Tema: A questão da água no Brasil
O livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. De maneira atemporal, o autor expõe a realidade de muitas famílias que, incansavelmente, têm de lidar com as implicações da questão da água no Brasil. Nesse âmbito, é possível perceber que a problemática persiste devido à distribuição desigual da água e ao seu uso excessivo pelo agronegócio e pelas indústrias.
Em primeira análise, convém ressaltar a grande parcela de implicância que a localização geográfica tem no abastecimento de água para a população. Conforme dados de uma pesquisa da Agência Nacional das Águas, a concentração dos recursos hídricos é inversamente proporcional à densidade demográfica de modo que, quanto mais habitantes por km2, menor a disponibilidade. Nesse cenário, a desigual acessibilidade associada com a falta de planejamento governamental e de ações públicas de interesse social impossibilitam o abastecimento igualitário diante da sociedade brasileira e acarretam falta de energia elétrica, uma vez que o país depende de hidrelétricas.
Ademais, as tentativas públicas e privadas de diminuir o consumo de água da população tornam-se irrelevantes visto que as maiores taxas de utilização advêm do agronegócio e de indústrias. Segundo o pensamento do romancista, poeta, dramaturgo e ativista pelos direitos humanos francês, Victor Hugo, “é triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve”. Nesse contexto, a demanda de água não se reduz apenas ao uso cotidiano, mas também é representada pela água que diz respeito à água “incorporada” em um bem de consumo, considerando toda sua cadeia de produção como, por exemplo, o consumo de 1kg de carne implica o uso de 15 mil litros de água doce limpa. Assim, como a consumação de água durante a produção passa, muitas vezes, despercebida, o desperdício e a poluição causados também são desconsideradas afastando ainda mais a possibilidade do acesso de maneira igual pelo corpo social brasileiro.
Portanto, é de suma importância a busca pela solução da questão da água no Brasil. Desse modo, cabe ao Ministério da Economia, por meio da inclusão desse objetivo na Lei das Diretrizes Orçamentária, a adesão de isenções fiscais àqueles que adaptarem sua produção à métodos sustentáveis e de reaproveitamento - como o uso da água das chuvas; limpeza e reutilização das águas da cadeia de produção como forma de incentivo à sustentabilidade. Além disso, o Ministério do Meio Ambiente deve elaborar planos mais eficazes para corrigir a má distribuição de água. Assim, o Brasil poderá caminhar em direção a uma sociedade mais equilibrada e democrática