A série "Control Z", da empresa "Netflix", retrata no enredo casos de vazamentos de dados pessoais na internet - por um hacker anônimo- uma das vítimas é a jovem estudante Isabela de La Fuentes que ao ser divulgada sua identidade de gênero, torna-se alvo de cancelamento virtual. Tal ficção, hodiernamente, é personificada, uma vez que a política do cancelamento na internet no Brasil é constante. Isso se dá, seja por julgamentos virtuais, seja pela deterioração da liberdade de expressão. Logo, hão de ser discutidos tais fatos.
Nessa perspectiva, é imprescindível salientar o julgamento como fator relevante no âmbito cibernético. Sob essa perspectiva, Nietszche, filósofo alemão, é correto ao enunciar que o conceito de bem e mal são criados pelo ser humano, bem como modificados ora pela cultura, ora pelo tempo. Não obstante, o pensamento do intelectual é fomentado no cenário presente, haja vista que não existe mais a preservação do respeito àqueles os quais expõem seus pensamentos na internet, gerando maciçamente tribunais virtuais carregados de justiceiros que definem o verdadeiro bem e mal com ênfase no tempo cultural contemporâneo. Desse modo, o fato proporciona o afastamento de muitos internautas pelo cancelamento, o que causa ondas de medo e desespero em uma parte substancial de vítimas.
Outrossim, é válido analisar o direito de livre expressão como uma virtude degenerada pela sociedade internauta. Sob esse prisma, o escritor iluminista, Voltaire, é certo ao apregoar que pode até não concordar com o que o outro diz, mas defenderá até a morte o direito de dizê-las. Acerca disso, percebe-se que o dito não é firmado entre os navegadores em redes sociais, já que parte substancial ao se pronunciar tem sido alvo de chacotas, desrespeito e cancelamento, o que os tira o direito propagar opinião, explicitando a ausência de defensores. Dessa forma, o ato cultural de bloqueio cibernético viola os direitos humanos e aumenta os índices de ansiedade, pânico e depressão, pois exclui os quais querem expôr seus anseios.
Infere-se, portanto, que haja medidas estruturais de combate a política do cancelamento na internet no Brasil. Em primeira instância, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações - responsável pela administração dos órgãos de comunicações virtuais- deve filtrar com agilidade os usuários que desrespeitam a expressão daqueles que se impõem nas redes, por meio de robôs fiscais especialistas em leitura de agressão verbal, com o intuito de mitigar o cancelamento espalhafatoso que muitos internautas sofrem. De outro modo, o Judiciário, responsável pela aplicação das leis, deve fiscalizar com mais afinco os que ferem o direito universal da liberdade de expressão, por meio de especializações nas configurações das redes sociais tais como Facebook, Twitter e Instagram, em parceira com a administração matriz dos aplicativos, a fim de amenizar o cenário caótico da cultura do bloqueio. Sendo, assim, lograr-se-à casos como o da ficção "Control Z".