A obra “Utopia”, escrita no século XVI por Thomas More, elucida uma sociedade harmônica sem a existência de conflitos sociais. Entretanto, cinco séculos depois, a realidade encontra-se distante da ficção, uma vez que a negligência estatal e a falta de consciência social da população atuam como entraves para a formação educacional de surdos no Brasil, dificultando a concretização dos planos de More. Nesse sentido, faz-se necessária uma proposta de intervenção que vise incluir o grupo socialmente.
Em primeira instância, o Estado omite-se de seu papel de provedor educacional. De acordo com Thomas Hobbes, filósofo contratualista, é dever do governo garantir o bem-estar populacional, através da teoria do contrato social, papel esse ratificado pela Carta Magna de 1988. No entanto, somente em 2002 a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi incorporada como idioma oficial no Brasil, o que comprova a ingerência governamental ao abordar a problemática. Logo, a educação para surdos torna-se uma realidade para poucos, transformando em privilégio o que deveria ser direito universal.
Em segunda instância, é importante citar a falta de consciência social da população, especialmente nas escolas. Na óptica do professor Mário Sérgio Cortella, o corpo social faz-se tão preconceituoso a ponto de usar palavras como “surdo” e outros adjetivos equivalentes de forma pejorativa. Tal comportamento, que é um crime social, é indicado ao próximo de modo a ser responsabilidade exclusiva dele. Dessa forma, gera-se um fator de exclusão social que dificulta a adesão dos surdos ao ambiente de ensino.
O Estado deve, portanto, a exemplo do Ministério da Educação, capacitar os profissionais da rede pública de ensino, oferecer materiais adaptados à Libras e pautar desde a educação infantil a importância da inclusão dos surdos em sala de aula por meio de dinâmicas lúdicas e interativas. Feito isso, pode-se reduzir a hostilidade do ambiente escolar, aumentando, consequentemente, a inclusão social e as oportunidades de ensino para os deficientes auditivos e, ainda, torna-se exequível aproximar a realidade da ficção proposta por Thomas More.