OS DESAFIOS NA PRESERVAÇÃO DA CULTURA FOLCLÓRICA BRASILEIRA
Marius Barbeau, antropólogo norte-americano, defendia que o folclore, como objeto da construção da identidade cultural, é uma manifestação associada à preservação das raízes e da memória dos grupos sociais. Nesse sentido, um país multicultural, como o Brasil, possui características folclóricas embasadas na miscigenação de raças e etnias, o que fortalece a definição de Barbeau. Entretanto, a aversão coletiva em relação à preservação de práticas culturais e o descaso pedagógico em relação à manutenção das manifestações folclóricas estabelecem excludentes dificuldades às demonstrações coletivas de cultura.
Diante desse cenário, sabe-se que o discurso de ódio voltado às minorias é obstáculo à preservação de hábitos culturais. Nesse sentido, no começo do século XX, a reforma urbanística da cidade do Rio de Janeiro estabeleceu a segregação social e, com isso, as manifestações culturais das populações periféricas – como a capoeira – foram marginalizadas e tratadas como crime de aversão à sociedade da época. No entanto, tal paradigma não é restrito à coletividade carioca do século XX, uma vez que, na contemporaneidade brasileira, as demonstrações folclóricas de diversas etnias, a exemplo das danças e canções oriundas das favelas, são vistas pelo corpo social como conteúdo pouco criativo e educativo, o que representa retrocesso e demonstra escassa – ou nenhuma – evolução desde a reforma arquitetônica do Rio de Janeiro.
Outrossim, o baixo fomento à educação cultural é obstáculo à preservação das artes folclóricas. A esse respeito, Edgar Morin, sociólogo francês, defendia a substituição da “educação tecnicista” – caracterizada pela especialização e fragmentação do conhecimento – por uma educação complexa, a qual abrange toda a diversidade e multiplicidade dos saberes. Todavia, no Brasil, o incentivo pedagógico às manifestações folclóricas é consoante à educação tecnicista e não, desejavelmente, à educação complexa de Morin, posto que as escolas brasileiras não reconhecem o papel educativo da cultura na formação intelectual dos estudantes, priorizando o ensino de conteúdos tradicionais em detrimento à preservação de atos culturais, como danças e canções. Dessa forma, é contraditório que, mesmo sendo nação multicultural, a educação nacional priorize o ensino tecnicista e pouco diversificado.
Impende, pois, que o respeito à cultura seja, de fato, estabelecido no Brasil. Desse modo, cabe ao Poder Executivo – instituição de alta relevância para o país - potencializar projetos sociais para a construção de centros culturais, por meio da cessão de capital público aos órgãos competentes, a fim de efetivar a preservação das manifestações folclóricas. Ademais, urge que o Ministério da Educação estabeleça disciplinas e conteúdos escolares facultativos para o estudo e aplicação das demonstrações culturais locais. A partir dessas medidas, a identidade cultural construída pelo folclore, conforme dito por Barbeau, será consolidada na cultura verde-amarela.