legislativo promove uma exploração exagerada da população feminina no país.
Além disso, vale ressaltar, ainda, a falta de verbas destinadas à educação como um fator que agrava e desvaloriza o trabalho de cuidado exercido pela mulher brasileira. Nesse sentido, o filósofo esloveno Slavoj Zizek afirma que os políticos liberais modernos priorizam interesses mercadológicos e menosprezam atitudes que beneficiem a coletividade. Dessa maneira, verifica-se uma imprudência estatal que, por sua vez, despreza a importância da educação ao não investir na capacitação feminina, o que impede a entrada desse grupo no mercado de trabalho e obriga a mulher a realizar os desvalorizados “trabalhos de cuidado”. Com isso, atitudes que visem ampliar a qualidade do sistema educacional brasileiro mostram-se amplamente necessárias.
Portanto, vistos os fatores que impactam negativamente na valorização do trabalho de cuidado feminino, medidas são necessárias para combatê-los. Cabe ao governo federal a realização de fiscalizações legislativas e, por meio de inspeções e vistorias em residências de risco, verificar se as leis trabalhistas femininas estão sendo devidamente aplicadas, a fim de garantir a não exploração da mulher doméstica. Ademais, o Ministério da Educação deve, através do FUNDEB – o Fundo Nacional de Educação Básica destinar investimentos às escolas, visando promover uma capacitação geral e inserir as mulheres em um mercado de trabalho justo. Somente assim, o público feminino conquistará a devida visibilidade no âmbito do trabalho.
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📝 Heloisa Vitória
Por meio do seu livro “Brasil, país do futuro” – publicado no último século – o escritor austríaco SNa obra “Utopia”, de Thomas More, é retratada uma sociedade perfeita e em harmonia, a qual é livre de conflitos e mazelas. Todavia, fora de ficção, a realidade contemporânea está distante disso, haja vista os desafios para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado exercido pela mulher no Brasil. Por certo, a negligência governamental e a desigualdade social são fatores que favorecem esse quadro.
Percebe-se, a princípio, que o descaso estatal possui íntima relação com o revés. Nessa ótica, de acordo com o filósofo John Locke, configura-se como um rompimento do Contrato Social, já que o Estado não cumpre com sua função de garantir que todos desfrutem de seus direitos. Assim, devido à débil ação do Poder Público e à insuficiência de legislações, os impasses para acabar com a invisibilidade vivenciada por aquelas que realizam o trabalho de cuidadoras, sejam elas babás, donas de casa ou empregadas domésticas, têm crescido cada vez mais no Brasil. Dessa forma, é inadmissível que esse cenário continue a perdurar.
Ressalta-se, ademais, a situação de vulnerabilidade em que diversas cuidadoras estão inseridas como impulsionadora do problema. Nesse contexto, segundo o escritor Ariano Suassuna, o Brasil é dividido em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos. Sob esse viés, grande parte dessas mulheres vivem em condições precárias, por isso, tendem a aceitar qualquer coisa e realizam até mesmo trabalhos sem remuneração; o que faz com que as dificuldades para enfrentar essa problemática aumentem e tornem essas mulheres cada dia mais invisíveis perante o corpo social. Destarte, é imprescindível que haja mudança.
Infere-se, portanto, a necessidade de combater essa problemática no Brasil. Logo, cabe ao Governo, como Ministério do Trabalho, desenvolver leis mais rígidas e projetos sociais, por meio de petições e da criação da campanha “Cuidar também é trabalhar”, a fim de vencer os impasses enfrentados pelas cidadãs que exercem a função de cuidadoras e garantir que passem a ser enxergadas e não sofram mais com a invisibilidade e a desvalorização. Por conseguinte, uma sociedade mais próxima da que é citada em “Utopia” será consolidada.
📝 Millena Martins Bacelar
Em seu poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, o autor modernista Manoel Bandeira vislumbrou uma sociedade idealizada, para se refugiar de uma realidade na qual o eu lírico não era feliz, evidenciando a insatisfação no tocante ao mundo concreto. Nesse sentido, fora da ficção, no Brasil, muitos indivíduos são acometidos por tal disfunção, uma vez que são vários os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher. Logo, entre eles, estão a negligência estatal e a precária formação do ser.
Sob esse viés, vale pontuar, como uma das principais dificuldades associadas à não visibilidade do cuidado exercido em forma de labor pela mulher, no país, a indiligência governamental. Nessa perspectiva, o jornalista Gilberto Dimenstein elucida que a letargia das instituições públicas predispõe um empecilho significativo na materialização dos direitos preconizados na Carta Magna. À luz dessa asserção, é notório que o Estado não tem cumprido seu papel de modo adequado, visto que são ínfimas as políticas de remuneração adequada promovidas, as quais visem ao oferecimento de salários suficientes para viabilizar melhores condições de vida, como o aumento do poder compra de itens básicos e essenciais à sobrevivência, a exemplo de artigos de alimentação e de higiene pessoal. Como efeito, observa-se um cenário de desfacelamento da dignidade humana de muitas mulheres no ofício em voga.
