Tema livre: A questão da evasão escolar no Brasil.
Futuro sem escolha
Segundo o filósofo alemão Jurgen Habermas, "O agir comunicativo fundamenta-se na luta, sem violência, do discurso argumentativo". Dessa forma, ressalta-se a relevância do debate acerca da problemática que envolve a evasão escolar no Brasil. Nesse contexto, torna-se imprescindível a análise do impacto de fatores socioecomômicos e culturais no abandono da educação escolar por milhares de crianças e adolescentes do País.
Em primeiro plano, destaca-se o peso da debilidade financeira na abdicação aos estudos. Corroborando com essa tese, verificam-se diversas famílias com situação socioeconômica frágil, em que os jovens se encontram engajados em atividades lucrativas e, muitas vezes, informais com o intuito de ampliar a renda familia, a qual foi deveras lesada durante a pandemia de COVID-19. Assim, essa realidade expõe a falta de liberdade de escolha por parte dessa juventude, sucumbindo à fuga das escolas. Logo, nota-se a ilusão de liberdade no mundo contemporâneo, conforme já era pregada na Escola de Frankfurt.
Em adição, é pueril crer que esse entrave seja desassociado da cultura do ambiente onde esses estudantes circulam e estão inseridos. Jorge Amado, escritor modernista brasileiro, retratou, em sua obra "Capitães da Areia", a vida de menores infratores pela cidade de Salvador, mas, acima de tudo, evidenciou a falta de oportunidades de desenvolvimento inerente ao seu meio. De modo semelhante, o estilo de vida e a cultura das periferias urbanas implicam uma forte tendência à criminalidade e à desvalorização da educação. Sendo assim, um adolescente rejeitar o mundo do crime para se dedicar a um vestibular, por exemplo, torna-se um grande ato de rebeldia.
Infere-se, por conseguinte, que, geralmente, a evasão escolar no Brasil não é uma escolha e possui aspectos além da sala de aula. Nesse sentido, a fim de atenuar tal realidade, é mister que o Ministério da Economia desenvolva medidas de auxílio financeiro e de criação de empregos, a partir de uma política de redistribuição de renda, para que se anule a necessidade de trabalho infantil. Ademais, as Secretarias de Educação municipais devem realizar, semestralmente, nas escolas de periferias, feiras de profissões, no intuito de fazer com que os alunos percebam a gama de oportunidades que a educação oferece, em detrimento do crime. Destarte, jovens distantes das escolas será uma problemática apenas na ficção de Jorge Amado.