No clássico “ Sallambô “ a personagem do livro homônimo é impedida de prosseguir com seus questionamentos acerca da história do culto religioso à deusa Tanit em decorrência do seu gênero . Nesse sentido , a realidade nacional se aproxima do cenário narrado por Flaubert, na medida em que a consolidação de estereótipos de gênero ainda afeta as possibilidades investigativas da mulher e , como consequência , o seu protagonismo em áreas tal qual a ciência . Dessa forma , a inadequação metodológica das escolas e a omissão do governo possibilitam a permanência da dificuldade na promoção de caminhos eficazes para o combate à problemática .
Em primeira análise, entende-se que o ensino tecnicista dificulta a mobilização social em prol do maior reconhecimento de mulheres no campo científico. Nessa lógica , Hanna Arendt afirma que a modernidade permite o desenvolvimento de comportamentos de banalização do mal . Sob tal perspectiva , a inflexibilidade da matriz curricular nacional , que não abrange ,de forma prioritária ,discussões que visem elucidar temáticas sociais , contribui para a formação de cidadãos que vulgarizam mentalidades que reforçam estereótipos de gênero .Por conseguinte , ainda que algumas mulheres consigam ser inseridas no âmbito científico , elas podem ainda sofrer com questionamentos , por parte da porção masculina da equipe no ambiente de trabalho , da sua autoridade ou capacidade de ocupar o cargo .Desse modo , a carência de abordagem temática nas escolas favorece o não reconhecimento da mulher no meio científico .
Outrossim , a negligência governamental incentiva a dificuldade de equiparação da visibilidade entre homens e mulheres na ciência . Nesse âmbito , Friedrich Hegel atribui ao estado, diante da sua função primordial de zelar pelo bem estar de todos os seus cidadãos , um caráter baseado no ideal de infalibilidade , que não é reproduzido no contexto contemporâneo . Isso porque , embora existam diretrizes legais que respaldam a igualdade de gênero no território nacional , tais preceitos raramente são garantidos em função da negligência estatal na garantia do acesso igualitário à educação e meios de pesquisa . A partir disso , embora os indivíduos reconheçam a falta de protagonismo da mulher na ciência algo problemático , tal cenário permanece como realidade devido a significativa precariedade histórica no direcionamento de verbas para equipamentos de projetos científicos liderados por mulheres , quando comparados aos recursos destinados às mesmas necessidades aos profissionais e estudantes do gênero masculino . Dessa maneira , a displicência do governo contribui significativamente para a continuidade da falta de visibilidade de mulheres na ciência .
Portanto , é notório que a inflexibilidade da matriz escolar e a indiligência governamental tornam-se relevantes empecilhos na concretização de caminhos que garantam a visibilidade da figura feminina no âmbito científico . Logo , com o fito de mitigar a continuidade da consolidação de esteriótipos de gênero , as Escolas —as quais são responsáveis por grande parte da formação intelectual e moral do cidadão —devem , por meio da nova Base Nacional Comum Curricular , elucidar grandes conquistas femininas que foram negligenciadas durante a história . Além disso , com o afã de proporcionar oportunidades semelhantes à mulheres e homens na ciência , o Ministério da Ciência , tecnologia e inovações deve direcionar verbas , por intermédio de oferecimento de bolsas para pesquisa e investimento em estruturas como laboratórios equipados , de maneira equânime para estudantes do gênero masculino e feminino . Assim será possível distanciar o cenário nacional das condições de supressão do protagonismo da mulher em diferentes áreas, unicamente em função do seu gênero , como a de que Salammbô foi vítima.