O quadro expressionista "O grito", do pintor norueguês Edvard Munch, retrata a inquietude, o medo e a desesperança refletidos no semblante de um personagem envolto por uma atmosfera de profunda desolação. Para além da obra, observa-se que, na conjuntura brasileira contemporânea, o sentimento de milhares de indivíduos assolados pelos problemas ainda ligados à questão do índio no Brasil é, amiudadamente, semelhante ao ilustrado pelo artista. Nesse viés, torna-se crucial analisar as causas desse revés, dentre as quais se destacam a negligência governamental e o preconceito sofrido por esses indivíduos em diferentes setores da sociedade.
Precipuamente, é imperioso notar que a indiligência do Estado potencializa os casos de exploração com relação ao espaço que por lei é associado aos povos indígenas. Esse contexto de inoperância das esferas de poder exemplifica a teoria das Instituições Zumbis, do sociólogo Zygmunt Bauman, que as descreve como presentes na sociedade, todavia, sem cumprirem sua função social com eficácia. Sob essa ótica, devido à baixa atuação das autoridades, a ineficácia de leis acaba sendo uma aliada ao caráter exploratório assumido por empresas de garimpo, madeireiras e pelo ambicioso agronegócio. Dessa forma, as invasões se tornam constantes, causando mortes e lutas que na maioria das vezes são silenciadas pelo sistema que considera as demarcações um entrave para o desenvolvimento econômico do país. Nessa perspectiva, para a completa refutação da teoria do estudioso polonês e mudança dessa realidade, faz-se imprescindível uma intervenção estatal.
Outrossim, é igualmente preciso apontar os estereótipos associados à figura do nativo brasileiro como outro fator que contribui para a manutenção do atrito causado no corpo social. Posto isso, segundo o filósofo Jean-Jacques Rousseau, "o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe." Diante de tal exposto, é indubitável que a construção social carrega consigo uma série de estigmas associados ao indígena como sendo totalmente selvagem, desprovido de educação e de intelectualidade, sendo assim, ambientes como a escola, locais urbanos e políticos acabam sendo palcos para a discriminação. Logo, é inadmissível que esse cenário continue a perdurar.
Portanto, são necessárias medidas capazes de mitigar os impasses ligados aos direitos dos índios no Brasil. Dessarte, a fim de estagnar casos de abusos por parte de empresas e indivíduos que visam apenas o lucro capital em detrimento das preocupações sociais, é preciso que o Governo -na esfera do poder legislativo- por intermédio de votações realizadas no Congresso Nacional, sancione leis com penas seguras em casos de desrespeito aos direitos e valores indígenas. Paralelamente, é imperativo que o Ministério da Educação em parceria com a mídia -instrumento de ampla abrangência- realize campanhas de cunho educativo, através de palestras e posts, trazendo a importância da quebra de paradigmas socialmente impostos com visões preconceituosas. Espera-se, assim, que os sofrimentos emocionais retratados por Munch delimitem-se apenas ao plano artístico.