Outrossim, faz-se mister destacar, como outra dificuldade a ser defrontada para combater a invisibilidade do trabalho de cuidadoras, na nação, a deficitária formação civil, que leva ao preconceito social. Nesse contexto, pode-se citar o fato de que muitas escolas são ineficientes em promover uma maior conscientização acerca da importância dos serviços de cuidado desempenhado, principalmente, por pessoas do sexo feminino, o que provoca um panorama de desvalorização e de descriminação das profissionais que, em grande parte das vezes, são subjugadas por suas características fenotípicas. Na linha desse raciocínio, cabe mencionar a “Teoria da Coercitividade”, do sociólogo Émile Durkheim, ao afirmar que, se o pensamento hegemônico defende determinada ideia, nesse caso, de que essas atividades de cuidado não são relevantes para o desenvolvimento do país e de que as mulheres que a praticam são inferiores, por questão de raça ou gênero, o povo tende a segui-la.
Portanto, com o fito de dar visibilidade ao trabalho de cuidado realizado pela mulher, no Brasil, o Governo Federal, pilar inicial da pátria, deve investir mais em políticas de remuneração adequada e justa, por meio da destinação de um maior erário, que deverá ser retirado do Produto Interno Bruto, correspondente ao fornecedor de capital para fins como esse. Ademais, as Escolas, como agentes de socialização, precisam promover uma maior conscientização, mediante a elaboração de palestras e de debates, os quais informem a relevância desse ofício e da não discriminação das mulheres que o exercem, com o intuito de minimizar o preconceito. Assim, os brasileiros deixarão de protagonizar a distopia de Bandeira.
📝 Victória da Silva
A canção “Se eu largar o freio”, do cantor Péricles, fala sobre a indignação de um homem que não se sente mais amado por sua esposa, já que ela abandonou os afazeres domésticos. s versos do sambista não se limitam ao âmbito artístico, mas configuram um reflexo da triste realidade enfrentada por muitas mulheres brasileiras, cujo trabalho de cuidado é invisilibizado em razão do machismo e da negligência governamental. Destarte, é primordial combater as origens do revés, a fim de mitigá-lo.
Nesse sentido, vale salientar que a mentalidade sexista vigente na sociedade brasileira é determinante para manutenção desse cenário caótico. De acordo com Simone de Beauvoir, “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Sob essa perspectiva, é possível ampliar o conceito de gênero, haja vista que é necessário desconstruir a ideia de que homens e mulheres desempenham papéis fixos na sociedade em razão, exclusivamente, de sua genética. Na verdade, a concepção sobre o feminino excede a Biologia, uma vez que, em conformidade com Beauvoir, a função da mulher é imposta pela sociedade que, por sua vez, é majoritariamente machista. Dessarte, pode-se dizer que a desvalorização dos serviços de cuidado fornecidos pelas mulheres está diretamente relacionada à noção equivocada de que elas nasceram para realizar tais atividades. Logo, everter a mentalidade sexista é imprescindível para superar o entrave.
Outrossim, a ineficiência da máquina pública é também um fator que fomenta a perpetuação desse quadro alarmante. Segundo o filósofo John Rawls, é dever do Estado garantir a igualdade de oportunidade para todos. Dessa forma, a omissão do poder público agrava a invisibilidade do trabalho doméstico feminino e, consequentemente, impossibilita sua justa remuneração. Além disso, o tempo gasto pelas mulheres em suas jornadas de ofício para a família impede que elas estudem, trabalhem e cuidem da própria saúde. Dessa maneira, a ineficácia do governo em valorizar essas mulheres acentua problemas de desigualdade de oportunidades, conforme pontuava Rawls, especialmente entre homens e mulheres. Isso porque pessoas do sexo masculino são socialmente isentas desses trabalhos, como afirmava Simone de Beauvoir.
Infere-se, portanto, que medidas são necessárias para dar notoriedade às atividades laborais de cuidados desempenhadas por mulheres. Para isso, o Ministério da Educação, como órgão responsável por construir a mentalidade dos cidadãos, deve incluir, na Base Nacional Comum Curricular, a disciplina “tarefas domésticas”, de modo a orientar também os homens na realização desses trabalhos, a fim de reverter a mentalidade machista que impera. Ademais, o governo federal, como instância máxima executiva, deve criar uma agenda econômica democrática por intermédio da destinação de recursos voltados à remuneração das mulheres que prestam serviços de cuidado, com a finalidade de valorizá-las e garantir a igualdade de oportunidades. Assim, os versos da canção do Péricles deixarão de representar o corpo social brasileiro.
