Na série "Greys Anatomy" é narrada a história de Zolla, menina africana órfã que depois de muitas tentativas foi adotada por um casal de médicos. Entretanto, tal narrativa destoa da realidade brasileira na medida que existem vários desafios para a adoção, que criam uma cultura degradante para as crianças e adolescentes desamparados. Dessa maneira, é necessário analisar como o preconceito incrustado no imaginário social e a burocracia do processo são desafios para a mudança de tal cultura.
Mormente, é indispensável afirmar que a rejeição das crianças que vão contra o padrão desejado pelos adotantes é um entrave para a dissolução do problema. De acordo com Gilberto Freyre, a formação do corpo social do país foi marcada pela idealização dos valores que eram considerados melhores pela elite escravocata estrangeira, personificados no "Senhor de Engenho". Devido a isso, existe nos dias atuais a priorização dos grupos idealizados, de tal forma que, é evidente o preconceito que reflete na aversão aos menores negros e adolescentes na adoção. Dessa forma, há um cenário no qual os pais querem adotar crianças que não existem, uma vez que a maioria das disponíveis são dos grupos desfavorecidos.
Ademais, é importante destacar a morosidade do processo de adoção como um óbice na resolução do imbróglio. Segundo a Constituição Federal de 1988, é responsabilidade da administração pública gerir os processos que dizem respeito a assistência das crianças, bem como a adoção. No entanto, observa-se que o Governo além de impor diversas exigências, não gere adequadamente as adoções no Brasil, pois os trâmites são demorados e dispendiosos. Assim sendo, as dificuldades impostas pela burocracia estatal desmotiva os pretendentes e estigmatizam o ato.
É possível afirmar, portanto, que medidas devem ser tomadas para mudar a cultura de adoção no Brasil. Para tanto, a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente deve criar o "Plano Nacional para a Adoção", por meio do qual serão feitas ações que aproximem as pessoas dos possíveis adotados, de forma que priorize os afrodescentes e adolescentes, bem como enxugue a burocracia, a fim de que esses jovens tenham a vivência familiar que possuem direito. Assim, serão reais e comuns, famílias como a de Zolla.