A obra “Utopia” – escrita pelo filósofo inglês Thomas More - retrata uma sociedade perfeita, na qual o corpo social se padroniza pela ausência de conflitos e problemas. No entanto, o que se observa na realidade contemporânea é o oposto do que o autor prega, uma vez que o analfabetismo digital se exterioriza como uma barreira, dificultando, assim, a concretização dos planos de More. Esse cenário antagônico é fruto tanto da postura estatal, quanto do analfabetismo funcional. Diante disso, torna-se fundamental a discussão desses aspectos, a fim do pleno funcionamento da sociedade.
Precipuamente, é fulcral pontuar a ausência de medidas governamentais para combater a falta de domínio sobre a Internet. Nesse sentido, de acordo dados do IBGE, mais de 170 milhões de brasileiros não possuem acesso à internet. Essa conjuntura, segundo as ideias do contratualista John Locke, configura-se como uma violação do “contrato social”, já que o Estado não cumpre sua função de garantir que os cidadãos desfrutem de direitos indispensáveis, como a educação digital, o que, infelizmente, é evidente no país.
Ademais, é imperativo ressaltar o analfabetismo funcional como promotor do problema. Partindo desse pressuposto, embora o nível de escolaridade no país passe dos 93%, mais de 11 milhões de indivíduos não possuem a capacidade de ler e compreender textos. Nesse viés, o analfabetismo funcional e a falta de conhecimento sobre o mundo digital facilitam os crimes e abusos virtuais, que são cada vez mais uma realidade no país. Desse modo, não há como alcançar a Utopia, de More, sem a educação adequada nas redes.
É necessário, portanto, que medidas sejam tomadas para diminuir o índice de analfabetismo digital no país. Para isso, as escolas, em parceria com o Ministério da Educação, por intermédio de palestras e eventos lúdicos, devem ensinar como navegar nas redes de forma segura – esse projeto poderá se chamar "Educação tecnológica" e será disponibilizado a todos – a fim de diminuir o número de analfabetos digitais. Além disso, o Ministério da Economia deve criar um projeto de Lei, entregue à Câmara de Deputados, para aumentar os investimentos na educação básica e, com sorte, consolidar-se-á uma sociedade mais igualitária e justa, na qual o Estado desempenhe corretamente seu “contrato social”, bem como afirma o pai do liberalismo.