📝Maria Luiza Jannuzzi
De acordo com a pensadora brasileira Djamila Ribeiro, o primeiro passo a ser tomado para solucionar uma questão é tirá-la da invisibilidade. Porém, no contexto atual do Brasil, as mulheres enfrentam diversos desafios para que seu trabalho de cuidado seja reconhecido, gerando graves impactos em suas vidas, como a falta de destaque. Nesse sentido, essa problemática ocorre em virtude da omissão governamental e da influência midiática.
Dessa forma, em primeiro plano, é preciso atentar para o descaso estatal em relação aos obstáculos enfrentados diariamente por mulheres que trabalham como cuidadoras. Segundo John Locke, “as leis fizeram-se para os homens e não para as leis”. No entanto, a inércia governamental direcionada a tais pessoas não cumpre com o previsto na Carta Magna, visto que a falta de investimento em políticas públicas causa dificuldades no âmbito profissional deste setor – como a desvalorização salarial. Isso contribui para que suas necessidades sejam cada vez mais negligenciadas.
Além disso, a influência dos meios digitais é um fator agravante no que tange ao problema. Para Chimamanda Adichie, mudar o “status quo” – o estado atual das coisas – é sempre penoso. Essa conjuntura pode ser observada no papel que a mídia possui na luta diária de mulheres que exercem o trabalho do cuidado ou doméstico, uma vez que ela auxilia no fortalecimento de uma mentalidade social machista no país. Isso ocasionou o silenciamento da população feminina, enraizando a lógica do patriarcado na sociedade. Diante do exposto, as mulheres perdem a voz na busca por direitos profissionais na área de cuidado, ao ser propagada a ideia de que essa função é sua, e somente sua, obrigação.
📝 Francisco Roney
A Constituição Federal, promulgada em 1988, foi esboçada com o objetivo de delinear direitos básicos para todos os cidadãos omo condições satisfatórias de trabalho. Contudo, hodiernamente, esse postulado constitucional é deturpado, visto que o contato com a área trabalhista, por meio do trabalho de cuidado realizado por mulheres, se encontra na invisibilidade e não efetivado na sociedade nacional. Acerca disso, para discutir a questão de maneira ampla, hão de ser analisados os seguintes fatores: as desigualdades no acesso à informação e a inobservância governamental.
Em primeiro âmbito, é válido perceber o panorama de assimetria social como fator potencializador da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Segundo Ariano Suassuna, ilustre pensador brasileiro, o território nacional está dividido em dois países distintos; o dos privilegiados e o dos despossuídos. Sob essa lógica, o autor faz um alerta a respeito da desigualdade de renda, de oportunidades e de acesso à informação vigente no Brasil. Nesse sentido, parcela da população feminina, majoritariamente jovem e preta, padece frente à carência de informações relacionadas às garantias de assistência previstas para esse setor trabalhista, pois tem dificuldade em obter meios de comunicação, como aparelho o celular, pelo custo elevado. Esse cenário potencializa a invisibilidade do trabalho de cuidado, tendo em vista que a desinformação permite que muitas mulheres fiquem passivas e inativas na busca por seus direitos, ocasionamento, consequentemente, explorações de jornadas de trabalho exaustivas, muitas vezes, não remuneradas. Dessa maneira, por não reconhecer a importância da assistência e da regulamentação do trabalho, por exemplo, muitas mulheres assumem rabalhos de cuidado sozinhas e na informalidade, conduta que dá margem à formação de diversos problemas, como desgastes físicos e psicológicos, dificultando, assim, o combate à invisibilidade do trabalho de cuidado. É essencial, então, a difusão de informações sobre a assistência para esse setor laboral.
Outrossim, cabe enfatizar a negligência governamental como um dos principais fatores que viabilizam a invisibilidade do trabalho de cuidado no tecido social. Nesse aspecto, por não investir suficientemente na criação e na implementação de projetos que fiscalizem e promovam assistência para as trabalhadoras de cuidado, o país omite esse impasse do meio comunitário e permite, dessa forma, a continuidade desse infeliz cenário de exploração feminina. Nessa perspectiva, como afirmou o filósofo Gilberto Dimenstein, em sua obra “Cidadão de Papel”, a legislação brasileira é ineficaz, dado que, embora aparente ser completa na teoria, muitas vezes não se concretiza na prática. Prova disso é a escassez de políticas públicas satisfatórias voltadas para a aplicação do Artigo 23 da “Constituição Cidadã”, que garante, entre tantos direitos, condições dignas e satisfatórias de trabalho. Sob esse viés, evidencia-se que a pouca atuação do Estado no que concerne à garantia de condições laborais dignas para as mulheres possibilita, de certa forma, a existência de várias “cidadãs de papel”, no Brasil, uma vez que embora um ambiente de trabalho satisfatório seja um direito constitucional, muitas mulheres sofrem com a falta de assistência ao realizar trabalhos de cuidado. É preciso, pois, como alternativas ao enfrentamento da invisibilidade do labor de cuidado, a reformulação dessa postura estatal.
