No ano de 1909, surgia um movimento literário e artístico intitulado de futurismo, no qual apresentava um olhar otimista frente às inovações tecnológicas da época, tendo como destaque a velocidade dos automóveis. No entanto, no contexto do Brasil hodierno, tais invenções têm ocasionado transtornos nas cidades, em especial, ao desenvolvimento de uma mobilidade urbana sustentável. Nesse sentido, tal problemática tem suas raízes no modelo econômico vigente e no descaso governamental.
Em primeiro plano, ressalva-se a perspectiva capitalista de consumo como fomento à desarmonia com sustentabilidade dos trânsitos urbanos. Isto é, sob a luz do modelo neoliberal atual, adquirir um automóvel denota a conquista de um "status quo", fantasiado por uma errônea sensação de felicidade. Diante disso, o sociólogo Karl Marx conceitua essa tática do sistema capitalista com o termo "Fetichismo de Mercadoria", no qual é atribuído desejos e aspectos subjetivos aos bens materiais para estimular o seu consumo. Por conseguinte, os indivíduos são induzidos a comprar compulsivamente automóveis e, logo, tornando a fluidez urbana congestionada e o ambiente mais exposto a poluentes. Em segundo plano, cabe salientar a ineficiência do Estado em incentivos para a consolidação de um maleabilidade nas cidades em equilíbrio com o meio ambiente. Nesse viés, a Constituição Federal de 1988 garante, no Artigo 225, o direito de um ambiente equilibrado e compete ao governo assegurá-lo. Todavia, esse ideial federativo se demonstra distante de ser concretizado, uma vez que pautas de práticas respeitosas aos eixos ambientais, sociais e econômicos na transitividade das cidades não são tidas como prioridade. Prova dessa panorama pode ser evidenciado no agravamento do efeito estufa, posto o aumento da emissão de gases poluentes na queima de combustível pela elevação da circulação de automóveis. Portanto, para mitigar a problemática urbana supracitado, urge que o Governo Federal, na figura da Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento, amplie o número de faixas para transportes alternativos "mais limpos" - como bicicletas e patinetes elétricos. Para tanto, faz-se necessário o intermédio de uma reformulação das diretrizes do desenvolvimento regional e urbano em consonância com os eixos da sustentabilidade. Assim, por meio dessas ações, os anseios despertados na vanguarda do futurismo poderão ressurgir no corpo social.