Na Competência 1 da Redação ENEM os participantes são avaliados quanto ao domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa. Saiba como se dar bem nesse critério!
Recentemente, publicamos aqui os erros ortográficos e gramaticais mais comuns nas redações submetidas ao ENEM. Hoje, você vai saber um pouco mais sobre os critérios de correção da Competência 1. Na matriz de referência das correções, divulgada pelo Inep, consta o que será alvo do escrutínio dos avaliadores:
Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa
Na competência 1 da redação ENEM, os corretores atribuem notas considerando se o estudante demonstra desconhecimento (nível 0) até o excelente domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro (nível 5). Nos níveis intermediários (1, 2, 3 e 4), os textos podem apresentar domínio precário, insuficiente, mediano ou bom, respectivamente. Mas como é decidido em qual nível o texto do candidato se encaixa? Vamos ver na sequência!
Avaliação objetiva
Em 2019, quase 4 milhões de pessoas realizaram a prova de redação, e pouco mais de 5 mil professores foram selecionados para as correções. Assim, como uma avaliação de larga escala, que envolve atores (participantes e avaliadores) de todo o país, é fundamental haver alinhamento sobre como atribuir a nota, a fim de evitar as famosas “discrepâncias”. Portanto, ao se deparar com um texto, o avaliador terá dois aspectos a verificar na competência 1 da redação:
- estrutura sintática;
- quantidade de desvios.
Quanto à estrutura sintática, é necessário que o participante demonstre que consegue escrever um texto fluido, sem truncamentos. Isso acontece quando são escritos parágrafos bem organizados, em que as ideias são claramente explicitadas e estão completas. Uma redação nível 5 na competência 1 da redação pode ter apenas uma única falha de estrutura sintática. Além disso, o autor deve ter produzido um texto com construção de períodos mais complexos. Essa complexidade é demonstrada pelo uso de orações subordinadas, intercaladas e inversões. Textos com estrutura sintática mais simples (apenas sujeito, predicado e objeto, na ordem canônica, por exemplo) não se enquadram no nível 5, que exige uso excelente da linguagem.
No nível 0, o participante apresenta um texto em que inexiste estrutura sintática (é como um amontoado de palavras desconexas). Ou seja, não é possível identificar as ideias que ele pretendeu expressar. Mesmo que todas as palavras escritas não apresentem muitos desvios, a ausência de articulação de frases e períodos mantém a redação neste nível na primeira competência.
Dica:
Se você conhece bastante sobre sintaxe, mas não sente segurança em se arriscar, opte por escrever períodos mais curtos. Dessa forma, as chances de errar são menores e você conseguirá escrever um texto mais objetivo e claro. Releia sempre seu texto, prestando muita atenção à pontuação. Jamais separe sujeito e predicado com vírgula, por exemplo. Lembre-se de que cada parágrafo da sua redação é um “minitexto”, que precisa ter começo, meio e fim. Ele precisa fazer sentido e ter todas as informações necessárias para defender seu ponto de vista. Porém, não se esqueça de que, na “zona segura”, seu texto provavelmente será avaliado no nível regular (3) ou bom (4). E isso vai depender, ainda, da quantidade de desvios. Conforme ganhar mais confiança, tente produzir estruturas mais elaboradas. E não há outra forma: para tirar seu texto do regular para o excelente é preciso TREINAR!
E como são avaliados os desvios?
Os desvios referem-se a problemas de ordem gramatical, de convenções da escrita, de escolha de registro ou de escolha vocabular que aparecem ao longo do texto. Dentro dessas quatro categorias, temos vários aspectos que precisam ser atendidos para que se receba nota máxima na competência 1 da redação. Para ser avaliado no nível 5, o participante pode cometer, no máximo, 2 desvios. Quanto mais desvios, menor será a nota atribuída nessa competência. Veja, a seguir, conteúdos aos quais ficar atento(a) na hora de escrever:
Desvios gramaticais
- de regência: podendo ser verbal ou nominal, diz respeito à relação de um termo regente (verbo ou nome) com os seus complementos. Assim, as regras de regência indicam se há necessidade ou não de uso de preposição entre o termo regente e aquele do qual ele depende para fazer sentido. O desvio ocorre quando o participante desconhece essa relação e usa equivocadamente – ou deixa de usar – a preposição em determinada oração.
- concordância: os verbos devem concordar em número (plural ou singular) e pessoa (1ª, 2ª ou 3ª) com o sujeito da oração. No caso da concordância nominal, não esquecer que os complementos de um substantivo (adjetivo, pronomes, artigos, numerais) precisam concordar em gênero e número com ele. Quando isso não é observado, o participante comete desvio de concordância. Portanto, não se esqueça “dos plural“! #brinks
- pontuação: o desvio ocorre quando vírgulas, pontos finais, dois pontos, ponto e vírgula, travessão etc. são usados de forma prejudicial à fluidez da leitura. Vale estudar esse tópico, especialmente considerando os três grifados acima, pois são os que mais geram desvios nos textos.