Portanto, é nítido que o debate sobre o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil é relevante e precisa ser difundido. Para tanto, urge, que as instituições educacionais, a exemplo de escolas e faculdades, promovam, por meio de verbas governamentais, campanhas e palestras em espaços públicos, validando a importância da valorização do trabalho de cuidado e informando as garantias assistenciais desse setor para a sociedade, visando garantir a construção de uma mentalidade crítica na coletividade. Ademais, cabe ao Ministério do Trabalho desenvolver, em parceira com o Ministério da Mulher, iscalizações em ambientes de trabalho de assistência, aspirando mitigar formas de exploração de laborais de cuidado. Quiçá, nessa via, tornar-se-á notável a amenização do infortúnio, e a Constituição será cumprida de forma precisa.
Como são avaliadas as redações do Enem?
Primeiramente, é válido entender que a redação do Enem é avaliada com base em cinco competências que vão desde o domínio da norma culta da língua portuguesa até a elaboração de uma proposta de intervenção para o problema abordado, por exemplo.
Portanto, conhecer esses critérios é fundamental para direcionar seus estudos. Por isso, resumimos aqui como funciona a avaliação:
Critérios de avaliação
Competência | Pontuação | Critérios de Avaliação |
I | 0 a 5 | Estrutura sintática desde inexistente a excelente, com avaliação baseada na quantidade de desvios gramaticais e sintáticos. |
II | 1 a 5 | Avaliação da abordagem do tema, desde tangencial a completa, incluindo a presença e qualidade das 3 partes do texto (Introdução, Desenvolvimento, Conclusão), bem como o uso produtivo de repertório. |
III | 0 a 5 | Avaliação do projeto de texto e seu desenvolvimento, desde a ausência de foco até um projeto estratégico com desenvolvimento completo de informações, fatos, e opiniões. |
IV | 0 a 5 | em seguida, tem-se a avaliação da coesão textual, desde a ausência de articulação até a presença expressiva de elementos coesivos intra e interparágrafos, com ênfase no uso adequado de operadores argumentativos e outros elementos coesivos para estabelecer clareza e ligação lógica entre ideias. |
V | 0 a 5 | Avaliação da proposta de intervenção, desde a ausência de proposta até a apresentação de 5 elementos válidos (Agente, Ação, Meio/Método, Efeito, Detalhamento) para a solução do problema abordado. |
Formas Elementares de Anulação | – | Inclui cópia da Prova de Redação/Caderno de Questões, texto ilegível, texto em língua estrangeira (ou seja, quando superior a 7 linhas em Língua Portuguesa), entre outros. |
Fuga ao Tema | – | Textos que não tratam do tema ou do assunto proposto são anulados. |
Não Atendimento ao Tipo Textual | – | Textos que não se apresentam no formato dissertativo-argumentativo exigido pelo ENEM são anulados. |
Parte Desconectada | – | Inclui impropérios, ofensas, zombarias, identificação do participante, reflexões desconexas, orações ou mensagens religiosas, políticas, ou sobre outros assuntos não relacionados ao tema proposto. |
Competências de avaliação
Competência | Descrição |
1 | Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa. |
2 | Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das diversas áreas do conhecimento para desenvolver o tema. |
3 | Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. |
4 | Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. |
5 | Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. |
Dicas para alcançar a nota máxima
Analisar as redações nota 1000 pode ajudar a entender o que a banca examinadora espera dos candidatos. Afinal, observar a estrutura do texto, a argumentação, a clareza das propostas, como também o uso adequado do repertório sociocultural são passos importantes para se destacar.
Para potencializar seus estudos, temos um presente para você: um e-book gratuito com 20 redações nota 1000 do Enem 2023. Sem dúvida, este recurso é ideal para quem busca exemplos concretos de excelência em escrita e quer inspiração para desenvolver suas próprias redações.
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Conclusão:
Por fim, as redações nota 1000 do Enem 2023 são excelentes ferramentas de estudo para quem deseja se preparar para o exame. Agora que você tem acesso a exemplos e espelhos de correção, aproveite para treinar e aprimorar suas habilidades de escrita conosco. Não esqueça de visitar nossa plataforma de correções para praticar e receber feedbacks construtivos. Estamos aqui para ajudá-lo a conquistar sua vaga dos sonhos!