O diário “Quarto de despejo”, de Carolina Maria de Jesus, retrata a realidade de fome, pobreza e preconceito de uma mãe solo moradora da favela. Mesmo que a história tenha se passado há mais de meio século, a realidade atual das mães que criam seus filhos sem um cônjuge permanece semelhante, não só em razão do abandono paterno, mas também da discriminação no mercado de trabalho.
Primeiramente, é necessário destacar que o sofrimento das mães solo no Brasil é agravado devido à ineficácia do Poder Público, no que concerne à criação de mecanismos que coíbam o abandono parental por parte dos pais dos filhos. Sob a perspectiva do filósofo John Locke, o Estado foi criado a partir de um pacto social para assegurar os direitos fundamentais do indivíduo e proporcionar relações harmônicas. Entretanto, é notório o rompimento desse contrato no cenário brasileiro, visto que todos os anos milhares de crianças são registradas sem o nome do pai na certidão de nascimento. Assim, fica evidente a ineficiência da máquina administrativa na resolução da situação.
Outrossim, a discriminação de mulheres solteiras com filhos em contratações empregatícias se apresenta como outro desafio da problemática. A Constituição Federal de 1988 assegura que todo cidadão é igual e possui os mesmos direitos independentemente de etnia, classe social ou sexo, mas não é o que acontece na prática, já que empresas de todo o país deixam de contratar mães porque os cuidados com filhos podem gerar prejuízos. Logo, tudo isso retarda o combate à disparidade salarial pelo gênero, pois o mesmo tratamento não é destinado a homens com filhos.
Infere-se, portanto, a necessidade de mitigação dos entraves em prol do fim desse estigma social. Assim, é papel da mídia e da escola promover campanhas de conscientização contra a marginalização de mães solo no território brasileiro, diminuindo a prevalência do cenário no futuro. Além disso, cabe ao Estado, juntamente com governos estaduais e municipais, fiscalizar e punir abandonos parentais masculinos e evitar que mulheres tenham que manter crianças sozinhas. Dessa forma, a realidade de “Quarto de despejo” de Carolina Maria poderá se tornar mera ficção em nossa sociedade. ResponderEncaminhar