- paralelismo sintático: sua ausência dificulta a objetividade, a clareza e a precisão de um texto.
- emprego de pronomes: conheça os tipos de pronomes (oblíquos, retos, demonstrativos, possessivos, entre outros) para fazer o uso correto de cada um deles. Lembre-se de que não se usa pronome reto após verbos, e que os demonstrativos estabelecem relações de anáfora e catáfora dentro do texto, por exemplo. Se você não lembra o que é isso, é necessário se aprimorar!
- Crase: calcanhar de Aquiles de muita gente, a famosa “crase” merece uma atenção especial. Portanto, é necessário conhecer as regras de uso (ou não) de sinal indicativo de crase para evitar esse desvio. Estude!
Desvios de convenção da escrita
- acentuação e ortografia: cada “politica” sem acento; cada “paralização” com z, é como uma facada no peito do avaliador. Além de conhecer as regras para acentuar as palavras, é preciso saber as suas grafias corretas. Uma dica é fazer listas de palavras que você tem dúvida quanto à forma de escrever. Pesquise o modo correto e escreva-as várias vezes. Qualquer semelhança com um “ditado” não é mera coincidência…
- hífen: é necessário conhecer as regras de uso de hífen do Novo Acordo Ortográfico (não mais tão “novo” assim). Colocar hífen em palavras que não o requerem ou deixar de usar nas que precisam é um desvio a mais no texto. Cuidado!
- maiúsculas e minúsculas: tema que você aprendeu lá no sexto ano do ensino fundamental. Faz tempo, né, minha filha? Embora seja um dos primeiros aprendizados em língua portuguesa, muitos colocam maiúscula quando não precisa e deixam de colocá-la quando é necessária. Felizmente, já escrevemos um artigo no blog sobre isso, vale a pena você dar uma olhadinha clicando aqui para não errar mais.
- separação silábica (translineação): é quando acaba o espaço na linha para escrever uma palavra inteira e você a continua na linha seguinte. Isso é a translineação, e a palavra que vai “ficar pela metade” em cada linha precisa respeitar as regras de separação que você aprendeu lá nas séries iniciais. Portanto, caso não recorde bem dessa matéria, retorne a ela e evite esse “desvio bobo”.
Desvios de escolha de registro
Como visto na matriz de referência, o ENEM (e demais vestibulares) avalia o domínio da escrita formal da língua. Por isso, não cabem no seu texto dissertativo-argumentativo informalidade e marcas de oralidade. Assim, evite gírias e expressões coloquiais (“um monte”, “um bocado”, “é isso aí”, “né”, “tá, beleza”). Do mesmo modo, não use formas usadas na internet, como “vc”, “pq”, “eh”. Também não são bem-vistos o aumentativo e diminutivo de palavras, reduções (pra; pro) e abreviaturas (p/; c/).
Desvios de escolha vocabular
Trata-se de opções lexicais imprecisas dentro do contexto em que se encontram. Deve-se tomar muito cuidado com palavras que você não domina o significado, mas quis usar para parecer “culto”. Muitas vezes, vale mais usar um vocabulário simples, mas que você tenha certeza do que as palavras querem dizer. Na dúvida, troque uma palavra “insegura” por um sinônimo. O participante do ENEM precisa, sim, demonstrar bom domínio e excelente vocabulário, mas não precisa ser uma escrita pedante ou pomposa, que muitas vezes não condiz com o restante do texto. Pesquise o significado das palavras, faça uma lista, e use-as como uma carta na manga quando estiver treinando.
Agora que você já sabe tudo que será avaliado para atribuir a nota na Competência 1 da redação, anote mais algumas dicas:
- prefira escrever seus textos à mão, e leia pelo menos umas três vezes o que escreveu para corrigir os problemas de acentuação, ortografia, concordância, regência;
- quando estiver treinando, leia em voz alta para conseguir perceber melhor tais problemas;
- faça uma lista de vocabulário das palavras que você costuma errar a grafia e/ou o significado. Estude-a.
- procure usar o registro formal da língua na maior parte das suas comunicações (assim você não se confunde na hora da redação);
- exercite a leitura de livros, artigos, notícias. Além de aumentar seu repertório sociocultural, ajuda na memorização da ortografia, separação silábica e acentuação correta das palavras.
Ufa! A vida do participante do ENEM não é fácil não, mas a do avaliador também não é! Percebeu quantos critérios ele precisa verificar em apenas uma das 5 competências? E tudo isso sempre visando uma nota justa para milhões de pessoas que fazem a prova todos os anos!