No livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, o personagem Fabiano era analfabeto e não sabia contabilizar o seu dinheiro. Por causa disso, foi enganado por seu patrão ao receber o seu salário. Para além da ficção, essa obra ilustra a realidade de diversos brasileiros que não têm conhecimentos básicos de educação financeira - um tema muito importante no desenvolvimento da autonomia. Nesse contexto, o referido impasse tem suas raízes na negligência escolar e na falta de instrução familiar.
De início, é pertinente destacar a influência das instituições de ensino nessa questão. Sob esse viés, o nobre educador Paulo Freire já afirmava que a educação é um dos principais pilares na construção cidadã. Entretanto, muitos brasileiros, além de possuírem, segundo uma matéria do G1, um ensino matemático defasado, também não possuem sequer uma disciplina específica para tratar somente dos assuntos da esfera econômica. Desse modo, a falta desse tipo de conhecimento prejudica os indivíduos em várias atividades cotidianas, como compras e recebimentos de salários, e, por conseguinte, a negligência escolar dificulta o pleno exercício da cidadania.
Além disso, é preciso pontuar o papel das famílias na problemática. Nesse sentido, o filósofo iluminista Kant já dizia que o esclarecimento - saída da menoridade para maioridade - é um processo pelo qual as pessoas adquirem autonomia para pensar e agir racionalmente. Todavia, quando as famílias não oferecem instrução desde cedo acerca das gestões financeiras, os filhos acabam por ficarem dependentes e pouco autônomos em relação a uma temática tão relevante para o avanço pessoal. Dessa maneira, fica evidente o papel da instituição familiar nesse imbróglio.
Portanto, torna-se clara a importância da educação financeira no desenvolvimento da autonomia dos brasileiros. Assim, cabe ao Ministério da Educação criar um programa nacional sobre essa pauta, por meio de um projeto que conte com oficinas escolares sobre o tema e com uma disciplina específica para instruir todos os alunos acerca da questão. Essa ação tem o objetivo de tornar os brasileiros, desde cedo, economicamente mais autônomos. Ademais, é muito importante que a família seja um agente ativo na temática. Dessa forma, esse anátema será atenuado e a sociedade do país se distanciará da ficção de Graciliano.