No livro "Ensaio sobre a Cegueira", o escritor José Saramago critica, metaforicamente, a idealização de uma sociedade que não enxerga os problemas existentes no meio e denomina essa característica de cegueira branca. Analogamente à obra literária, boa parte dos brasileiros se mantém "cegos" perante os desafios na formação educacional dos surdos, de modo a excluir tais cidadãos da comunidade. Logo, cabe analisar o ensino tradicional do país e a ausência da implementação de um segundo idioma inclusivo como potencializadores da problemática.
Diante desse cenário, ressalta-se que os moldes tradicionais da educação brasileira implicam na exclusão de pessoas com deficiência auditiva. Isso acontece, porque o atual sistema de ensino público do país permanece restrito a uma metodologia retrógrada de repasse de conhecimento, sem incluir nele indivíduos que precisam de um atendimento especial. Acerca disso, é pertinente citar a crítica do pedagogo brasileiro Paulo Freire em sua máxima "Pedagogia do Oprimido", a qual cita o modelo de escola tecnista e conteúda como opressor para a sociedade, pois sem a instriução adequada, pessoas surdas não concluem o ensino básico preparadas para ocupar os mesmos espaços em relação a indivíduos sem deficiência. Assim, nota-se a necessidade de uma alteração no sistema educacional para atender os surdos em meio às necessidades inclusivas.
Pontua-se, ainda, que a escassez na aplicação da LIBRAS, segundo idioma oficial do Brasil, no corpo social culmina na dificuldade de comunicação dos surdos. Essa questão ocorre, uma vez que a Língua Brasileira de Sinais não faz parte da grade curricular obrigatória da maioria dos colégios públicos, dificultando a troca de informações nos espaços de aprendizagem. Sob essa ótica, destaca-se o rompimento do direito à educação presente no artigo 6° da Constituição de 1988, já que não há a concretização desse direito entre os cidadãos com deficiência autidiva. Dessa forma, é incoerente pensar que, em um país democrático, a vida de pessoas surdas torna-se dificultada pela carência de adesão à uma linguagem oficial.
Portanto, trabalhar os desafios para a formação educacional de surdos no país implica em alterações no tradicionalismo e na grade curricular do ensino brasileiro. Para tanto, cabe ao Ministério da Educação, órgão responsável pelas diretrizes do ensino brasileiro, alterar a gama de disciplinas básicas na rede pública. Isso se daria, principalmente, pela contratação de professores especializados no trabalho inclusivo com surdos e na adesão da LIBRAS como um componente curricular obrigatório, em carga horária congruente às demais disciplinas, a fim de tornar a sociedade brasileira mais inclusiva no que tange à educação de surdos. Somente assim, a obra de José Saramago poderá ser utilizada para fins literários de estudo e não como um símbolo da realidade.