Heródoto, historiador grego do século V a.C., apontava que "deve-se pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro". Tal apontamento evidencia a relevância de instituições museológicas para a humanidade ao delinear, sobretudo, o caráter educador que elas apresentam. Entretanto, no Brasil hodierno, o sucateamento de museus pelo Estado e a falta de posicionamento político dos cidadãos pela dignificação dessas instituições tem inibido, cada vez mais, além do caráter educador delas, a realização de pesquisas nesses corpos simbólicos. Dessa forma, buscar caminhos para reverter esse quadro mostra-se imprescindível.
Primeiramente, é evidente que o primeiro estímulo à valorização dos museus deve vir do povo. Isso porque essa valorização perpassa pelo reconhecimento coletivo de que é precisamente nessas instituições que se encontra a maior densidade de referências do que constitui, historicamente, a identidade desse grupo de pessoas. Por isso, de maneira análoga à luta social brasileira pelo petróleo na década de 1950, marcada pelo slogan "o petróleo é nosso", e que levou o Estado a reconhecer essa propriedade, a luta pelo conjunto de significados presentes nos museus, por seu caráter definidor e de expansão do conhecimento, também deve ser travada.
Em segundo lugar, essa necessária mobilização política da sociedade justifica-se por ser o meio mais eficaz de levar à reversão das ações governamentais tomadas na última década. Afinal, essa década está sendo marcada por graves cortes orçamentários, a exemplo da diminuição de quase 90% da verba destinada ao Museu Nacional, entre os anos de 2013 e 2018, como aponta a Folha de São Paulo, e que tem sido a principal causa de perdas irreparáveis nesse âmbito, como a gerada pelo incêndio no mesmo museu em 2018. Nesse sentido, a mudança da postura do Estado é mais do que essencial para a garantia do patrimônio histórico.
Mostra-se evidente, portanto, a necessidade de mudar posturas governamentais e cidadãs a fim de garantir a valorização da educação e da pesquisa por meio dos museus. Para isso, a mídia, através de veículos televisivos e das redes sociais, deveria promover a conscientização da população acerca da importância do patrimônio simbólico nacional e, com isso, direcionar o engajamento público para a necessidade de mudar políticas governamentais vigentes. Essa conscientização, realizada por meio de propagandas que contrastem o cenário real com um ideal possível, poderá evidenciar o quão difícil é idealizar o futuro sem pensar o passado.