Na Grécia Antiga, os anciões - experientes idosos que exerciam importante função na administração da Ágora - conciliavam o exercício político com a prática de exercícios físicos; atividade muito valorizada e apreciada pelos gregos, que destacavam seus benefícios para a manutenção de um corpo e de uma mente ativa. Distante desse cenário, a importância da realização de atividades físicas por parte da população senil não é ressaltada em território nacional, ignorando-se suas expressivas contribuições para essa parcela da sociedade. Nesse contexto, cabe destacar a ausência de infraestrutura acessível e a escassez de campanhas informacionais como propulsores para a problemática.
É possível afirmar, de início, que a escassa infraestrutura pública para a realização de atividade física contribui para a existência de sedentarismo entre idosos. De acordo com John Locke, o Estado, em respeito ao contrato social previamente firmado com os indivíduos de seu território, deveria garantir o bem-estar de sua população. No entanto, o atual desamparo enfrentado pela população idosa - desprovida de espaços próprios ao condicionamento físico - demonstra um descumprimento do compromisso estabelecido. Com efeito, a insuficiente disponibilização de equipamentos e espaços públicos adequados para a execução de exercícios físicos contraria o pensamento do filósofo iluminista inglês, haja vista que priva tal parcela da população de um lazer que deveria ser acessível. Consequência disso é a permanência de um cenário de sedentarismo entre os idosos brasileiros, condição responsável por promover doenças e diminuir a expectativa de vida.
Nota-se, ademais, que a inexistência de campanhas de incentivo e de conscientização a respeito da prática de atividades físicas e de seus benefícios para o público idoso contribui para a contínua negligência dessa ação no meio senil. De acordo com o filósofo Ludwig Wittgenstein, a comunicação tem o poder de ampliar os limites do mundo de um indivíduo. Dessa forma, caso a população idosa obtivesse estímulos e explicações, em linguagem acessível, sobre a importância e as contribuições das atividades físicas para sua qualidade de vida - tais como a diminuição do risco de doenças cardiovasculares e melhora nas taxas de colesterol sanguíneo -; tal parcela da sociedade, devido aos conhecimentos obtidos a respeito do assunto, seria induzida a se exercitar com mais frequência. No entanto, a falta de significativas campanhas governamentais que possam informar e convencer os idosos vai de encontro ao pensamento do teórico austríaco.
Depreende-se, portanto, que as deficiências ligadas à infraestrutura e à informação contribuem para a existência de um cenário de baixa valorização das atividades físicas e desconhecimento de suas vantagens por parte da terceira idade brasileira. Diante disso, urge que o Ministério do Desenvolvimento Regional - responsável pelo planejamento e melhoramento territorial urbano dos municípios -, mediante disponibilização de verba para prefeituras e subprefeituras, promova a criação de áreas públicas para a realização de exercícios físicos e a compra de equipamentos que auxiliem nessa atividade, a fim de que os idosos brasileiros tenham espaço e infraestrutura adequada para se exercitarem e promoverem melhorias em suas condições de saúde. Além disso, cabe ao Ministério da Saúde promover campanhas à população idosa de estímulo a práticas esportivas e de conscientização a respeito dos consequentes benefícios obtidos com essas ações. Espera-se, com isso, que o contrato social, descrito por John Locke, seja cumprido em território nacional.