As bolhas digitais e a ilusão das redes
Durante a onda revolucionária de manifestações da Primavera Árabe, as mídias sociais cumpriram um relevante papel ao promover a massiva presença da população geral em tais eventos, além de instigar o engajamento do mundo árabe. Destarte, fica evidente que a volátil polarização popular, exponenciada pela ação das redes, é agravada com a formação de “bolhas digitais” e a carência de instrução efetiva, acerca do uso seguro e responsável de tais ferramentas.
Diante dessa perspectiva, é essencial citar o fenômeno moderno das comunidades eletrônicas e como o algoritmo dessas promove a insulação de seus usuários, isolando-os de conteúdos contrários aos que costuma demonstrar interesse. Conforme “O Dilema das Redes”, documentário da empresa de entretenimento americana, Netflix, a separação categórica entre grupos de ideologias opostas e o conteúdo que lhes é oferecido, cria um abismo entre esses e proporciona a falsa sensação de apoio incondicional, por parte de outros usuários da ‘internet’. À vista disso, a formação de tais grupos aficionados e sua ilusória aprovação acarretam a crescente polarização popular e é inconciliável com a constituição de um espaço cibernético seguro, racional ou pautado na lógica.
Ademais, torna-se digno mencionar a carência de “alfabetização funcional tecnológica” presente no Brasil, principalmente entre membros seniores do tecido social, como um dos principais pilares que sustentam o imbróglio. Segundo Antônio Salles, diretor da empresa computacional Cntrl+Play, o negligente abandono desses integrantes, causado pelo despreparo para manuseio de tais inventos, tem como consequência grande potencial de influência sobre os mesmos. Assim, a escassez de conhecimento e senso crítico acerca do funcionamento desses mecanismos faz dos usuários alvos mais vulneráveis a influências externas e suscetíveis à sua interferência.
Logo, urge ao Estado amenizar o quadro atual, o qual ameaça propagar-se cada vez mais, se não impedido. Nessa lógica, para que os usuários dessas redes não sejam apartados de outros com perspectivas conflitantes e estejam sujeitos a encontrar informações distintas das quais concomitam, cabe ao Ministério da Tecnologia exigir que o algoritmo de recomendações e exposição seja mudado, mediante a legislação brasileira. Outrossim, as Secretarias de Educação Estaduais devem dar maior suporte àqueles que buscam adquirir mais conhecimento acerca das mídias sociais - do ‘Facebook’ e ‘Instagram’ a jornais eletrônicos e relacionados -, por meio da constituição e implantação de cursos gratuitos, a fim de ensinar aos mesmos como utilizar essas ferramentas de forma segura e responsável. Desse modo, será criado um ambiente favorável à extinção da realidade apresentada no longa-metragem que explora o Vale do Silício e à autonomia intelectual de todos os que desfrutam das plataformas, amenizando a polarização gerada pelas mesmas, no Brasil.