Tema: desafios da inclusão dos autistas no Brasil
O seriado de televisão "The Good Doctor" retrata o médico autista chamado Shaun, que, apesar de brilhante, enfrenta diversos preconceitos, tendo Aaron Glasman-presidente do hospital- como único favorável à sua contratação.Entretanto, essa situação não se restringe à ficção, haja vista que a intolerância contra a população autista brasileira mostra-se recorrente, o que dificulta sua inclusão. Desse modo, há de se combater a falta de empatia, bem como a precária estrutura da educação do Brasil.
A princípio, é indubitável que a supressão da alteridade colabora diretamente para a ininterrupção da exclusão dos autistas no país. Nessa conjuntura, Simone Beauvoir-expoente filósofa francesa- desenvolveu o conceito denominado Invisibilidade Social, segundo o qual os indivíduos possuem a tendência de ignorar racionalmente os grupos em vulnerabilidade. A esse respeito, evidencia-se a austeridade e a negligência social sobre a comunidade afetada pelo autismo, visto que em decorrência da insuficiente procura de se informar a respeito do assunto, substancial parcela dos brasileiros excluem as pessoas com esse espectro e aderem o conceito errôneo e preconceituoso propagado indiscriminadamente, o que inviabiliza a dignidade desse público. Dessa maneira, enquanto a insensibilidade for a regra, a integração dos autistas será a exceção.
Outrossim, a defasagem educacional potencializa os obstáculos de inserção dos autistas na sociedade. Nessa perspectiva, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional(LDB),o ingresso de uma criança com autismo na escola regular é um direito garantido por lei. Sobre isso, nota-se que a máxima configura-se como completa na teoria, porém, na prática, não é efetivada, uma vez que menos de 30% das crianças e adolescentes com esse transtorno frequentam as instituições educacionais. Esse cenário adverso decorre das matrizes curriculares falidas do sistema público de educação, a qual generaliza o ensino à métodos tecnicistas e conteudistas, segregando os que não se enquadram a essa restrição, a exemplo dos autistas. Diante disso, não é razoável que o ensino retrógrado permaneça em uma nação que almeja o desenvolvimento,à medida que o público com autismo é, indiretamente, impedido de frequentar o espaço escolar.
Há de se buscar, portanto, alternativas capazes de resolver o impasse. Para tanto, o Ministério da Educação, instância responsável pela qualidade do ensino, deve tornar as escolas mais inclusivas aos autistas. Isso será feito mediante um pacote de ações a serem incluídas na Lei Plurianual, a saber: especialização dos professores, atualização da base curricular e melhoramento da infraestrutura das instituições educativas, a fim de tornar esse âmbito acessível às crianças e aos adolescentes com esse espectro. Ademais, impende que a sociedade, em parceria aos veículos midiáticos, desconstrua o conhecimento errôneo sobre o autismo, por meio de debates regrados, divulgação de livros, projetos e breves documentários, com o intuito de sensibilizar a população quanto à importância que o tópico requer na promoção da dignidade desse grupo e na efetivação dos seus direitos. Assim, espera-se, com essas medidas, que histórias como a do seriado "The Good Doctor" sejam, em breve, apenas ficção e que a população brasileira tenha uma atitude respeitosa e progressista, como a de Glasman.