Manoel de Barros, famoso poeta pós-modernista, desenvolveu em suas obras uma “teologia do traste”, cuja principal característica reside em dar valor às situações frequentemente esquecidas ou ignoradas. Segundo a lógica Barrosiana, é preciso, então, valorizar também a questão da falta de equidade do acesso à internet na sociedade brasileira. Nesse sentido, a fim de mitigar os males dessa temática, é importante analisar o custo elevado e a falta de cobertura de sinal como propulsores do entrave.
Inicialmente, é importante destacar que o custo elevado representa uma barreira para a democratização do acesso à internet no Brasil. Isso ocorre porque, para navegar na rede mundial, o indivíduo necessita adquirir um bom telefone celular e contratar um plano de dados. Entretanto, grande parte da população ainda sofre com a baixa renda, e não tem condições de fazer tal investimento. Essa situação é denunciada pelo pensador francês Pierre Levy, que diz que toda nova tecnologia gera seus excluídos. Desse modo, é lamentável que o acesso à internet ainda seja tão caro, pois isso impede que um contingente enorme de pessoas usufrua dos benefícios dessa tecnologia.
Por outro lado, a falta de cobertura de sinal em determinadas localidades também dificulta o pleno gozo da conectividade. Esse fenômeno é verificado principalmente nas periferias, que dispõem de poucas antenas de telefonia, ao passo que as áreas nobres das cidades têm até mais que o necessário. Tal quadro exemplifica muito bem algo que o sociólogo Sergio Buarque de Holanda descreve em suas obras: no Brasil, historicamente, o Estado direcionou seus esforços em prol de apenas uma pequena parcela de privilegiados, das classes sociais mais elevadas. Assim, é inaceitável que as áreas carentes ainda tenham uma cobertura de sinal tão deficiente, enquanto os bairros mais ricos têm um serviço de altíssima qualidade.
Portanto, é urgente que o Estado adote medidas concretas para mitigar a falta de equidade do acesso à internet. Com esse intuito, o Ministério da Ciência e da Tecnologia, que é o órgão responsável pelas concessões públicas do serviço de internet no Brasil, deve reduzir o custo de aquisição de smartphones e planos de dados, por meio de isenções de impostos, com a finalidade de incluir a população mais pobre, rompendo a barreira econômica. Ademais, é necessário que a ANATEL determine a instalação de mais antenas nas regiões carentes, ampliando a oferta de sinal. Feito isso, certamente o acesso à internet estará mais próximo de sua plena democratização.