Na obra ''Ensaio Sobre a Cegueira'', do escritor português José Saramago, é retratado o fenômeno da cegueira moral, o qual é caracterizado pela indiferença da sociedade frente aos problemas que a assolam. Analogamente, existe no Brasil hodierno uma problemática sendo tratada com grande descaso: a desigualdade entre as regiões do país. Desse modo, cabe a análise da situação e os desafios enfrentados pela população para reduzir essas diferenças, tais como a ausência de medidas estatais e a concentração da renda nos grandes polos.
Em uma primeira análise, aponta-se a falta de ações governamentais para garantir igualdade entre as regiões brasileiras. De acordo com dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2019, há uma enorme disparidade entre os estados do país, sendo que os componentes do Norte e Nordeste possuem a menor renda domiciliar per capta. Assim, é notório que muitos dos moradores dessas regiões acabam enfrentando o desemprego, falta de saneamento básico, e condições precárias de saúde e moradia, infelizmente. Dessa forma, é indubitável que o Estado não cumpre com as responsabilidades que lhe foram impostas, que consoante ao filósofo John Locke, é garantir a todos os cidadãos os direitos básicos, através de um contrato social com a população.
Além disso, a concentração da renda e das empresas nas cidades grandes se configura como impulsionadora das desigualdades regionais brasileiras. Desde o início da colonização do Brasil, no século XVI, as atividades econômicas foram concentradas nas porções litorâneas - como o Rio de Janeiro -, pela facilidade de escoamento dos produtos, fato que culminou no elevado desenvolvimento e riqueza dessas cidades e na grande disparidade quando comparadas a cidades do Sertão, por exemplo. Devido a isso, é indubitável que há reflexos do período colonial na atual conjuntura, pois essas regiões cresceram cada vez mais e junto delas as desigualdades e o preconceito em relação aos estados menos desenvolvidos e mais carentes social e economicamente. Assim, urge a tomada de medidas que minimizem a mazela.
Depreende-se, portanto, que a falta de ações do Governo e a concentração da renda nos grandes polos são desafios para reduzir as desigualdades regionais do país. Em consequência disso, cabe ao Estado, por meio de verbas públicas, aplicar investimentos nas cidades mais pobres – com a construção de empresas, hotéis e lojas –, a fim de que elas se desenvolvam e a qualidade de vida dos moradores melhore. Ademais, as grandes indústrias devem instalar sedes em regiões precárias, com a finalidade de ajudar no crescimento econômico. Com isso, a desigualdade será gradativamente erradicada no país, e a cegueira moral de Saramago chegará ao fim.