Tema: Os desafios do combate ao assédio moral no serviço público
O dorama "Apostando Alto" retrata, em um dos seus episódios, as condições marginais vividas por Kin no trabalho, que, apesar das agressões físicas e verbais, subjugou-se a essa realidade para a sobrevivência da sua família. No entanto, esse panorama adverso não se restringe à ficção, haja vista que substancial parcela dos trabalhadores brasileiros são vítimas do assédio moral, assim como o personagem. Desse modo, há de se combater a maldade humana, bem como a falta de dignidade dos colaboradores do serviço público.
A princípio, é indubitável que a indiferença social colabora diretamente para a ininterrupção da opressão no mercado laboral. Nessa conjuntura, Hannah Arendt -expoente filósofa alemã- desenvolveu o conceito denominado Banalidade do Mal, segundo o qual defende que a hostilidade está enraizada no cotidiano da população. A esse respeito, a lógica de Arendt manifesta-se no comportamento dos patrões no âmbito trabalhista, na medida que assumem atitudes que danificam a integridade dos seus funcionários, os quais são submetidos à progressivas e graves humilhações. Dessa maneira, enquanto a crueldade dos chefes for a regra, a harmonia entre os servidores públicos será a exceção.
Outrossim, o ambiente laboral tóxico potencializa a fragilidade da dignidade humana dos trabalhadores. Sob essa perspectiva, a Declaração Universal dos Direitos Humanos- instituída no período da Revolução Francesa- estabeleceu que todos os indivíduos devem ser, inerentemente, tratados de forma digna. Ocorre que o Brasil está distante de vivenciar o respeito no trabalho, o que separa a nação do tratado internacional e, consequentemente, expõe os funcionários à vulnerabilidade. Diante disso, se a falta de dignidade nas repartições estatais se mantiver, a população será obrigada a conviver com um dos mais críticos problemas para as vítimas: o assédio moral.
Há de se buscar, portanto, alternativas capazes de resolver o impasse. Para tanto, os órgãos de corregedoria, responsável pela segurança dos servidores, devem combater os casos de hostilidade e opressão no espaço de trabalho. Isso será feito mediante um pacote de ações a serem incluídas na Lei Plurianual, a saber: realização de políticas públicas que garantam a dignidade dos colaboradores e a fiscalização da conduta dos chefes das repartições, a fim de desestimular o autoritarismo recorrente no mercado laboral. Ademais, impende que a sociedade civil, em parceria aos veículos midiáticos, repudie as humilhações periódicas nesse ambiente, por meio de debates regrados, divulgação de projetos, livros e breves documentários que sensibilizem os brasileiros a valorizarem a tolerância, a empatia e uma boa convivência nos serviços públicos. Assim, espera-se, com essas medidas, que histórias como a do dorama "Apostando Alto" sejam, em breve, apenas ficção.