O livro "Extraordinário", de R. J. Palacio, retrata a vida de um garoto com deficiência facial genética, que sofre uma série de distúrbios emocionais em virtude da perseguição que sofre por ser diferente. Por analogia, observa-se que a obra ilustra a realidade brasileira, haja vista que os deficientes físicos enfrentam uma série de desafios para a sua inclusão na sociedade nacional, o que ocorre, sobretudo, em razão do egoísmo social e da omissão estatal diante desse quadro. Urge, portanto, que se discutam as causas da exclusão comunitária dos brasileiros com debilidades, assim como meios efetivos para combater essa situação.
Em primeiro lugar, é fundamental destacar o egocentrismo comunitário como catalisador do fenômeno supracitado. Nesse sentido, consoante ao sociólogo polonês Zygmunt Bauman, vive-se, nos dias contemporâneos, em uma sociedade pós-moderna, cuja principal característica é o individualismo nas relações sociais. Tal individualismo se manifesta, claramente, quando se observam condutas egoístas de grande parte dos cidadãos, as quais se baseiam na falsa noção de que os deficientes, por possuírem limitações físicas ou mentais, são incapazes de executarem as atividades cotidianas, a exemplo do trabalho e da vida escolar. Depreende-se, pois, que o egoísmo social contribui para a redução da dignidade humana da camada debilitada.
Em segundo lugar, é necessário ressaltar a falta de medidas governamentais com o fito de reverter esse quadro. Nessa lógica, a Constituição Cidadã, de 1988, baseia-se no princípio da isonomia, no qual todos os cidadãos devem usufruir dos mesmos direitos legais. Entretanto, esse benefício não é garantido na prática, haja vista que o Estado não atua de forma a realizar campanhas educacionais que dialoguem com a população acerca da necessidade de se acolher o deficiente físico no país, assim como a respeito dos prejuízos socioemocionais originados pela exclusão social dessa camada. Logo, enquanto a omissão estatal for regra, o princípio constitucional da equidade jamais será respeitado.
Em virtude dos fatos mencionados, são necessárias ações governamentais com o objetivo de combater a exclusão social dos portadores de deficiência no país. Desse modo, é dever do Ministério da Educação, como órgão estatal responsável pelas diretrizes educacionais, promover campanhas de diálogo com a camada civil acerca da importância de se respeitar a figura do deficiente físico na sociedade nacional, por meio da realização de palestras escolares que dissertem sobre o assunto. Tais ações devem ser efetuadas a fim de que o drama contido em "Extraordinário" não seja realidade banal no cenário brasileiro.