Em sua música "Imagine", John Lennon - cantor, compositor e ativista britânico -, exibe uma esperança de utopia em que a paz e a igualdade são realidades. Embora lançada nos anos 80, a canção se faz presente no imaginário da população frequentemente, tomando contornos específicos quando associada à questão da população carcerária. Em torno do assunto, questiona-se a importância e o cumprimento da inserção de ex-presidiário no mercado de trabalho, evidenciando a negligência estatal e a ciclicidade do crime no país, que impossibilitam a obtenção da harmonia social e carecem de solução interventiva.
Primeiramente, é importante ressaltar que a Constituição Federal do Brasil de 1988 prevê, em seu Artigo VI, o direito de todo cidadão da posse de moradia, entre outros. Porém, na prática, indivíduos recém-libertos do cárcere são privados de tais direitos pela falta de inserção em empregos formais uma vez que há a impossibilidade de custeamento de moradia digna, o que, neste caso, deveria ser provido pelo Estado, fato que não ocorre, levando à fixação de indivíduos nas ruas. Assim, observa-se a ação estatal ineficiente na reintegração de ex-presidiários no mercado de trabalho e suas consequências cerceadoras de direitos fundamentais.
Além disso, as condições encontradas fora do meio empregatício formal são próprias à reintegração ao crime. No poema "O bicho", Manuel Bandeira descreve o espanto da observação de um homem em busca de comida no lixo, gerando comoção do interlocutor. Tais cenas não são incomuns no panorâma brasileiro, principalmente no entorno de pessoas recém saídas da cadeia. Estas condições provocadas pela repulsão do mercado em relação aos ex-presidiários, torna o modo de vida criminoso a opção mais viável, sendo clara a ciclicidade imposta pelas condições sociais ao crime.
Portanto, a fim de se aproximar à utopia proposta por Lennon, cabe a criação de uma parceria entre o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Ministério do Trabalho. Em conjunto, estes orgãos, por meio de negociações com o empresariado privado buscariam a criação de cotas empregatícias para ex-presidiários - como, por exemplo, a presença de 5% do contrato de funcionários composto por estes indivíduos -, apresentando benefícios às companhias dispostas a tal ação. Esta inserção gradativa garante àqueles previamente cercados da liberdade a ressocialização e gera esperança por um futuro com mais igualdade e harmonia.