Na obra “Utopia”, do escritor inglês Thomas More, é retratada uma sociedade perfeita, na qual o corpo social padroniza-se pela ausência de conflitos e problemas. No entanto, o que se observa na realidade contemporânea é o oposto do que o autor prega, uma vez que o avanço da depressão é algo recorrente no Brasil, enquanto o combate da mesma apresenta barreiras as quais dificultam a concretização dos planos de More. Nessa conjuntura, deve-se analisar a negligência da família, assim como a pressão pela busca do alto desempenho na sociedade agravam essa problemática.
A priori, vale ressaltar que a negligência de cuidado familiar pode ser considerado uma das principais responsáveis pelo avanço da depressão na mente do cidadão. Isso pode ser explicado segundo o sociólogo francês Émile Durkheim, o qual ensinou que o “fato social” é experienciado pelo indivíduo através de uma força coerciva que orienta o comportamento no ambiente coletivo. Dessa forma, o crescimento do poder de influência da família através da repetição exaustiva de negação da depressão que censura a doença do indivíduo faz com que tal questão seja normalizada e por conseguinte, extremamente difícil de ser combatida, já que muitas pessoas não conseguem procurar ajuda psicológica sem o apoio familiar. Visto que, a Organização Mundial da Saúde (OMS), menciona que no Brasil, 5,8% da população sofre com esse problema, que afeta um total de 11,5 milhões de brasileiros e que apenas 2,8% procuram ajuda especializada, o que leva o Brasil a ser o país com maior prevalência de depressão da América Latina. Torna-se evidente que é necessário a criação de mecanismos que coíbam tais recorrências.
Ademais, pode-se apontar que a pressão pelo alto desempenho é um fator determinante para a persistência do problema. Evidentemente, isso se deve, devido a engrenagem social em constante mudança, o qual Zygmunt Bauman, filósofo polonês, chamou de modernidade líquida e nessa temática, aplica-se ao dinamismo de vida e a necessidade constante da perfeição, o que leva alguns cidadãos a não conseguirem suportar tanta pressão em busca de um padrão estabelecido pela sociedade, o que legitima a ideia de que querem conquistar seus objetivos a curto prazo, o que ocasiona no sentimento de frustração quando os desejos não são alcançados de forma precoce. Tanto que, o atleta português André Gomes afirmou que” --com a pressão dos outros eu vivo bem, com o que eu não vivo bem é com a minha pressão". Sob essa ótica, com a pressão discrepante que o indivíduo coloca em si mesmo, faz com que ele passe dos seus limites psicológicos acarretando em transtornos mentais que podem gerar depressão. Desse modo, é preciso mitigar essa conduta.
Portanto, é preciso medidas para conter o avanço da problemática na sociedade brasileira. Logo é primordial que a mídia como elemento persuasivo em parceria com o Ministério da Saúde promova campanhas informando a população dos sintomas da depressão para que seja possível que as famílias e os indivíduos reconheçam a doença com o intuito de procurar ajuda profissional. Ademais, é imprescindível que nos postos de saúde tenham programas que geram aplicabilidades imediatas no combate à depressão como atendimento especializado oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a fim de reduzir essa prevalência de depressão na América Latina. Destarte, a sociedade alcançará a ausência de conflitos e problemas defendida pela obra “utopia” de More.