A arquiteta Jane Jacobs em sua obra "Vida e morte das grandes cidades" detalha um dos maiores acontecimentos do século XX, a urbanização exagerada e os problemas advindos desse evento, exibindo graves empecilhos diários dos citadinos. No Brasil hodierno, de modo análogo, indivíduos do espaço urbano enfrentam desafiantes percalços do avanço das cidades, entre eles a verticalização, que, caracterizada pela construção de prédios cada vez mais altos, incorre em processos de gentrificação e na intensificação do calor. Diante disso, torna-se essencial a discussão acerca dessa realidade.
A princípio, convém estabelecer a relação entre a verticalidade das moradias urbanas e a gentrificação. Sob esse viés, o geógrafo brasileiro Milton Santos, em entrevista para o Roda Viva, afirma que a revitalização paisagística e urbanística do solo urbano, a partir de construções como prédios, tem encarecido o custo de vida nesses locais, haja vista o aumento substancial de despesas, a exemplos de alugueis e produtos de necessidade básica. Dessa forma, a partir da ótica de Santos, esse contexto favorece que a população mais pobre, moradores desses locais, busque áreas com preço de vivência mais em conta, que, em geral, são favelas e outras regiões de ocupação irregular. Assim, é lamentável que o avanço da verticalização urbana tenha tantas implicações sociais negativas, especialmente para população menos abastada.
Outrossim, entre consequências dessa infeliz conjuntura, destaca-se o estabelecimento das ilhas de calor. Nessa vertente, de acordo com a Geografia ambiental, eventuais desmatamentos para o estabelecimento de construções, muitas vezes de grande porte e altura, viabilizam um desequilíbrio no aproveitamento da luz solar, aumentando a sua absorção na forma de calor e, consequentemente, elevando as temperaturas médias da cidade. Em cenários como esse, de crescimento longitudinal da cidade, vê-se grande intromissão não só no bem-estar das pessoas, mas também incisivas intercorrências econômicas, uma vez que é um panorama que afeta toda uma logística governamental de distribuição energética, pois as pessoas das grandes cidades poderiam demandar, em casos de elevada temperatura, mais eletricidade para refrigeração doméstica. Logo, enquanto o avanço de construções urbanas verticais for a regra, problemas estruturais na cidade persistirão.
Portanto, com vistas a contornar essa triste situação de efeitos deletérios da verticalização urbana, o Ministério da Infraestrutura, responsável pelo planejamento das cidades do país, deve elaborar, por meio de verbas da Secretaria do Tesouro Nacional, estratégias para reduzir as ilhas de calor no meio urbano, traçando limites para o estabelecimento de construções e promovendo iniciativas de replantio para compensar o desmatamento anterior. Espera-se, com isso, que o Brasil se distancie dos erros de infraestrutura apontada pela grandiosa Jane Jacobs.