No ano de 1922, em terras brasileiras, iniciava-se uma nova era no contexto da arte e da literatura, o modernismo. Esse período tem como principal característica a busca por uma identidade nacional, transgressora das artes do passado. Assim como nesse período da história, o funk busca anunciar sua arte do ponto de vista das desigualdades sociais e das negligências governamentais com favelas e comunidades. Infelizmente, analogamente ao ocorrido no período modernista no século 20, o funk é interpretado de forma errônea, seja pelo contexto de desvalorização da cultura nacional, seja pelo preconceito imposto no meio precursor desse estilo, necessitanto aprofundamento às problemáticas.
A princípio, é inegável a necessidade de debater-se as questões acerca da desvalorização da cultura nacional. Nesse sentido, o conceito de “Sociedade do Espetáculo”, do filósofo francês Guy Debord, configura o controle passivo da indústria cultural sobre os indivíduos. Tal manipulação aliena diferentes estratos sociais, resultando em uma supervalorização das culturas estrangeiras, relacionando o nacional a noções negativas e de valor banal. Dessa forma, é criado um estado de plena ignorância quanto às regionalidades brasileiras, já que somos frutos de nossa própria cultura - caso seja adjetivada de forma negativa isso é reflexo do próprio corpo social a qual ela pertence.
Outrossim, é clara a necessidade de discutir-se a problemática do preconceito ao funk no Brasil moderno. Nessa perspectiva, o alicerce desse preconceito relaciona-se a sua gênese - as favelas do Rio de Janeiro, locais onde os problemas sociais e econômicos são acentuados e negligenciados pelos governos. Nisso, a obra “O cidadão invisível", de Gilberto Dimenstein, retrata a invisibilidade imposta em alguns grupos sociais, tratados como inexistentes na sociedade. Assim, o exposto na obra de Dimenstein pode relacionar-se com a realidade desses espaços, os quais tentam ganhar destaque por meio dessa arte, permeada pelo preconceito, reflexo da invisibilidade imposta a esses espaços.
Portanto, diante dos aspectos conflitantes relativos ao legado do funk como identidade brasileira, é indiscutível a tomada de medidas interventivas. Para tanto, é necessário que o Ministério da Educação, junto às Escolas, debata, por meio das aulas de literatura e filosofia, a importância que há na criação de uma identidade para o país, como meio de remover a alienação sobre outras culturas e garantir maior apreciação pelo legado nacional. Além disso, é preciso que o Poder Público, junto a suas Instâncias, promova leis que, a partir de uma observação sobre o que retrata esse estilo musical, garantam melhorias sociais nesses espaços, as quais, também, objetivem o fim do preconceito contra esse grupo social, marginalizado por décadas. Dessa forma, será possível viabilizar um Brasil com um legado de valorização das artes e livre de preconceitos de classe.Redação