Em “Simplesmente Acontece”, é retratada a dura realidade de Rosie: uma jovem recém-aprovada na faculdade de seus sonhos que abre mão da vida universitária para viver uma gestação não planejada. Embora seja uma obra ficcional, o filme apresenta uma realidade do contexto brasileiro: a gravidez na adolescência, que, seja pelo tabu em falar do assunto por heranças históricas, seja pelanegligência estatal diante da questão, representa um enorme desafio no país e merece um olhar mais crítico para o enfrentamento.
A princípio, deve-se ressaltar o processo colonizador que enraizou as tradições do cristianismo no Brasil, que, pelo ideal de castidade, concretizou o tabu em falar a respeito de sexualidade para adolescentes em família e em sociedade. Entretanto, essa evasão ao assunto faz com que os jovens busquem informações em fontes não confiáveis, uma vez que sua vida sexual tem começado cada vez mais cedo, resultando em relações sem uso de contraceptivos, aumentando os riscos de uma gravidez precoce e de contrair doenças. Diante disso, a falta de abordagem do tema, em vez de prevenir, compromete não só a saúde, mas também o projeto de vida da menina, o que é intolerável e urge intervenção.
Outrossim, deve-se ressaltar a negligência do Estado como somatório dessa conjuntura, posto que é seu papel garantir os direitos assegurados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Nesse contexto, apesar de disponibilizar preservativos e anticoncepcionais em postos de saúde gratuitamente, a falta de instrução faz com que os jovens não tenham acesso àqueles em majoritários casos, restringindo o acesso a relações sexuais seguras. Ademais, faz-se necessário destacar a perpetuação dos ciclos de pobreza, desigualdade e exclusão em virtude da maior abrangência social de mães adolescentes, que possuem um viés de renda, instrução e escolaridade baixas, impedindo que esse quadro seja mudado. Desse modo, verifica-se o impacto inconcebível da indolência estatal na manutenção da questão, necessitando sua ação para atenuar os casos de gravidez entre jovens.
Portanto, a fim de instruir a sociedade como um todo a respeito de relações sexuais seguras e prevenir gestações precoces, o Estado, por meio do poder midiático e das escolas, deve promover campanhas que divulguem a necessidade e disponibilidade dos métodos contraceptivos em todos os postos de saúde do Brasil, informando a importância do uso simultâneo de preservativos e anticoncepcionais para minimizar as chances de gravidez. Dessarte, por meio de ações preventivas, evitar-se-á casos semelhantes ao de Rosie, perpetuando apenas os planos de vida do adolescente e garantindo os direitos postulados pelo ECA.