Na obra "Utopia", do filósofo e escritor Thomas More, o autor descreve um reino-ilha cuja sociedade funcionava de modo justo e perfeito. Fora da perspectiva literária, o que se observa é exatamente o oposto, já que as desigualdades regionais é um enorme desafio no Brasil. Nesse contexto, fica evidente que esse cenário desvantajoso para o progresso da sociedade brasileira ocorre em razão não só pelo legado histórico, mas também pela ineficiência administrativa do Estado.
Nesse sentindo, é necessário ressaltar, primeiramente, que o legado histórico de concentração de terras é um dos motivos pelos quais se perdura esse quadro deletério de desigualdade no território brasileiro. Isso é observado porque desde a colonização do Brasil, no século XV, com a instauração das capitanias hereditárias, a concentração fundiária é um promotor da disparidade entre as regiões brasileiras. De acordo com o geógrafo Milton Santos, no texto "As cidadanias mutiladas", a democracia só é efetiva quando atinge o corpo social, ou seja, na medida em que os direitos são universais e desfrutados por todos os cidadãos. Contudo, a realidade é discrepante com a ideia mencionada, pois ainda existem populações de algumas regiões que sofrem pela carência de serviços essenciais. Dessa forma, é necessário uma ação conjunta e efetiva das instituições sociais para que esse legado fique apenas na história e não na vivência dos brasileiros.
Ademais, vale destacar, também, que a ineficiência administrativa do Estado potencializa esse problema. Nesse viés, a escassez de projetos estatais que visem à redução das desigualdades entre as unidades federativas contribui para a precariedade dos diversos setores essenciais na manutenção do bem estar social. Acerca disso, segundo o filósofo contratualista John Locke, essa conjuntura configura-se como uma violação do "Contrato Social", já que o Estado não cumpre sua função de garantir que os cidadãos desfrutem de direitos indispensáveis. Diante dos fatos apresentados, é imprescindível uma nova postura do Governo Federal para mudar essa realidade.
Depreende-se, portanto, a urgência de ações interventivas, com o fito de superar esses desafios. Para isso, a Câmara dos deputados e o Senado devem elaborar um projeto social que vise à redução das disparidades regionais, por meio da ampliação de investimentos financeiros em prol da melhoria infraestrutural de regiões brasileiras menos favorecidas. Além disso, as ONG's devem promover campanhas de arrecadação de doações para pessoas em situação de vulnerabilidade social, a fim de garantir alguma forma de assistência à essas. Dessa maneira, a sociedade caminhará para a resolução dessa imperfeição e se assemelhará com o reino-ilha de Thomas More.