O jornalista Filippo Marinetti lançou, em 1909, sua consagrada obra "Manifesto Futurista", na qual expõe a admiração e inserção de sua época à tecnologia. Entretanto, no Brasil contemporâneo, tal ideal não pode ser observado, visto que há uma mudança comportamental da população devido a uma manipulação de dados na internet. Assim, evidencia-se a falta de conhecimento dos usuários acerca do assunto e a alienação das redes sociais como propulsor do problema.
Inicialmente, um entrave é a passividade dos usuários no que tange a incorporação de aplicativos digitais em sua rotina sem a menor orientação. De fato, tal atitude se relaciona ao livro "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica", trazido pelo filósofo alemão Walter Benjamin: A reprodutibilidade maior também reduziu a capacidade reflexiva de seus espectadores. Um exemplo disso é como os diversos tipos de programas passaram a receber dados de seus usuários, sem que eles tomassem consciência, para enviá-los apenas o que é compatível com seus gostos. Nessa situação, não há uma procura pelo produto ou notícia, deixando o indivíduo inerte apenas ao que os algoritmos o apresentam.
Outrossim, a forma como a sociedade trocou seus momentos de lazer coletivo para relações através de um smartphone também deve ser discutida. Nesse contexto, ganha-se relevância o pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, segundo o qual, há uma crescente individualidade, alimentada por uma oferta de produtos a escolha do consumidor, levando o sujeito a um paradoxo: a liberdade de escolha e a superficial relação com outros grupos. Com isso, cada vez mais os softwares se tornam "responsáveis" pela socialização do indivíduo. Dessa maneira, a população tende a se tornar alienada, tendo suas relações apenas no mundo virtual, favorecendo a prática do manejo de dados.
Diante de tal cenário, medidas devem ser executadas visando a atenuação do problema. Para tanto, urge que o Estado crie minicursos gratuitos sobre algoritmos e redes sociais, para conscientizar os usuário acerca de seu modo operacional, por meio de vídeo aulas com especialistas que expliquem como o mundo digital pode ser manipulado. Ademais, os aplicativos sociais deveriam incentivar programas ao ar livre a fim de recuperar as relações sociais entre os indivíduos, por meio de anúncios digitais, que detalhem o quão importante são os encontros fora da tela de um celular. Com tais ações, será possível um Brasil conforme fora deslumbrado por Marinetti em seu Manifesto.