capacitismo no brasil
o filme “hoje eu quero voltar sozinho” retrata a vida de leonardo, um adolescente cego que tenta lidar com a superproteção da sua mãe e uma série de preconceitos para conseguir sua independência e inclusão na sociedade. com efeito, semelhante à ficção, muitos deficientes brasileiros protagonizam esse mesmo drama, haja vista o problema do capacitismo. diante disso, é inegável que para combater esse cenário, é necessário descontruir a reprodução de estigmas e o consequente descaso estatal.
a princípio, é indispensável salientar que o capacitismo está intrinsecamente associado à perpetuação de preconceitos. conforme o antropólogo erving goffman,“o estigma é a situação do indivíduo que está inabilitado para a aceitação social plena”. nesse sentido, essa premissa defendida por goffman compactua com o cenário brasileiro contemporâneo, uma vez que a eugenia – supervalorização de características genéticas vistas como ideais para uma população e exclusão dos “indesejáveis” – ainda impera no imaginário social, segregando minorias, como as pessoas com deficiência (pcd)- cegos, surdos, cadeirantes e etc. isso favorece e respalda a errônea dicotomia entre indivíduos ditos “normais” e “anormais”, em que estes são subestimados pela sua capacidade e definidos pelas suas limitações, sendo invisibilizados e afastados do convívio social. assim, enquanto a deficiência for vista como uma anomalia a ser concertada, a inclusão será exceção.
como consequência dessa reprodução de opressões, observa-se a omissão governamental no combate ao capacitismo. a esse respeito o sociólogo z. bauman cunhou o termo instituição zumbi, expressão que se refere à incapacidade de algumas entidades em executar suas funções. sob tal ótica, essa inércia denunciada por bauman parece retratar de maneira acertada o comportamento do brasil, especialmente quando há pouco compromisso em desenvolver discussões acerca da implementação de políticas públicas de acessibilidade, ainda que a lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência assegure condições de igualdade, tornando o acesso à educação, à mobilidade urbana, à internet e ao mercado de trabalho privilégios - e não direitos. logo, não é razoável que o estado democrático direito se exima da sua responsabilidade e permaneça alheio a essa situação de subcidadania.
fica clara, portanto, a necessidade de ações que visem combater o capacitismo no brasil. para tanto, o poder público, em parceria com o ministério da mulher, da família e dos direitos humanos (mmfdh), deve desenvolver estratégias para garantir a inclusão plena das pcd na sociedade, por meio de discussões semanais acerca da implementação de políticas públicas de acessibilidade com vários especialistas da área, a exemplo da adaptação da estrutura e da logística das escolas e do mercado de trabalho, adequação dos transportes, das ruas e das avenidas às diferentes deficiências, apoio ao movimento “web para todos”, bem como a desconstrução de estigmas sociais a partir da divulgação dessas intervenções em plataformas digitais. essa iniciativa poderia se chamar “visibilidade presente” e teria a finalidade de combater a visão eugênica e garantir a igualdade. apenas assim, a situação de leonardo deixará de ser um retrato fiel da realidade nacional.