A obra cinematográfica nacional " Pai em dobro", conta a história de uma jovem que ao completar a maioridade vai em busca do seu pai, mas se frustra ao saber que ele nunca quis conhecê-la. De modo análogo, na realidade brasileira, a falta de reconhecimento paterno configura-se como um impasse, visto que não acontece necessariamente na ausência do pai, às vezes convivem no mesmo ambiente, mas não há a construção de laços familiares. Diante disso, deve-se analisar como os órfãos paternos terão sua saúde mental e sua construção familiar afetadas por essa problemática.
É relevante abordar, primeiramente, que a ausência paterna influencia psicologicamente os indivíduos, sobretudo, quando já estão inseridos no ambiente escolar, já que várias atividades sobre arranjos familiares são realizadas, contribuindo para o esgotamento psíquico de tais. Sob essa perspectiva, o filósofo contratualista Rousseau pontua que o ser humano é produto do meio em que vive, corroborando o fato de que laços familiares fragmentados resultam em pessoas emocionalmente abaladas. Desse modo, é evidente que a negligência parental é propulsora de impactos na saúde mental das crianças e adolescentes.
Paralelo a isso, vale também ressaltar que quando o indivíduo cresce com pai ausente, a probabilidade de ele se revoltar e fazer o mesmo com futuros filhos é grande, revelando que a falta de reconhecimento paterno impacta negativamente na construção familiar. Nesse sentido, por mais que a Constituição Cidadã brasileira considere o perfilhamento uma conduta obrigatória, não é o bastante, haja vista que pessoas necessitam de carinho e afeto, não de sobrenome do pai na certidão de nascimento e pensão alimentícia exigida pela justiça. Dessa forma, nota-se que a omissão paterna gera prejuízos duradouros, impedindo até mesmo o desenvolvimento de uma nova família.
Portanto, medidas estratégicas são necessárias para alterar esse quadro deteriorador. O Estado, no papel de garantidor dos direitos individuais, deve ampliar o acesso a profissionais especializados em saúde mental, por meio da vinculação destes ao SUS, a fim de evitar o esgotamento emocional de indivíduos sem reconhecimento paterno. Além disso, a família, como instituição fundamental da sociedade, precisa oferecer máximo apoio às crianças e adolescentes, através de conversas e momentos de lazer, com o intuito de impedir que eles reproduzam frustrações passadas nos núcleos familiares que virão a se desenvolver no futuro. Somente assim, o povo brasileiro alcançará a plenitude em todos os âmbitos.