TEMA: COMBATE AO USO DE ANIMAIS EM TESTAGEM LABORATORIAL
No clássico da literatura russa “O Mestre e Margarida” é relatado que atos de violência contra animas, especialmente gatos pretos , em razão da sua associação com a figura do personagem Behemoth, cresceram exponencialmente no meio urbano após a passagem do séquito infernal. Nesse sentido, a realidade nacional aproxima-se no cenário criado por Mikhail Bulgakóv na medida em que a naturalização da condição de vulnerabilidade dos animais é ainda acentuada pela agressão regulamentada no âmbito da testagem laboratorial. Desse modo, a inadequação metodológica das escolas e a omissão do governo contribuem para a problemática.
Em primeira análise, entende-se que o ensino conteudista contribui para a falta de mobilização social em prol do combate ao uso de animais em testagem laboratorial. Nessa lógica , Hanna Arendt afirma que a modernidade permite o desenvolvimento de comportamentos de banalização do mal. Sob tal perspectiva, a falta de integração de discussões acerca de temáticas sociais às disciplinas formais do currículo escolar contribui para a formação de mentalidades que não reconhecem a violência animal e o seu uso como artífice em processos de testagem laboratorial como algo problemático. Por conseguinte, ocorre o desenvolvimento de uma postura alienada , por parte dos cidadãos, que não buscam compreender no que consiste a realidade da utilização de cobaias em laboratórios — que inclui ,muitas vezes, o desenvolvimento de mutações letais e perda de membros dos animais — e determina a continuidade da compra e investimento em tal metodologia industrial. Dessa forma, a falta de abordagem escolar acerca da temática contribui para a redução da postura crítica do indivíduo e a vulgarização do uso de animais em testes de laboratório.
Outrossim, a negligência governamental favorece a continuidade da existência de condições nas quais animais são submetidos a condições desnecessariamente degradantes. Nesse âmbito, o filósofo Friedrich Hegel atribui ao Estado um caráter baseado em um ideal de infalibilidade, que não é reproduzido na realidade contemporânea. Isso porque, embora existam meios tecnológicos eficazes que não exijam a testagem em animais para a admissão da segurança do produto, a falta de incentivo fiscal e direcionamento de investimentos por parte do governo para pesquisas laboratoriais , contribui para um encarecimento do valor final atribuído a tais produtos. A partir disso, embora os indivíduos reconheçam como problemática a testagem laboratorial com animais, a discrepância no valor de venda de produtos que não utilizam tal abordagem torna-os inacessível para grande parte da população, em razão da incompatibilidade com a renda média do cidadão brasileiro. Dessa maneira, a indiligência estatal compromete a aplicabilidade de alternativas à utilização de animais na testagem laboratorial.
Portanto, é notório que a restrição da matriz escolar e a displicência governamental constituem importantes empecilhos para o desenvolvimento de soluções produtivas para o combate ao uso de animais em testes laboratoriais. Logo, com o fito de instigar a mobilização social,por meio do desenvolvimento de uma postura questionadora dos sujeitos enquanto consumidores, as Escolas, que são responsáveis pela formação do pensamento crítico e engajado do cidadão , devem estimular a discussão acerca da violência aplicada em cobaias laboratoriais. durante as aulas de sociologia. Além disso , com o objetivo de estimular a maior acessibilidade a produtos que optam por não testar em animais, o Poder Executivo deve investir em empresas, por intermédio da isenção fiscal , as quais busquem métodos alternativos que não causem danos aos animais. Assim será possível distanciar a realidade nacional da naturalização da violência direcionada aos animais , como a apresentada na obra de Mikhail Bulgakóv.