Na obra literária "1984", é retratada uma sociedade distópica na qual toda a população é, constantemente, vigiada pelo "Grande Irmão" e que, através do Ministério da Verdade, controla as informações fornecidas as pessoas, assim como sua forma de pensar. De forma antagônica à ficção, na atual conjuntura do país com o advento do acesso à internet, os brasileiros possuem uma fonte - quase que inesgotável - de conhecimento, além da liberdade de escolher o que compartilham nas suas redes sociais. Entretanto, é percebível que o consumo irresponsável das mídias pode ser tão perigoso quanto o controle de pensamentos representados na obra supracitada, visto que dessa maneira, os limites entre a vida pessoal e pública acabam distorcidos, acarretando em danos difíceis de reverter.
Em primeira análise, verifica-se que o uso excessivo de redes sociais prejudica a relação entre amigos e familiares, principalmente pais e filhos. De maneira similar, na série Black Mirror é narrado em um dos episódios a história de uma mãe que decide implantar na sua filha um dispositivo que sempre lhe permitisse vigiar a criança. Ainda que o uso desse eletrônico tenha tido como motivação o bem-estar da infante, cria-se na casa um ambiente desconfortável e de desconfiança, já que em nenhum momento a garota foi avisada sobre o uso do dispositivo. De tal forma, depreende-se que, se não houver responsabilidade por parte dos pais e o consentimento das crianças na hora de compartilhar determinada imagem ou vídeo, a interação entre eles e a privacidade dos menores será abalada.
Além disso, ao tornarem públicas certas situações, os indivíduos tornam-se sujeitos a julgamentos e comentários externos, o que corrobora para o surgimento de transtornos mentais em um maior número de pessoas. Segundo o filósofo Guy Debord, no contexto atual as relações humanas seriam como uma "sociedade de espetáculos", na qual tudo é belo, feliz e sem defeitos aparentes. Sob esse viés, cria-se na população a necessidade de um bem-estar inatingível para ser compartilhado, mesmo que não seja de fato verdade. Tal perspectiva demonstra a importância do debate periódico sobre doenças mentais e o estigma associado a elas.
Portanto, cabe ao Ministério da Educação fornecer á população instruções para um uso mais saúdavel das redes sociais, por meio de palestras e eventos, com o intuito de conscientizar sobre os riscos do consumo excessivo das redes. Ademais, cabe ao Ministério da Saúde - responsável por recuperar e garantir a saúde da população - implantar nas instituições de ensino o apoio psicológico aos jovens, por intermédio da contratação de profissionais habilitados, com a finalidade de se reduzir o tabu criado nas mídias sobre os transtornos mentais. Feito isso, o Brasil caminhará para o uso correto da internet e das mídias, reduzindo os prejuízos à saúde e à privacidade da população.