"O menino é pai do homem", é o que aponta Machado de Assis com a finalidade de dizer algo fundamental: o adulto é consequência direta de suas experiências da infância. Nesse viés, o contato da criança com a literatura mostra-se como um importante fator para o pleno desenvolvimento infantil, visto que ela, por seu caráter catártico e educador, auxilia o infante a construir sua identidade e, dessa forma, a melhor interpretar a realidade na fase inicial de sua vida. Assim, apontar porque os caracteres constituintes da literatura lhe asseguram sua importância para a formação do indivíduo na primeira idade é imprescindível.
Primeiramente, destaca-se a relevância das consequências positivas da identificação individual com uma obra literária. Afinal, essas consequências, tais como o encontro com a própria subjetividade e a percepção da importância do outro e do diferente para a construção do "eu" são, de acordo com Aristóteles, fomentadoras do autoconhecimento. Por isso, a leitura literária na infância, ao possibilitar às crianças a construção de uma interpretação coerente acerca da própria vida, ajudam-nas a situar-se no mundo e, assim, possibilita que elas possam lidar de forma satisfatória com as demandas da realidade.
Em segundo lugar, lidar com tais demandas dependem, também, da interpretação de seus comandos e, nesse ponto, a literatura também vem em auxílio do incipiente leitor da vida. Isso porque, em consonância com o filósofo Arthur Schopenhauer, a leitura de uma obra baseia-se no experienciar a realidade de outrem sem tê-la vivido e, nesse sentido, conhecer o mundo de maneira indireta. Logo, toda informação acumulada, sendo nos clássicos ou em releituras desses, serve como um arcabouço teórico para auxiliar os pequenos no processo de decodificação e pleno entendimento de suas experiências vividas.
É explícita, portanto, a necessidade da utilização da literatura para auxiliar no processo de formação infantil. Para isso, o Ministério da Educação, mediante a distribuição de obras literárias para os estudantes de forma análoga à dos livros didáticos, ou seja, apropriada a cada grau de escolaridade, poderia fomentar uma positiva interpretação de si e do mundo pelas crianças. Por conseguinte, uma formação infantil pautada em aspectos subjetivos e objetivos - no "eu" e no mundo - poderá ser alcançada e, assim, o menino poderá ser um bom pai para o homem.